sábado, 9 de janeiro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LVIII - O FILHO DE MIL HOMENS

Minha primeira leitura de 2021, presente de Natal da minha querida sobrinha Carolina Cervo é um  
romance do destacado autor português, da atualidade, Valter Hugo Mãe. "O filho de mil homens", traz exemplos de injustiça social e ao mesmo tempo libertação e triunfo pessoal diante das adversidades, mostrando que o amor ao próximo é possível e pode trazer alegrias.

Valter Hugo Mãe se consagrou com o romance "A máquina de fazer espanhóis" onde sua sensibilidade para temas sociais foi muito presente. 
Valter Hugo Mãe

Em "O filho de mil homens" essa sensibilidade social se desvincula de um convencional romance sociológico, para dar aos personagens a grandeza da alma e aos poucos eliminar preconceitos enraizados naquela cultura onde se passa o romance.



Me chamou muito atenção nesse romance que não temos um ou dois personagens protagonistas. Em determinado momento da leitura, me perguntei: quem é o ou a protagonista?
Encontrei logo quatro personagens marcantes que permearam a história, sem serem o personagem, em que tudo gira em seu entorno.

Existe uma personagem, que na história é simplesmente chamada de "anã", que aparece em poucas páginas, mas sua atuação se reflete por praticamente toda a história.
Essa anã teve um filho, que a comunidade chamava de "filho de quinze homens", porque quinze homens da vila (todos casados) estavam entre o suposto pai do menino. A confusão está armada.

Outro personagem, como o senhor Gemúndio, que aparece do nada na história, e, tem uma participação determinante na história. O senhor Gemúndio é daqueles personagens que dá pena, pela sua condição e pela sua fragilidade.

A história se passa numa pequena vila costeira, onde o personagem Crisóstomo chegava aos 40 anos, sozinho e com a tristeza de não ter um filho. Por outro lado Camilo um pequeno rapaz que não tinha pai, mãe e recentemente tinha perdido o avô (que na realidade era avô "emprestado") vivia também uma terrível solidão.

De passagens hilárias como a da galinha gigante (tamanho de um bezerro) do senhor Gemúndio, que na sua cabeça era sagrada e por isso não deveria ser sacrificada, à passagens tristes de preconceito com Isaura porque perdeu a virgindade muito cedo e carregou consigo para sempre a discriminação. Também o Antonino, personagem gay, chamado de "maricas" era rejeitado por todos.

Vejam esta passagem sobre o preconceito com Isaura que era muito magra:

"Não saia de casa, que o vento ainda a leva, não saia de casa, que o frio ainda a racha, não saia de casa, que um carro ainda a atropela, você não saia de casa, diziam. Não saia de casa, que andam cães misturados com lobos pelas ruas e por um ossinho seu ficam malucos, como bichos do diabo."


Todos esses personagens, onde a vida é levada com singela tristeza, no fundo tem a esperança no amor e na alegria da vida com coisas simples. 
O coração de Isaura, casando-se com o "maricas", como chamado no livro, demonstra as infinitas possibilidades da alma em busca de pequenas alegrias que podem tornar-se grandes aliadas da felicidade.

Enfim, Valter Hugo Mãe consegue trazer mazelas sociais que nos fazem refletir muito a respeito.

É um ótimo livro, pois como disse tem passagens hilárias mas também muito reflexivas sobre o comportamento e atitude das pessoas.

"Ser o que se pode é a felicidade. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser."

Comecei bem, 2021. Recomendo a todos a leitura de "O filho de mil homens". 
Você vai se emocionar e ao mesmo tempo refletir sobre o amor e às pequenas alegrias que podemos viver.

Boa leitura!

Professor Mario Mello