sábado, 2 de abril de 2022

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXV - CONTOS DE SEBASTOPOL

 Nesta data que escrevo este post (02/04/22) a guerra entre Rússia e Ucrânia está no 36* dia. Lembrando: a Rússia está invadindo a Ucrânia.

É lamentável que depois de tantas experiências desastrosas com guerras, ainda existam dirigentes que a praticam. É impensável sair matando pessoas em nome de "recuperar" um território ou coisa que o valha. O presidente da Rússia um autocrata cruel parece não ter limites. Em 2014 anexou a Crimeia à Rússia e agora busca desesperadamente o domínio na Ucrânia.

Mas, a escrita de hoje é sobre o livro "Contos de Sebastopol" escrito por Liev Tolstói em 1855. A história é escrita por Tolstói durante a invasão francesa na cidade de Sebastopol, na Crimeia.

Sebastopol é uma cidade estratégica às margens do Mar Negro e que sempre despertou uma cobiça para seu domínio. Foi cidade autônoma dentro da Crimeia, foi dominada pelos franceses, foi da antiga Rússia (dentro da União Soviética), enfim, tem muita história.

Tolstói serviu como Segundo Tenente num regimento de artilharia durante a guerra da Crimeia (1854-1855) e escreveu algumas partes do livro, na própria guerra. 

São vários episódios contados com minúcias, ocorridos durante o cerco de Sebastopol, ao mesmo tempo em que tece uma crítica contundente aos horrores da guerra.

Tolstói como era uma exímio conhecedor da alma humana, relata com detalhes as reações dos soldados e oficias, diante das atrocidades vivenciadas durante a guerra. Escreveu Tolstói: "Uma vez tendo penetrado na alma, o medo não cede lugar tão cedo a outro sentimento."

A profundidade psicológica que Tolstói alcança em suas narrativas vivenciadas constitui algo de extraordinário e épico.

Os horrores vivenciados pelo povo de Sebastopol trazem aspectos trágicos e a obstinação que o povo russo enfrenta, porém não deixa de exaltar a dignidade de sues soldados e marinheiros.

Assim relatou Tolstói em um trecho do livro: 

O jovem Tolstói em 1854
"Se você tem nervos fortes, atravesse a porta. É naquele cômodo que se fazem os curativos e as operações. Você verá os médicos com os braços ensanguentados até os cotovelos, as fisionomias pálidas e sombrias, debruçado sobre uma máquina, onde com os olhos abertos e falando como em delírio palavras sem sentido, as vezes simples e tocantes, está estendido um ferido sob o efeito de clorofórmio."

"Verá espetáculos terríveis que lhe revolverão a alma. Verá a guerra não pela sua aparência regular, sedutora e brilhante, acompanhado por músicas e tambores, com bandeiras desfraldadas e generais que corcoveiam com seus cavalos, mas sim a guerra em sua verdadeira expressão em sangue em sofrimento e em morte."

Esses são alguns dos horrores da guerra.

Enfim, é um livro que ao mesmo tempo que é extraordinário pelos relatos reais, é revoltante pela insanidade humana da guerra.

Para finalizar, a frase mais impressionante e genial de Tolstói que servirá para sempre:

"A questão não decidida pelos diplomatas, decide-se menos ainda pela pólvora e pelo sangue."

Professor Mario Mello