sábado, 27 de janeiro de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XCII - É A ALES

Jon Fosse

 Jon Fosse (1959 - ) é um renomado autor norueguês, conhecido por suas obras teatrais e literárias, muitas vezes explorando temas existenciais e psicológicos. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2023, Jon Fosse, conseguiu como poucos criar uma forma literária própria.

Neste livro chamado "É a Ales" o texto é único sem pontuação (pontos), apenas algumas vírgulas, o que torna a leitura bem diferente das frases normais. É bem divertido!!! É bem desafiador, também!!!

O livro retrata a história de um homem, Asle, que sai com um barco pelos Fiordes Noruegueses, para nunca mais voltar e de uma mulher, Signe, que permanece à sua espera. Além disso relata marcas indeléveis que unem cinco gerações de uma família.


Numa quinta-feira, de março de 2002, Signe está deitada em um banco de sua casa e tem uma visão de si mesma há mais de vinte anos: parada na janela, esperando por seu marido Asle, no fatídico dia no fim de novembro de 1979, quando ele saiu em um barco e nunca mais foi encontrado.

A trama se amplia para incluir até os laços familiares que remontam à trisavó de Asle, Ales.

Com uma prosa hipnótica (frases sem ponto final) e alucinante, o autor constrói um mundo em que todos esses momentos das gerações habitam o mesmo espaço, pois moravam na mesma casa.

As vozes e as narrativas de Jon Fosse, entre as várias gerações se interrompem e interferem umas nas outras. Impressionante!!!!

É uma leitura distinta e diferenciada daquilo que estamos acostumados a ler.

"É a Ales" é uma obra-prima visionária. É comovente ver a espera de Signe, pelo marido que nunca volta.

Além disso a nossa relação com o passado que é inescapável. Ainda mais quando várias gerações habitaram a mesma casa.

Fiorde Norueguês

Toda a história se passa num vilarejo próximo a um Fiorde. O autor consegue remeter o leitor, através da imaginação, das belas paisagens dos Fiordes.

Enfim, é um livro profundo que nos remete a pensar em nossos antepassados, nos remete a pensar no amor, nos remete a pensar na ausência de alguém querido, nos remete a pensar na noção de tempo e outras tantas reflexões.

Um escritor/autor, como Jon Fosse, que ganha um Nobel de Literatura, não é por acaso.

Particularmente esta obra é simplesmente genial. A leitura de "É a Ales" é uma experiência extraordinária.

PS: Não posso deixar de mencionar minha querida sobrinha Carolina Cervo pelo (segundo) presente de Natal/2023. É sua marca registrada me presentear com livros (sempre fantásticos).

Professor Mario Mello



segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XCI - O JARDIM SECRETO

 Começo meu texto com uma obviedade:

"Um clássico é um clássico"

O Jardim Secreto, escrito em 1911, pela escritora inglesa Frances Hodgson Burnett (1849-1924), é daqueles livros imperdíveis. De leitura fácil e singela, o Jardim Secreto, deixa muitas mensagens para reflexão.

Atravessou décadas e décadas chamando atenção dos leitores pela seu encanto de uma história doce e delicada, sobre o poder transformador da magia, da natureza e da amizade.

A história começa na India onde a protagonista uma menina de apenas 10 anos, Mary Lennox, perde a mãe e o pai, num surto de cólera. Mary não sente a morte dos pais, pois eles sempre delegaram a criação dela aos empregados/criados da casa. Por isso, Mary era uma menina malcriada, rabugenta, desaforada, mandona e tinha o apelido de "Mary do Contra". A menina era magra, feia, quase raquítica.

Seu único parente é um tio milionário e misterioso que mora em um castelo de 100 cômodos em Yorkshire, no interior da Inglaterra. Mary é, então, enviada para morar com seu tio, Archibald Craven, que designa a Sra. Medlock para vigiar a menina.

O tio de Mary havia perdido a esposa hà dez anos. Desde então se tornou uma pessoa amarga e difícil de conviver. Passava maior parte do tempo viajando, sem estar no castelo. A tia de Mary, que morreu, era uma pessoa querida por todos  e tinha um jardim onde ela cultivava suas e flores e arbustos. Desde a sua morte o tio de Mary, proibiu a todos que entrassem no jardim, cuja porta foi trancada e a chave enterrada. Quando Mary soube da história, ficou enlouquecida para descobrir onde era o jardim. Daí o nome de Jardim Secreto.

Pois bem, aí começa o protagonismo de Mary, fazendo outras descobertas no castelo de 100 cômodos, enlouquecendo a Sra. Medlock. A partir de um curto espaço de tempo, Mary descobre outro personagem no castelo (não vou contar quem é para não estragar a leitura) e a história toma outro rumo, com Mary dividindo o protagonismo da história com ele.

Há tantas passagens lindas na história, onde a natureza tem papel destacado, mostrando a magia que ela (natureza) proporciona para as pessoas. As histórias mais mágicas são capazes de atravessas as barreiras do tempo, pois transmitem lições de vida, independente de sua época. O Jardim Secreto tem mais de 110 anos e continua encantado leitores de várias gerações. 

O poder de transformação que uma criança de 10 anos proporcionou em várias pessoas, é comovente. Lindo!!!!

O livro aborda temas como a importância da natureza, a cura através do contato com o mundo ao ar livre, e a transformação pessoal através da amizade. Além disso, explora a ideia de que, ao cultivar e nutrir algo, seja um jardim ou uma amizade, as pessoas podem encontrar cura e felicidade.

A narrativa encantadora e as lições atemporais sobre crescimento, amizade a a importância do meio ambiente, garantem que o livro permaneça cativante e relevante, para leitores de todas as idades.

Por fim, não poderia deixar de falar da belíssima edição da Darkside. É uma edição linda com várias ilustrações, as folhas com a borda verde, a capa especial, ou seja, é mais prazeroso ainda, ler uma bela história em um livro bonito. Um show!!!!

Vale muito a leitura do Jardim Secreto.

Finalizo dizendo: "Um clássico é um clássico".

Professor Mario Mello 


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XC - AS CIDADES INVISÍVEIS

 Italo Calvino (1923-1985), cubano de nascimento mas italiano de criação, pois foi à Itália com poucos dias de vida, consegue magistralmente escrever um livro, tal qual seu título. Sou muito fã do Italo Calvino. Quem acompanha o Blog encontrará textos sobre outros livros dele: O cavaleiro inexistente; O Barão nas árvores; O Visconde partido ao meio.

Italo Calvino

O livro trata de parte da vida de Marco Polo, o famoso viajante veneziano, que descreve para Kublai Kahn (1215-1294), a quem serviu durante muitos anos, as incontáveis cidades do imenso império do conquistador Mongol. O Império Mongol foi de 1260 a 1294.

É impressionante como a cada página, a cada nova cidade elas parecem invisíveis. Assim que Kublai Kahn percebia.

Quem conhece o livro As mil e uma noites, deve
lembrar que a protagonista Scherazade contava, todas as noites, uma história diferente ao Sultão. Isso foi por mil e uma noites de histórias magníficas que encantavam o Sultão.


Assim, Marco Polo, a cada viagem que fazia, em seu retorno, contava para Kublai Kahn o que encontrara em cada cidade. Por exemplo, em Eudóxia, com vielas tortuosas, escadas, becos, casebres, conserva-se um tapete no qual se pode contemplar a verdadeira forma da cidade. Muitos profetas, tinham certeza que o harmônico desenho do tapete era de feitura divina.

Outra cidade chamada Armila era feia, demolida, inacabada. Não havia paredes, telhados nem pavimentos. Diz a lenda que existia um feitiço para que ela fosse assim.

E assim, a cada viagem, Marco Polo trazia esses relatos ao Kahn. Lendo esses pequenos trechos não parece mesmo Cidades Invisíveis?

Pois é assim durante todo o livro. As cidades são complexas, cada uma com uma abordagem e características diferentes. É uma tensão entre a racionalidade geométrica e o emaranhado das existências humanas.

A leitura do livro é muito divertida, mas o autor alerta: "é preciso, para o maior prazer da leitura, que não se deve devorar As cidades Invisíveis, com a avidez de querer saber o que vai acontecer depois, mas saborear lentamente cada texto em si mesmo."

Desta forma, nenhum spoiler para o final do livro, apenas "saboreie" as histórias das cidades invisíveis. 

Para mim, foram invisíveis até serem descritas por Marco Polo, pois a partir daí a imaginação ganha força e parece que se tornam visíveis pelas magníficas descrições.

É o primeiro livro que leio em 2024, presente de Natal/23 da minha querida sobrinha Carolina Cervo. 😍

Boa leitura!!!

Professor Mario Mello