segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXVII - MEDO IMORTAL

 Já escrevi isto em outros posts mas, nunca é demais repetir. O conteúdo de uma obra, claro, sempre é o mais importante. 

Mas, uma edição bonita, com capa dura, com ilustrações "iradas", com as folhas douradas, enfim, com várias valências que valorizam a obra em si é muito legal. 




É o caso desta edição de "Medo Imortal - Mestres Brasileiros da Literatura" da editora Darkside. Aliás, esta editora tem obras maravilhosas com conteúdo e forma, muito aprazíveis aos amantes da leitura.

O livro traz contos de consagrados autores brasileiros como: Machado de Assis, Alvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Fagundes Varela, Coelho Neto, Aluizio Azevedo, Afonso Celso, Inglês de Souza, Afonso Arinos, João do Rio Humberto de Campos e Julia Lopes de Almeida. 



O horror como a fantasia e a ficção científica era quase que um produto exclusivo de obras estrangeiras. 

Esta coletânea, cuja editora também intitula de Academia Sobrenatural Brasileira de Letras, traz histórias literárias dignas dos grandes sucessos internacionais. Basta ver a relação dos nossos autores presentes nesta magnifica obra.

Mas, enfim, os textos são a razão desta incrível coletânea chamada Medo Imortal. São 35 textos de histórias hilárias misturadas com um certo terror.

O livro começa com aquele que não foi só um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, como também ainda hoje é considerado o maior e mais universal de nossos escritores: Machado de Assis (1839-1908).

Um dos contos escritos por Machado de Assis é "A Igreja do Diabo". A história conta o dia que o Diabo resolveu fundar uma igreja. Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões e destruí-las de uma vez. Em confronto com Deus, o Diabo não entende muitas coisas extraordinárias que acontecem e.... bem, não vou contar o final, mas posso dizer que é autêntico. 

Outro autor que faz parte da coletânea é Coelho Neto (1864-1934). O conto "A Sombra" foi o mais genial que eu achei neste livro. É a história de um médico, pesquisador e dono de um laboratório que enlouquecido de ciúmes de sua mulher, injetava nela bacilos de tuberculose, vírus e outros germes letais, com o objetivo de mata-la. Porém quem via a vítima (sem saber do que estava ocorrendo) apregoavam o reviçamento dela. Cada vez mais robusta, aspecto magnífico, higidez absoluta. O marido assustado, aumentava as doses de bactérias e outros contaminantes. Bem, claro que não vou contar o final, também, mas digo que é assombroso. 


Mais um autor que faz parte da coletânea é João do Rio (1881-1921). João do Rio é um dos vários pseudônimos que João Paulo Emilio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto usou para escrever seus contos. Ele teve uma vivência tão íntima e intensa com sua cidade, o Rio de Janeiro, que ficou imortalizado como o João do Rio. Mulato, gordo e gay, João do Rio teve dificuldades para ser aceito na Academia Brasileira de Letras. Ficou poucos anos, pois quando seu desafeto Humberto de Campos foi eleito, fez com que João do Rio se desligasse de vez da academia.

Na coletânea aparece o conto "A Peste". Muita semelhança com o que aconteceu/acontece hoje com o "covid". O protagonista Francisco estava apavorado com o crescente aumento dos casos de varíola, que ele chamava de vermelha. Um dia Francisco indo por uma rua de subúrbio, encontrou com gritos e imprecações um bando de gente que arrastava ao sol um caixão. Era uma pobre família levando à igreja o cadáver de uma criança. Estamos perdidos, disse Francisco. Estamos no ponto terminal.

É o diabo. A epidemia tem impedido vários prazeres. Francisco ficando cada vez mais assustado com a quantidade de vítimas próximas. Terror!!! Bem, como escrevi antes, não vou contar o final, mas posso dizer: é pavoroso.


Enfim, este é o "Medo Imortal".

Além desses exemplos que aqui escrevi, existem outros contos excelentes.

É uma obra que vale a pena ler e ter em casa pela sua beleza. 

Professor Mario Mello


domingo, 13 de novembro de 2022

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXVI - A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE

 Esse livro, além de espetacular, chama atenção para um grave problema que assola muita gente: o suicídio.

Você imaginou entrar em uma biblioteca que só tenha livros da sua vida?

Os livros dos arrependimentos?

O autor americano, Matt Haig, faz logo uma pergunta: o que faz a vida valer a pena? 

A protagonista, Nora Seed, 35 anos, é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Assim, vendo pouco sentido em sua existência, ela coleciona tristezas e arrependimentos.
Alguns momentos antes de decidir morrer, Nora pegou uma caneta e papel e escreveu uma mensagem:
"A quem interessar possa. Eu tive todas as chances de fazer algo de minha vida, e desperdicei cada uma delas. Por um descuido meu e para meu azar, o mundo se afastou de mim e então agora faz todo sentido que eu me afaste dele..."
E, a partir daqui começa um história cheia de surpresas e de possibilidades.
Nora foi parar na Biblioteca da Meia-Noite.
Entre a vida e a morte há uma biblioteca. E, dentro dessa biblioteca, as prateleiras não tem fim.
Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que você poderia ter vivido. De ver como as coisas seriam se tivesse feito outras escolhas. Você teria feito algo diferente se houvesse a chance de desfazer tudo tem que se arrepende?
Cada vida contem muitos milhões de decisões. 
Algumas grandes, algumas pequenas. Mas cada vez que uma decisão é tomada em detrimento de outra, os resultados são diferentes. 
Ocorre uma variação irreversível, o que por sua vez, leva a outras variações. 
Esses livros são portais para todas as vidas que você poderia estar vivendo.
A bibliotecária Sra. Elm é uma velha conhecida de Nora, pois era a bibliotecária do colégio que Nora estudou.
A Sra. Elm diz a Nora as regras da biblioteca. Ela pode escolher qualquer livro, todos verdes, que terá nele um arrependimento de Nora e ela então poderá viver aquela vida que não viveu.
Nora então, experimenta ir viver na Austrália, experimenta viver uma amor com alguém que sonhava em ter um Pub no interior da Inglaterra, experimenta viver como artista de uma banda de rock, experimenta casar com um antigo amor da escola, entre outras vidas "arrependidas" que não viveu. 
Um trecho da conversa de Nora com a Sra. Elm

Em nenhuma dessas vidas ficou feliz.
Até um dia que Nora disse para a Sra. Elm: "Eu quero que isso pare. Eu quero cancelar minha inscrição na biblioteca. Eu não gosto disso."
A Sra. Elm não concordou e lá foi Nora escolher um novo livro. 
Nora olhou ao longo das estantes. Se pelo menos tivessem títulos mais específicos. Se pelo menos existisse um chamado "Vida Perfeita". Mas não existia esse.
Enfim, Nora viveu tantas experiências que havia deixado para trás ao longo de sua vida frustrada, até que chegou ao fim. Viu a biblioteca sucumbir, pegando fogo.
E aí vem o final surpreendente do livro.
Obviamente que não vou contar aqui neste post, mas posso garantir que é..... não sei dizer. Quem está lendo este texto terá que ler o livro para saber.
Posso dizer, sim, vale a pena a leitura.

Professor Mario Mello


sábado, 2 de abril de 2022

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXV - CONTOS DE SEBASTOPOL

 Nesta data que escrevo este post (02/04/22) a guerra entre Rússia e Ucrânia está no 36* dia. Lembrando: a Rússia está invadindo a Ucrânia.

É lamentável que depois de tantas experiências desastrosas com guerras, ainda existam dirigentes que a praticam. É impensável sair matando pessoas em nome de "recuperar" um território ou coisa que o valha. O presidente da Rússia um autocrata cruel parece não ter limites. Em 2014 anexou a Crimeia à Rússia e agora busca desesperadamente o domínio na Ucrânia.

Mas, a escrita de hoje é sobre o livro "Contos de Sebastopol" escrito por Liev Tolstói em 1855. A história é escrita por Tolstói durante a invasão francesa na cidade de Sebastopol, na Crimeia.

Sebastopol é uma cidade estratégica às margens do Mar Negro e que sempre despertou uma cobiça para seu domínio. Foi cidade autônoma dentro da Crimeia, foi dominada pelos franceses, foi da antiga Rússia (dentro da União Soviética), enfim, tem muita história.

Tolstói serviu como Segundo Tenente num regimento de artilharia durante a guerra da Crimeia (1854-1855) e escreveu algumas partes do livro, na própria guerra. 

São vários episódios contados com minúcias, ocorridos durante o cerco de Sebastopol, ao mesmo tempo em que tece uma crítica contundente aos horrores da guerra.

Tolstói como era uma exímio conhecedor da alma humana, relata com detalhes as reações dos soldados e oficias, diante das atrocidades vivenciadas durante a guerra. Escreveu Tolstói: "Uma vez tendo penetrado na alma, o medo não cede lugar tão cedo a outro sentimento."

A profundidade psicológica que Tolstói alcança em suas narrativas vivenciadas constitui algo de extraordinário e épico.

Os horrores vivenciados pelo povo de Sebastopol trazem aspectos trágicos e a obstinação que o povo russo enfrenta, porém não deixa de exaltar a dignidade de sues soldados e marinheiros.

Assim relatou Tolstói em um trecho do livro: 

O jovem Tolstói em 1854
"Se você tem nervos fortes, atravesse a porta. É naquele cômodo que se fazem os curativos e as operações. Você verá os médicos com os braços ensanguentados até os cotovelos, as fisionomias pálidas e sombrias, debruçado sobre uma máquina, onde com os olhos abertos e falando como em delírio palavras sem sentido, as vezes simples e tocantes, está estendido um ferido sob o efeito de clorofórmio."

"Verá espetáculos terríveis que lhe revolverão a alma. Verá a guerra não pela sua aparência regular, sedutora e brilhante, acompanhado por músicas e tambores, com bandeiras desfraldadas e generais que corcoveiam com seus cavalos, mas sim a guerra em sua verdadeira expressão em sangue em sofrimento e em morte."

Esses são alguns dos horrores da guerra.

Enfim, é um livro que ao mesmo tempo que é extraordinário pelos relatos reais, é revoltante pela insanidade humana da guerra.

Para finalizar, a frase mais impressionante e genial de Tolstói que servirá para sempre:

"A questão não decidida pelos diplomatas, decide-se menos ainda pela pólvora e pelo sangue."

Professor Mario Mello

domingo, 20 de fevereiro de 2022

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXIV - O MESTRE E MARGARIDA

Você já imaginou o diabo chegar na sua cidade?

E mais: disfarçado de professor? 

Então, é isso que acontece no livro "O mestre e Margarida", quando o diabo chega em Moscou na década de 1920.

Um dos maiores clássicos da literatura russa e mundial, "O mestre e Margarida" de Mikhail Bulgákov, o romance revolucionário começou a ser escrito em 1928 e só foi completado em 1940, algumas semanas antes da morte de Bulgákov.

Bulgáckov, através de suas obras, tinha uma veia satírica e cada vez mais conflitante com o regime stalinista. Por isso, ao final dos anos de 1920 enfrentou problemas crescentes com a censura do regime comunista. A evidência disso é que este clássico da literatura, demorou mais de 10 anos para ser escrito na sua totalidade e outros tantos para ser publicado. A primeira versão integral da obra, só foi publicada na Russia em 1973.

O livro, além da brilhante narrativa de Bulgákov, é uma sátira devastadora da vida sob o regime soviético, da censura e da repressão.

O romance traça de forma genial os múltiplos personagens de Moscou e seu cotidiano. Com apartamentos divididos por várias famílias, pessoas que desaparecem misteriosamente, burocratas obtusos, entre outros costumes da época.

O livro tem uma característica base: a visita do diabo, com sua comitiva, em Moscou. No desenrolar da história, a mesma é contada em duas perspectivas: uma delas em Moscou com a visita do diabo e a outra em Jerusalém com Pôncio Pilatos na época da convivência com Jesus de Nazaré, nos anos 30.

Que confusão é esta? Moscou dos anos 1920/1930 e Jerusalém dos anos 30? 

Aqui está a genialidade do autor, pois a primeira critica ao regime de Stalin aparece aqui, uma vez que o regime stalinista era um regime ateu, contra qualquer religiosidade.

A história começa quando Berlioz, presidente da Sociedade Moscovita de Literatura, está em uma conversa com o poeta Ivan Nicolaevitch, sobre um poema escrito por este, onde segundo o escritor, Jesus não existiu. Neste momento se apresenta na conversa o Professor Woland (o próprio diabo) dizendo que estava viajando pela Russia e afirmando que Jesus existiu sim. Ele próprio (diabo) já tinha estado com Pôncio Pilatos e que podia garantir a existência de Jesus, pois conhecia toda sua história. Isso enlouqueceu Berlioz e Ivan.

A partir daí, há uma alternância nos capítulos. Alguns sobre a "bagunça" que o diabo fez em Moscou e outros sobre Pôncio Pilatos, Jerusalém e Jesus.

Na sequência aparece o personagem que é o mestre. O mestre tinha escrito um romance sobre a existência de Jesus o que não era alinhado ao regime stalinista. Ele foi banido das artes, da vida livre e internado num hospital psiquiátrico, como se fosse louco. O mestre ficou vários anos internado.

O diabo Woland não chegou sozinho em Moscou. Ele trouxe consigo um séquito composto por um gato preto que falava normalmente como uma pessoa, um assistente chamado Korôviev, um demônio chamado Azazello e uma vampira chamada Hella.

Fonte: Google

A bagunça toda começa quando Woland faz um show de magia negra no mais renomado teatro de Moscou. Ao final as pessoas todas saíram correndo nuas pelas ruas de Moscou o que causou a maior confusão. Neste espetáculo o diretor do teatro desapareceu misteriosamente, como também o tesoureiro. Enfim, uma confusão dos diabos, com o perdão do trocadilho.

Depois de muitas outras confusões, incêndios, corrupção, desavenças provocadas pelo diabo e seu séquito, aparece na história Margarida. Margarida era uma moça casada com um milionário de Moscou, mas muito infeliz. Ela sempre foi apaixonada pelo mestre e não sabia onde ele estava, pois havia desaparecido há algum tempo.

O diabo estava a procura de uma pessoa chamada Margarida, para seu tradicional baile e, a encontrou. Ela faz um pacto com o diabo participando como a anfitriã de uma festa promovida por ele. Os convidados da festa eram somente pessoas, de todos os tempos, que haviam assasinado alguém. O pacto era de que Margarida aceitava se transformar numa bruxa, porém ela queria o mestre de volta para seu convívio.

Não vou contar o final do livro, óbvio. Mas posso dizer que é um livro para ser lido com muita atenção, pois ele tem muitas nuances interessantes sobre criticas ao regime, criticas sobre a loucura, a dúvida sobre a existência do diabo, entre outras.

Ou seja, o livro é fantástico. Não é a toa que é um dos romances mais importantes do século XX.

Uma outra curiosidade sobre "O mestre e Margarida" é que ele inspirou até música dos Rolling Stones. A música Sympathy for the Devil (Simpatia pelo diabo), que tem em sua letra um trecho assim:

"Por gentileza me permita que eu me apresente
Sou um homem de fortuna e requinte
Estou por aí já faz alguns anos
Roubei as almas e a fé de muitos homens

E eu estava por perto quando Jesus Cristo
Teve seu momento de duvida e dor
Fiz a maldita questão de garantir que Pilatos
Lavasse suas mãos e selasse seu destino."

Que adjetivo usar? 

Espetacular? Sensacional? Fantástico? Incrível? Extraordinário?

Simplesmente todos.

Enfim, é um livro diferente, um livro atemporal com uma história meio (talvez) ficção, meio realidade, mas simplesmente imperdível.

Professor Mario Mello


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Crônica de Minha Autoria Vencedora do Concurso Literário AGEA 2021 - O LIVRO SUA MAJESTADE





O LIVRO SUA MAJESTADE

O prazer da leitura deve ser saboreado lentamente pelos apaixonados de um mundo de certezas e incertezas, fantasias e realidades, sonhos e desatinos. Os livros nos levam à viagens só nossas. Ninguém mais viaja conosco nesta imensidão de emoções que a leitura proporciona. Mesmo para alguém que tenha lido o mesmo livro que você, as emoções e as visões são diferentes.

Fico imaginando o pensamento de um autor. Quantas interpretações e emoções diferentes são proporcionadas em diferentes pessoas ao mesmo tempo e no mesmo livro? Que fantástico para o autor saber que está mexendo com centenas de pessoas que leem suas obras. Que fantástico criar personagens que inspiram amor e ódio, esperança e desatinos, alegria e tristeza, nos leitores. Tramas fantasiosas e ao mesmo tempo reais que muitas vezes imaginamos estar acontecendo na nossa própria rua.

Pelo lado do leitor, a oportunidade de participar, mesmo que involuntariamente, da história é fantástica. É comum nos vermos juntos na trama e pensando: Por que não fazer assim? Por que não fazer de outra maneira?

Os livros poderiam ser "receitas literárias". Exemplo: você chegaria numa livraria especializada, conversaria com o livreiro e pediria: Quero um livro para dor de cabeça; ou, quero um livro para reumatismo; ou ainda, quero um livro para ansiedade, ou mais, quero dois livros para gripe, ou também, quero um livro para pressão alta. O livreiro, como se fosse um farmacêutico literário, depois de fazer algumas perguntas ao "paciente" faria a prescrição do livro perfeito para cada um. Se fosse para a gripe a receita seria: 8 páginas quando acordar pela manhã, 5 páginas depois do almoço e 20 páginas ao entardecer, pois nesta hora normalmente os sintomas da gripe se manifestam com mais intensidade.

E assim as receitas literárias se espalhariam pelos muitos pacientes.

Enfim, os livros nos fazem ouvir em silêncio, alimentar a alma e por isso, o livro não perde sua majestade. 


Professor Mario Mello
Dezembro/2021