quinta-feira, 21 de maio de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLIII - CUIDAR DO SER - Fílon e os Terapeutas de Alexandria


Este livro, "Cuidar do Ser", de Jean-Yves Leloup, desperta um sem número de sentimentos e de buscas à história antiga, para melhor entende-lo.
Jean-Yves Leloup

Quando comecei a ler, em seguida me vi no Google buscando informações sobre Alexandria.
Esta busca sobre Alexandria remete a outras buscas da história contemporânea a Jesus Cristo.

O autor Jean-Yves Leloup nascido na França em 1950, foi criado num ambiente ateu onde se acreditava que nada havia depois da morte.
Já adulto, Leloup foi diagnosticado com morte cerebral e relata que durante sua morte física viu-se fora de seu corpo.
Fonte: Google

Por causa desta experiência de quase-morte ele foi estudar filosofia em busca de respostas para o que teria lhe acontecido. Hoje é padre da Igreja Ortodoxa Grega, teólogo e filósofo.



O livro destina-se ao leitor que busca entender melhor sua própria história espiritual e mística, pois é interdisciplinar e tem uma visão holística.

O livro trata de Fílon e os Terapeutas de Alexandria. 
Fílon de Alexandria, judeu de cultura helenista, foi contemporâneo de Jesus Cristo, porém em seus escritos não se encontram relatos do que se passava na Galileia, onde viveu Jesus.

Fílon é conhecido sobretudo por sua "arte de interpretação" dos sonhos e dos textos sagrados.
O livro descreve a tarefa considerada primordial para os Terapeutas de Alexandria: Cuidar do Ser.
Essa comunidade, dos Terapeutas de Alexandria, se caracteriza por sua atenção ao ser em todas suas dimensões: corpo, alma e espírito.

Os Terapeutas de Alexandria eram seres que sabiam orar pela saúde do outro. Eram filósofos, homens e mulheres, que amavam a sabedoria, pois sabiam relacionar cada coisa com sua causa primeira.
Definição dos Terapeutas segundo Fílon de Alexandria:
"O próprio nome desses filósofos, que chamamos de Terapeutas, revela o seu projeto, em primeiro lugar porque a medicina que professam é superior àquela que vem sendo exercida em nossas cidades; esta só cuida do corpo, mas a outra cuida também do psiquismo, atormentado por essas doenças dolorosas e difíceis de curar."

Passagem do livro:
"Falando dos terapeutas:
E de modo geral, eles se esforçam para eliminar o orgulho, sabendo que o orgulho é o começo da ilusão e ausência de orgulho é o começo da verdade, e que estas duas atitudes são como duas fontes: da ilusão brotam as diversas espécies de males e da verdade, a multidão dos bens humanos e divinos."
Alexandria antiga

Os comentários de Leloup ainda trazem uma profunda reflexão a respeito do que eram os Terapeutas de Alexandria:
A antropologia dos Terapeutas, que cuida do ser em todas as suas dimensões; corporal, psíquica e espiritual, parece que se perdeu.

E, fica a pergunta:
Os Terapeutas de Alexandria tiveram sucessores?
Hoje, medicina, psicologia e espiritualidade passaram a ser domínios separados que fazem as vezes piorar em vez de curar a fragmentação do ser humano.

Leloup com muita habilidade traz a tona essa discussão.

Vale muito a pena ler "Cuidar do Ser". Eu não tenho dúvidas que vou "me cuidar mais".
Fica o convite para a leitura e para também, "se cuidar mais".


Professor Mario Mello




terça-feira, 12 de maio de 2020

O Livro sua Majestade XLII - Antes e depois do tempo

Autor paulista radicado em Porto Alegre, Guilherme Giugliani, traz neste livro 15 contos que são pura insinuação e delicadeza.

Pouco conhecido da grande mídia, Guilherme mostra o tanto que as coisas da vida podem ser insinuadas e delicadas, em seus contos.

Livro de estreia do autor, os contos apostam no poderio dos finais surpreendentes e sedutores.
Um dos pontos altos dos contos, explorado pelo autor, é o problema de errar no momento decisivo. Basta um instante de dúvida para os eixos da existência se deslocarem para sempre.

Dois contos me chamaram muito a atenção: 
"Paula" e "Um dia fora do lugar".
Retratam um cotidiano muito real e realista.

É impossível não se identificar com as situações do cotidiano relatadas nos contos, pois são capazes de modificar uma vida.

Parte do conto, "Um dia fora do lugar":
"O despertador tocou, eu me sentei na borda da cama e, embora com muito sono ainda, lembrei-me de colocar primeiro o pé direito no chão e, logo em seguida, fazer o sinal da cruz".

Quem nunca fez isso ao acordar?
Por isso, os contos são muito próximos ao nosso cotidiano.

Recomendo o livro, pois é de boa, fácil e divertida leitura.

Professor Mario Mello






O LIVRO SUA MAJESTADE XLI - SÓ PARA MAIORES DE CEM ANOS

Capa do livro
O livro "SÓ PARA MAIORES DE CEM ANOS", do autor chileno Nicanor Parra, é uma antologia (anti) poética deste destacado poeta (e físico matemático). Considerado um dos maiores escritores do Ocidente, Nicanor é o inventor da chamada antipoesia. 

Nicanor Parra (1914-2018)
Lançado no Brasil pela Editora 34 em 2018, justamente no ano da morte do autor, rapidamente ganhou a simpatia dos leitores, por tratar-se de uma seleção de várias obras de Nicanor Parra.

A intitulada antipoesia é uma poesia não eloquente, próxima à língua cotidiana. 
Irônica, sarcástica, subversiva e provocadora revolucionou a literatura chilena e influenciou geração de escritores ao longo do mundo.

Nicanor foi várias vezes indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, porém sem nunca ganha-lo.
Isso nunca foi sua preocupação.


Essa edição lançada pela primeira vez no Brasil é bilíngue e reúne 75 poemas do autor.

Tem poesias como "Desordem no Céu":
Um padre, sem saber como,
Chegou às portas do céu.
Golpeou a aldraba de bronze,
Veio atender São Pedro:
"Se não me deixar entrar
Acabo com seu canteiro".
Respondeu, então, o santo
Num tom bem pouco benévolo:
"Desapareça daqui
Cavalo de mau agouro,
Jesus Cristo não se compra
Com bravatas nem dinheiro
continua....

Outra que talvez descreva a antipoesia é "A montanha-russa":
Durante meio século
A poesia foi
O paraíso do bobo solene,
Até que cheguei eu
E me instalei com minha montanha-russa.
Subam, se quiserem.
Claro que não respondo se saírem
Botando sangue pelas bocas e narinas.

Outra narração imperdível é "Tempos Modernos".

E, assim segue o livro com um humor ativo e ativista que se volta não só contra os dogmas e as figuras de autoridade, mas frequentemente contra o próprio poema, o leitor e o autor.

Enfim, Parra atravessou mais de um século fazendo poesia e antipoesia, e por isso é respeitado e admirado.

É um livro imperdível, belo e reflexivo.

Professor Mario Mello


sexta-feira, 1 de maio de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XL - A PARTE QUE FALTA


O livro "A parte que falta" do autor Shel Silverstein é um dos livros mais geniais que já li.
Shel Silverstein

Shel Silverstein nasceu em Chicago em 1930, e começou a escrever em 1961.

Não contei as palavras escritas no livro, mas talvez chegue próximo a 400. Um livro de 100 páginas tem em média 25.000 palavras.

A parte que falta tem 54 páginas. Veja a simplicidade da obra.

Também por isso a genialidade da obra. Inicialmente escrito para crianças, logo o mundo percebeu que tratava-se de uma obra muito mais profunda, do que simplesmente divertir uma criança.
Traduzido para dezenas de países, o livro conta e demonstra a história de um ser circular que faltava uma parte.

O ser sai em busca desta parte que falta e aí começam as mensagens singelas, mas profundas que a história traz.

No caminho, ele faz amizades com borboletas, flores, besouros. 

O ser passa frio, passa calor, entre tantas coisas que acontecem em sua busca pela parte que falta.

Encontra partes que não cabem em si, até um dia encontrar a parte que cabe perfeitamente no seu vazio.


 A partir daí uma nova etapa da história e mais impressionante começa.

Da para nos vermos, como pessoas, perfeitamente na história.
Encontramos pequenos tesouros em cada página, em cada escrita, em cada desenho.

O caminho percorrido pelo ser circular é parecido com nosso caminho de vida. 

E, como escreveu Fernanda Takai, sobre o livro: 
"Afinal, há um final?"

Pois bem, esta é a chave do livro e caberá a você leitor e "pessoa" responder.
Certamente cada um de nós temos a nossa resposta.

Outra pergunta a você leitor:
"Livro infantil? Será?

Para finalizar, quero repetir:
É um dos livros mais geniais que já li.
Acho que já o li, mais de vinte vezes. 
E, a cada leitura é uma nova aventura.

Não deixe de ler esta preciosidade. É de leitura rápida, mas de reflexões lentas.

Boa leitura e boas reflexões!

Professor Mario Mello