sábado, 9 de março de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XCV - O JOVEM

 "Ao lado dele, minha memória parecia infinita. Essa espessura de tempo que nos separava era de uma grande delicadeza e dava mais intensidade ao presente."

Esse é o segundo livro de Annie Ernaux (1940 - ) que leio em poucos dias. Fiquei muito curioso com os livros de Annie, pois não é sem mérito que alguém ganha o Prêmio Nobel de Literatura, como Annie ganhou em 2022.

"O Jovem", escrito entre 1998 e 2000, publicado em 2022, reflete bem o traço característico de Annie que é dizer muito com poucas palavras. 

O livro conta o relacionamento que teve aos 54 anos com um estudante 30 anos mais novo.

Como diz Annie no livro: era um relacionamento de conveniência. O rapaz não gostava de trabalhar, em troca lhe dava prazer e possibilidade de viver experiências que nunca imaginaria repetir.

Estão presentes no livro, reflexões sobre o desejo feminino, o relacionamento entre pessoas de classes sociais diversas, a memória, o preconceito de algumas pessoas sobre o casal de idades bem diferentes e principalmente a passagem do tempo.


Annie Ernaux utiliza uma narrativa não linear, alternando entre lembranças e reflexões do presente, para reconstruir sua jornada como jovem mulher na França dos anos 1950 e 1960. 

Ela examina não apenas suas próprias experiências, mas também a sociedade e cultura da época, oferecendo uma perspectiva única sobre a juventude francesa daquele período.

Um dos aspectos mais marcantes do livro é a habilidade de Ernaux em capturar a essência da juventude, com suas ansiedades, paixões e sonhos. Ela aborda questões universais, como a busca pela identidade e o confronto com as expectativas sociais, de uma maneira que ressoa com leitores de diferentes origens e gerações.

O livro ainda traz na contracapa, manuscritos que dão mais uma característica ímpar ao exemplar lançado, aqui no Brasil, pela Editora Fósforo.

No geral, "O Jovem" é uma obra profundamente pessoal e universal ao mesmo tempo, que convida o leitor a refletir sobre sua própria juventude e os desafios que enfrentou ao longo do caminho.

Enfim, é uma "jóia".

Boa leitura!

Professor Mario Mello


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Outro livro da mesma autora chamado: O acontecimento

sexta-feira, 8 de março de 2024

O LIVRO SUA MEJESTADE XCIV - O LUGAR



"O Lugar" é um livro escrito pela francesa Annie Ernaux (1940 - ) que a alçou a uma das mais importantes escritoras vivas da França.

Vencedor do Prêmio Renaudor em 1984, o livro se debruça sobre a vida do próprio pai, para investigar relações familiares e de classe.

Annie Ernaux foi ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2022, pelo conjunto de sua obra.

Annie Ernaux - fonte: Google
Annie é uma das pioneiras do estilo autoficção, pois costuma escrever histórias autobiográficas, que fazem uma reflexão sobre os contextos sociais que ela viveu.

"O Lugar" é um livro de menos de 70 páginas, mas muito intenso e tenso. Ela conta a história de vida regida pela necessidade e não sob o ponto de vista artístico.

A história começa a poucos meses do século 20, em um vilarejo na região de Pays de Caux, interior da França.

O pai de Annie pertence a um mundo no qual o trabalho físico estabelece o valor das coisas, onde o afeto e a intelectualidade têm pouco espaço.

Trabalhando desde criança, depois em uma fábrica até montar seu próprio negócio um café mercearia, o pai sempre foi um homem rude, porém dedicado à família. Annie, por sua vez, foi crescendo e sonhando em ser professora. Isso foi afastando ela intelectualmente de seu pai.

O livro "O Lugar" é amplamente elogiado pela crítica e pelos leitores por sua narrativa envolvente e íntima. Annie Ernaux é conhecida por sua habilidade em explorar temas familiares e relacionamentos pessoais de uma maneira profunda e sensível. "O Lugar" não é exceção, oferecendo uma reflexão comovente sobre a influência do afeto paternal na vida da protagonista. A obra é elogiada por sua escrita delicada e pela capacidade de capturar as complexidades das relações familiares e as nuances da experiência humana.

Enfim, "O Lugar", para quem ainda nào leu nenhuma obra de Annie é um excelente começo para conhecer esta maneira única de escrever. Ela está sempre dentro da obra. Ela está presente do início ao fim.
Annie tem muita coagem em escrever desta forma, pois não abre espaço para sentimentalismo, no abismo que se formou entre ela e o pai, porém sem nunca ter sido dito nem por um, nem pelo outro.

É um livro fascinante!!!

Boa leitura.

Professor Mario Mello

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segunda-feira, 4 de março de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XCIII - ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

 Impactado!

É esse o adjetivo que começo o post, para descrever como me senti ao ler o livro.

É um livro intrigante e poderoso!

Após mergulhar nas páginas de "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago (1922-2010), me vi profundamente envolvido em um mundo de reflexões perturbadoras e inquietantes.

José Saramago

A narrativa visceral e a escrita magistral do autor levam a uma jornada emocional intensa, na qual se confrontou com a fragilidade da condição humana e a escuridão que pode residir dentro de cada um de nós.

Cada palavra pareceu ecoar como um grito de alerta para a complexidade das relações sociais, a falta de empatia e as consequências devastadoras da negação da humanidade. A experiência da leitura foi tão marcante que deixou reflexões profundas sobre a natureza da existência e o valor da compaixão.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998, Saramago é considerado a maior expressão da literatura portuguesa contemporânea.

"Ensaio sobre a Cegueira" é um livro tão impactante por vários motivos, mas também, como disse Saramago quando ainda escrevia o livro: "decidi que não haverá nomes próprios no Ensaio, ninguém se chamará Antonio ou Maria, Laura ou Francisco, Joaquim ou Joaquina. Estou consciente da enorme dificuldade que será conduzir uma narração sem a habitual, e até certo ponto inevitável, muleta dos nomes, mas justamente o que não quero e ter de levar pelas mãos estas sombras a que chamamos personagens, inventar-lhes vidas e preparar-lhes destinos."
Essa edição mantém a grafia vigente em Portugal


E assim foi. Os protagonistas do livro são: o médico, a mulher do médico, o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, a rapariga dos óculos escuros, o rapazinho estrábico e o velho da venda preta.

A história começa quando um homem a dirigir seu veículo e parado em um semáforo, perde completamente a visão. Vai consultar com o médico oftalmologista que horas depois também perde a visão. A partir daí desencadeia uma onda de cegueira por toda a cidade.

Esses cegos são colocados, pelo governo, em um manicômio abandonado, para proteger a população da contaminação. Vigiados à mão forte, não podendo sob hipótese nenhuma sair dali e, cada vez chegando mais e mais cegos, tornando o ambiente um caos.
Sem nenhuma ajuda de outras pessoas, sem condições mínimas de higiene, com um mínimo de comida, a condição humana chega a um nível de degradação descomunal.
Com a chegada de mais cegos, uma gang do mal se instala no manicômio e só faz o tormento e a degradação humana aumentar.

A cegueira branca como é contada no livro, devora, mais do que absorve, não só as cores, mas as próprias coisas e seres.

Enfim, o livro é uma imensidão de sentimentos profundos, que nos leva a refletir, neste momento, que grande parte do mundo se assombra e se cega.

Diz Saramago: "mas já estamos todos cegos".

Boa leitura!

Professor Mario Mello


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