segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXIII - DE ONDE VÊM AS BOAS IDEIAS

 Para os estudiosos do processo de inovação, este livro é um prato cheio. De onde vêm as boas ideias - uma breve história da inovação - foi escrito pelo americano Steven Johnson (1968 - ), em 2010 e teve sua primeira edição em português em 2011.


Steven Johnson considerado um autor americano de ciência popular e teórico da mídia, descreve no livro, métodos e práticas para desenvolver ideias. Segundo o autor as grandes inovações criadas pela humanidade, não resultam de prodigiosos talentos individuais, ou de mentes superiores isoladas.

Ao contrário, as maiores invenções precisam de ambientes propícios nos quais possam se desenvolver.

Indicado para pessoas que desejam aprender métodos inovadores para pôr em prática ideias que facilitem a vida de todos.

Além de trazer fatos históricos sobre as principais inovações do mundo, o livro cria paralelos divertidos, inesperados e reveladores, através de sete características fundamentais dos processos de inovação, desenvolvidos pelo homem e pela natureza.

Desde a teoria da evolução de Darwin, até a criação do Youtube, Steven Johnson identifica os ambientes humanos mais férteis em pensamentos originais. Johnson defende, por exemplo, que as grandes cidades têm muito mais talentos e se fortificam através de redes para gerar processos de inovação. Sua justificativa é que as grandes cidades têm muito mais necessidades de solução de problemas, criando assim o ambiente propício para os talentos desenvolverem processos inovativos. Ele explica que o "possível adjacente", ou seja, as coisas que não são estáticas e estão conectadas criam redes e auxiliam muito no desenvolvimento de novas ideias.

Uma passagem muito interessante do livro e que diz respeito às redes é a seguinte:

"Um neurônio médio conecta-se com mil outros neurônios espalhados pelo cérebro, o que significa 100 trilhões de conexões neurais distintas, fazendo dele a maior e mais complexa rede existente na Terra. Em comparação há algo na ordem de 40 bilhões de páginas na Web. Supondo uma média de dez links por página, significa que você e eu andamos por aí tendo, dentro de nossos crânios, uma rede de alta densidade muitas ordens de magnitude maior que toda a Web." Incrível isso!!

Steven também defende que a causalidade pode gerar muitas modificações na sociedade e que a intuição também faz parte dos processos de inovação.

No capítulo do aprendizado com o erro, o autor traz vários exemplos históricos de inovação que aconteceram com o erro da pessoa que estava desenvolvendo aquele processo e o erro/equívoco gerou uma nova descoberta. O erro muitas vezes cria um caminho que desvia das suposições confortáveis, forçando a explorar novas possibilidades. 

"O problema do erro é que temos uma tendência natural a desprezá-lo." Eis o erro!

Prensa de Gutenberg
No capítulo sobre "Exaptação"(processo de reuso de um artefato ou uma característica já adaptada, para um uso definido), Steven traz o exemplo da prensa de uvas para fazer vinho usada ainda na Idade Média e que Gutenberg introduziu algumas modificações brilhantes na metalurgia subjacente ao sistema de tipo móvel. Ou seja, a genialidade de Gutenberg não está em conceber uma tecnologia inteiramente nova a partir do zero, mas em tomar emprestada uma tecnologia madura (prensa) de um campo inteiramente diferente e usá-la para resolver um problema de outra natureza. Assim, Gutenberg criou a prensa de tipos móveis e começou a democratização do conhecimento.

"Gutenberg pegou uma máquina destinada a embriagar pessoas e transformou-a numa máquina para a comunicação em massa."

O sétimo capítulo fala sobre as Plataformas para difusão de ideias. O ambiente do "cafezinho" é um ótimo local para difundir novas ideias e gerar novos projetos. A cafeteria do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hoppkins nos EUA, teve importante papel no desenvolvimento da comunicação, quando cientistas tomando café criaram um decodificador de sinal que conseguia receber as mensagens do satélite russo Sputnik. Isso foi uma das bases para a criação do GPS.

As plataformas de software, muita vezes chamadas de API é uma espécie de língua franca que aplicativos de software podem usar de maneira confiável para se comunicar uns com os outros. Exemplo, Twitter, Facebook, Instagram, Google Maps, entre tantos outros. Ou seja, a Web é uma plataforma em pilhas, uma sobre a outra, onde elas não partem do zero e sempre podem agregar uma nova pilha. Ou seja, as conexões das cidades grandes e as conexões da Web, nunca partem do zero.

A abordagem sobre os quatro quadrantes das ideias e inovações ressalta a parte comercial e a não comercial.

O primeiro e o segundo quadrantes se referem às ideias individuais e coletivas com interesse mercantil, Já o terceiro e o quarto quadrantes se referem às ideias também individual e coletivas, porém sem interesse econômico. Do ano de 1800 para cá, o fluxo de informações cresceu absurdamente o que remete a muitas novas boas ideias.

O livro ainda aborda, como apêndice, uma excelente cronologia de inovações fundamentais de 1400 a 2000. É uma parte preciosa do livro.

Assim, o livro traz excelentes reflexões sobre as ideias de inovação. As ideias surgem em abundância, onde a conexão é mais valorizada que a proteção.

É uma leitura um pouco técnica, mas de muita valia para entender mais sobre inovação.

Professor Mario Mello


sábado, 13 de novembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXII - OS RATOS

 Publicado em 1935, "Os Ratos" do escritor gaúcho Dyonelio Machado (1895-1985) é um dos romances mais importantes da literatura brasileira.

Fui "rebuscar" este livro em minha biblioteca, pois o havia lido em 1984. Foi um livro que me marcou bastante à época, pela simplicidade da escrita de um cotidiano difícil para um pai que precisa de dinheiro para sustentar o leite para seu filho pequeno.

Dyonelio Machado foi um dos principais expoentes da segunda geração do Modernismo no Brasil. Dyonelio foi romancista, poeta, jornalista e médico psiquiatra. 

Reverenciado por escritores consagrados como Érico Veríssimo, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, entre outros, Dyonelio foi multifacetado, polêmico, mas de grande valor.
Disse Érico Veríssimo certa vez: "De vez em quando leio algum critico afirmar que quem primeiro fez a ficção urbana no Brasil, fui eu. Engano. Que começou foi Dyonelio. O futuro dirá, como este escritor era importante."

Guimarães Rosa disse: "Se o livro do Dyonelio tivesse sido escrito em Francês ou em Inglês e por autor estrangeiro, era Premio Nobel, sem dúvida."

Os Ratos descreve uma sociedade contemporânea preocupada com o dinheiro. O sofrimento do protagonista Naziazeno pela falta de dinheiro é a trama principal do romance.
Devendo 53 mil réis ao leiteiro, que não aceita mais desculpas e vai cortar o fornecimento do leite no dia seguinte, leva Naziazeno à uma preocupação sem fim.
O desespero bate em Naziazeno, pois ele tem um filho de 1 ano que precisa do leite. 
A pequena miséria e as frustrações do cotidiano refletem no protagonista um caminhar sem rumo e o laço moral de um pai que precisa saldar a dívida com o leiteiro.
O romance se passa em um único dia. Naziazeno sai de manhã cedinho para o trabalho e tudo acontece neste dia, pois a busca pelo dinheiro necessário é urgente.
Seu primeiro alvo para conseguir o dinheiro é seu chefe da repartição onde trabalha. A resposta do chefe foi: "Eu já o ajudei. Não me peça mais nada."
E assim, Naziazeno tem sua primeira negativa.

Depois procura pelos amigos Alcides e Duque que prontificam-se em ajudá-lo.

Nesta trama novelesca, o incentivo imediato da ação foi a necessidade, tornada urgente pela ansiedade coletiva do grupo de arranjar o dinheiro para saldar a dívida.

Naziazeno conseguiu 5 mil réis com outro amigo. Como era pouco dinheiro, resolve (sem os outros amigos saberem) jogar na roleta. O desfecho é previsível: perdeu os 5 mil no jogo. Naziazeno não poderia voltar para casa sem o dinheiro. A angústia e o sofrimento só aumentava. Neste ponto, Dyonelio Machado manifesta toda sua genialidade com a escrita.

Depois de muitas passagens, negativas de agiotas, fome, a pequena miséria durante todo o dia, à noitinha o grupo consegue convencer uma outra pessoa a desembolsar uma quantia, recebendo em garantia um anel do amigo Alcides.

Depois de todo o sofrimento do dia, Naziazeno volta para casa com o dinheiro que conseguiu emprestado. Sua mulher, ansiosa, estranhara o atraso do marido, porém se acalmou com a notícia de que Naziazeno tinha conseguido o dinheiro para o leiteiro.

A partir daqui, o final é dramático. Naziazeno e a mulher resolvem deixar o maço de dinheiro com os 53 mil réis, na cozinha, ao lado do pote onde o leiteiro pela manhã bem cedo faria o abastecimento. Para não acordarem muito cedo resolveram que o leiteiro vendo o dinheiro, o pegaria e estaria tudo certo para a manutenção do fornecimento de leite.

Será que os ratos vão comer o dinheiro?
De tão cansado pela angústia do dia inteiro, Naziazeno não consegue dormir bem, revira-se na cama o tempo inteiro e começa ouvir barulhos de ratos andando pela casa toda.
Este final é brilhante, talentoso e muito imaginativo.


Depois de tanto sofrimento de Naziazeno para conseguir o dinheiro, será que os ratos vão come-lo?
Será que todo esforço para conseguir o dinheiro será frustrado?
Os ratos trarão este revés?

A resposta o leitor terá apenas no último parágrafo do livro. 
O talento deste fantástico Dyonelio Machado, prende o leitor até a última palavra, para o desfecho do romance.

Estupendo romance!!!!

Professor Mario Mello


sábado, 6 de novembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXXI - O PROFESSOR

 "O professor", romance escrito por um dos mais celebrados escritores brasileiros contemporâneos, Cristovão Tezza, traz um forte personagem, o professor Heliseu, como protagonista.

O escritor Cristovão Tezza (1952 - ) escreveu mais de uma dezena de livros e recebeu vários prêmios literários ao longo de sua trajetória. Em uma entrevista sobre o livro "O professor", Cristovão diz, que sem dúvida, é o seu mais completo romance. Um livro "maduro", que de certa forma aborda o envelhecimento com suas memórias e fantasmas.

O professor Heliseu narra uma história afetiva emocional em torno da sua vida - buscar o sentido da vida. Toda a narrativa acontece em apenas uma manhã, quando o professor acorda e se prepara para receber uma homenagem da universidade, pela sua brilhante trajetória. 

Num curto espaço de tempo entre o acordar, tomar café da manhã e tomar banho, Heliseu faz uma incrível retrospectiva da sua vida, narrando fatos desde sua infância até este momento, aos 70 anos, enquanto se prepara para ir à universidade receber a homenagem.

Professor de Filologia (estudo da linguagem em fontes históricas escritas, incluindo literatura, história e linguística), formado nos anos 60, Heliseu faz sua narrativa dos vários fatos de sua vida, como se estivesse em busca do tempo perdido. Heliseu é tomado por uma sucessão incontrolável de memórias.

O talento do autor se revela em relacionar as passagens narradas pelo professor Heliseu, com algum fato da história recente do Brasil. Fatos como, as diretas já, o Plano Cruzado, a inflação galopante da época de Sarney, o confisco da poupança pela ministra Zélia Cardoso, entre outros vão sendo relacionados com a vida de Heliseu.

Cristovão Tezza

Neste dia da narrativa, enquanto tomava seu café da manhã preparado por Dona Diva, que era sua empregada doméstica, desde que casara, lendo o jornal deparou-se com a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Como pode um Papa renunciar? Esta indagação o acompanhou até o final da história.

Heliseu casou-se com Mônica, funcionária do Banco do Brasil e teve um filho. Os conflitos familiares começam quando Heliseu flagra seu filho com um namorado. Não sendo aceito, o filho se muda para os EUA e praticamente rompe as relações com o pai.

Na universidade, Heliseu tem uma paixão desestabilizadora de sua vida, pela jovem Therèze. Francesa, Therèze busca em Heliseu o professor orientador de seu doutorado. Heliseu passa então a levar uma vida dupla e de certa forma consentida pela mulher Mônica que aos poucos vai se afastando dele com a amiga Úrsula.

Nesta época acontece uma tragédia. Mônica cai da sacada do apartamento e morre. Sem culpa pelo acidente, Heliseu é investigado e de certa forma, muitos amigos, inclusive na sala de cafezinho da universidade, desconfiam que ele tenha matado a esposa.

Enfim, o tempo passa e Heliseu, agora sozinho, só pensa no discurso que deve fazer na homenagem. Assim, a história vai se conduzindo a este final. 

De forma magistral o autor prende o leitor até a última página. 

As lembranças do professor e o acerto de contas com seu passado estão sempre em conflito com "o sentido da vida", perseguido pelo professor. É uma história extraordinária de um professor, suas memórias e sua vida real.

Vale muito a pena a leitura. Um magnífico romance!

Professor Mario Mello


domingo, 24 de outubro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXX - FOME

 Obra-prima do escritor Norueguês, Knut Hamsun, o romance "Fome" escrito em 1890, influenciou sobremaneira as tendências da literatura do inicio do século XX.

Exemplar do Círculo do Livro, 1977
Adquiri este exemplar em 1977, quando então existia um clube de livros chamado Círculo do Livro S.A. Vejam que o que temos hoje como "assinatura" de vários serviços e produtos, já existia na década de 1970 para livros. Eu pagava uma mensalidade e todo mês recebia dois livros "surpresa".

Li "Fome" naquela época e lembro que fiquei extremamente impactado com o furor da fome. 44 anos depois, vendo que nada ou pouco mudou no mundo em relação à fome, resolvi reler o romance. Infelizmente a humilhação e a dor da fome assola, ainda, milhões de pessoas pelo mundo afora. 

Knut Hamsun ( 1859 - 1952), como Victor Hugo, conheceu desde a infância a miséria, a injustiça, a maldade e fez delas o tema constante em toda sua obra, a exemplo de Victor Hugo. Victor Hugo em seu clássico "Os miseráveis" retrata o desespero, a fome e a agonia de uma personagem que vendia seus dentes para ter algum dinheiro para comer. Knut Hamsun retrata os mesmos sentimentos de um personagem que não tendo mais nada para vender, oferecia seu óculos em troca de poucas moedas para comprar um pão.

Knut Hamsun

Genial em seus romances, Knut ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1920. Infelizmente sua escolha política pelo nazismo o levou à prisão ao fim da segunda guerra mundial. Por isso, embora toda sua genialidade, praticamente não existem homenagens a ele, na Noruega.

O romance "Fome" é muito impactante e ao mesmo tempo de uma simplicidade também impactante, pois retrata fatos corriqueiros do dia-a-dia do personagem protagonista. 

Hamsun nem nome deu ao protagonista de "Fome". Narrado sempre na primeira pessoa, o protagonista era um escritor que vendia artigos para o jornal da cidade (Jornal Morgenbladet, que existe até hoje na Noruega). Porém, isso nem sempre era possível, pois o jornal acabava recusando muitos artigos e com isso, não tinha dinheiro nem para comer.

A humilhação, o sofrimento e a fome era tanta que chegou ao extremo do escritor tentar vender os botões de seu único paletó para tentar algumas moedas para comprar comida. Não teve sucesso. E assim ele passava perambulando pela cidade para passar o tempo e tentar a busca de comida. Chegava ficar semanas sem comer nada, até algum artigo render poucas moedas.

Um dia o escritor precisava de uma vela para poder escrever à noite, mas não tinha dinheiro para comprar a vela. Foi até uma loja na esperança de conseguir a vela "fiado". Porém, para sua surpresa o atendente se enganou e achou que tinha recebido dele uma nota de 5$ e deu a vela e o troco para ele. Embaraçado e surpreso ele pegou o dinheiro e a vela e saiu. Começa então, uma tortura psicológica em seu inabalável caráter. Diz ele:

"Aquele dinheiro me pesava no bolso, não me deixava em paz. Investigando bem no fundo de mim, descobri que antes era mais feliz, quando sofria, porém com toda honestidade. Oh meu Deus!" Livrou-se em seguida do dinheiro doando a outro pobre.

A fome o perseguia diariamente. A miséria e a humilhação era uma constante em seus dias. Chegava muitas vezes a mascar gravetos encontrados na rua. Sua aparência era cada vez mais cadavérica. Possuía apenas uma muda de roupa e não tinha residência fixa. Morava um tempo em algum quarto alugado, porém não tinha dinheiro para pagar o aluguel e era mandado embora. Assim, aconteceu várias vezes.

O personagem sofre com os efeitos físicos e morais da subnutrição. A fome causa a loucura e empurra a pessoa à morte. Ultrapassa as fronteiras da sanidade.

Como sempre faço nos textos, não vou contar o final do romance. Só vou dizer que, praticamente, não tem final. A fome não tem fim.

Enfim, o livro é muito triste. A agonia que passa o protagonista traz uma grande perturbação ao leitor. Porém é uma leitura "obrigatória" na reflexão ao amor ao próximo. Essa maldição e humilhação chamada fome, que muitos de nós nunca passou deveria ser proibida no mundo. Não sei e não tenho a solução para o mundo. Mas sei que posso ajudar localmente a diminuir esse sofrimento de alguns.

É um livro que vale muito a leitura, pois não tem como ficar indiferente a esse "grito".

Professor Mario Mello

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXIX - TORTO ARADO

 Romance escrito em 2019, pelo jovem escritor brasileiro, Itamar Vieira Junior (1979-), "Torto Arado" conta a história de duas irmãs gêmeas que vivem numa fazenda no interior da Bahia, ainda em trabalho escravo.

Mesmo após a abolição da escravatura, muitas regiões brasileiras ainda mantiveram o trabalho escravo ainda por muitos anos.

Vencedor de vários prêmios recentes, "Torto Arado" é um romance que retrata, com muita habilidade narrativa, um Brasil dolorosamente encalhado no próprio passado escravagista. 

As protagonistas Bibiana e Belonísia (gêmeas) viveram com sua família, praticamente toda sua vida em uma fazenda. As regras "não-escravas" da fazenda eram as seguintes: não podiam construir nenhuma casa que não fosse de barro; não recebiam nenhum dinheiro pelo trabalho na fazenda; podiam ter uma horta para sua subsistência; e ainda, deviam doar alguma parte da colheita da horta para o capataz da fazenda.

A emocionante história começa quando em uma brincadeira de criança, Bibiana e Belonísia, ao mexer em uma mala de sua avó, acham uma velha e misteriosa faca.

Ocorre, então, um acidente com a faca e as meninas que acaba ligando ainda mais as duas irmãs. Com o passar do tempo essa ligação vai se desfazendo aos poucos. 

Na fazenda existem ritos de uma religião, de origem africana, que era comandada pelo pai das meninas e que é uma parte importante da história. Havia muitas reuniões com as pessoas da região para celebrar os atos religiosos. As meninas cresceram, viraram mulheres e uma nova etapa do romance aparece.

Pela influência do pai, Zeca Chapéu Grande, foi construída uma escola na fazenda o que determinou um novo ciclo de convivência com os trabalhadores da fazenda e de outras próximas. O sonho de Belonísia era ser professora. Ela cresceu, casou e mudou-se para a cidade onde pode ser professora.

Os ritos religiosos se sucedem na fazenda e os encontros vão diminuindo até que Zeca Chapéu Grande morre. Neste mesmo período a fazenda foi vendida para outros donos que fazem várias mudanças na rotina dos empregados. Tudo muda!!!

Na trama, brilhantemente conduzida pelo autor, quase sempre as mulheres são as protagonistas. O sofrimento das mulheres é comovente nesta triste história de uma época em que o Brasil dizia ter libertado a escravidão.

Enfim, é uma história cheia de Brasil que relata um tanto de insubordinação social, traumas familiares, exploração, misticismo afro-brasileiro, mas acima de tudo uma garra das protagonistas Bibiana e Belonísia na ânsia de viver.

É um belíssimo romance de uma leitura agradável, pela sua escrita, mas de uma enorme tristeza pelo sofrimento dos trabalhadores da época. As personagens são gigantes!!!!

Não deixe de ler. É um achado da literatura recente brasileira e um retrato de um Brasil ainda tão recente.

Professor Mario Mello


domingo, 10 de outubro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXVIII - A LIVRARIA MÁGICA DE PARIS

 "Ouvir em silêncio era a base para a avaliação profunda da alma". 

"As burrices do amor são as mais bonitas, mas se paga muito caro por elas".


Com frases desta qualidade o livro "A livraria Mágica de Paris" nos traz uma emocionante história de amor, aventura e desprendimento. Diria que ingredientes frequentes e costumeiros nos romances. 

Porém, neste livro, esses ingredientes se tornam inusitados pelas buscas e pelos pretextos dos protagonistas da história. É uma emocionante história de amor, de perda e do poder dos livros.

O livro, escrito por Nina George (1973-) é uma carta de amor aos livros e para quem acredita no poder que as histórias têm de influenciar nossas vidas.

Monsieur Perdu, o protagonista, se considera um "farmacêutico literário". Ele possui um barco-livraria, ancorado no Rio Sena, em Paris, de onde ele prescreve livros para as diversas dificuldades da vida, fazendo uma análise intuitiva de seus clientes.

Perdu utilizava os ouvidos, os olhos e o instinto. A partir de uma simples conversa, era capaz de identificar em uma alma o que lhe faltava.

Que incrível isso!! Já pensou? Em vez de remédios, livros?

E assim era Monsieur Perdu. Muitas vezes deixava de vender livros, pois não via ligação do livro com o "paciente". Monsieur Perdu vendia romances como se fossem remédios que amenizassem o sofrimento da alma. Porém, o único sofrimento que não conseguia curar era o seu.

Perdu sofreu uma desilusão amorosa há 21 anos quando seu amor, Manon, o abandonou quando dormia, deixando apenas uma carta. Carta essa, que Perdu não teve coragem de ler. A desilusão foi tão grande que somente após 21 anos Perdu leu a carta deixada por Manon. A leitura da carta foi provocada por uma nova vizinha, Catherine, que se mudou para o prédio onde Perdu morava e recebeu dele como ajuda para montar o apartamento uma velha mesa, onde na gaveta, estava a carta de Manon. Catherine "forçou" Monsieur Perdu ler a carta e então começa a louca aventura de Perdu.

Na verdade, Manon era amante de Perdu, pois era casada com Luc e morava na Provence, região francesa próxima do Mediterrâneo. Perdu sabia de Luc,  Luc sabia de Perdu e Manon dizia que amava os dois. O conteúdo da carta não vou aqui revelar, para não tirar a curiosidade de quem vai ler o livro. Posso dizer, apenas, que é chocante!

Roteiro de Monsieur Perdu

Numa bela manhã de verão Parisiense, Monsieur Perdu abandona Paris, desatraca seu barco do cais e parte para uma jornada que o levará para o coração da Provence em busca da história com seu amor Manon. Nesse movimento de partida, um jovem escritor e vizinho de Perdu, Max, intui o que está acontecendo e se joga no Sena para alcançar Perdu e partir junto. Assim, juntos partem sem dinheiro, sem roupas, sem muitos mantimentos, apenas em busca de "vida".

O que achei muito bacana no livro é que existe na contracapa um mapa do roteiro que Perdu faz com seu barco. É muito legal, pois o leitor vai acompanhado pelos vários rios e cidades onde o barco-livraria navega.

Nesta aventura da navegação Perdu e Max se tornam muito amigos e dependem um do outro. As conversas, silêncios e reflexões são muito divertidas, muitas vezes bem-humoradas e aprazíveis.

Numa das cidades, se metem em uma confusão num baile e encontram o italiano Cuneo. Cuneo era um espirituoso cozinheiro além de ser "boa gente". Como tiveram que sair às pressas da cidade, Cuneo se incorpora ao barco e parte junto com Perdu e Max. Na viagem encontram uma mulher supostamente se afogando no rio. Depois de algumas aventuras a mais, Samantha também se incorpora ao barco e parte junto. Cuneo se apaixona por Samantha e esta é outra história a parte na viagem. Mais tarde, descobrem que Samantha é também escritora, uma das preferidas de Perdu. Que história!!!!!

Passados alguns dias de viagem, chega o ponto de se separarem. Perdu e Max deixam o barco e partem de carro para Bonnieux, cidade onde Manon morava. Perdu não tem coragem de investigar mais sobre Manon e resolve morar um tempo em Sanary, famosa praia do Mediterrâneo, próxima a Toulon. Consegue emprego numa livraria e assim passa alguns meses na cidade. Porém, sua busca por Manon, não sai de sua cabeça. Um dia resolve encarar o retorna à Bonnieux para se encontrar com Luc o marido de Manon.

E assim é o epílogo da incrível história do "farmacêutico literário". Lá ele descobre Victória, uma linda jovem, filha de Manon. Neste epílogo ainda tem muitas aventuras para descobrir no livro.

Quem sabe, talvez todos nós tenhamos nossas tarefas no Grande Livro chamado La Vie.

Enfim, é uma história emocionante de amor, onde Perdu, compartilhando a sabedoria dos livros, demonstra que o mundo da literatura pode conduzir a alma humana pelo caminho da cura.

Dizia Monsieur Perdu:

 "Eu vendo livros como remédios. Existem livros que servem para um milhão de pessoas; outros para uma centena apenas. Há até remédios, perdão, livros que são escritos para uma única pessoa".

Salve salve sua majestade, LIVROS!!!!

Professor Mario Mello

domingo, 26 de setembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXVII - A BONECA DE KOKOSCHKA

Do autor português Afonso Cruz (1971-) o livro "A boneca de Kokoschka" traz em seu enredo o que o autor faz questão de lembrar-nos a todo momento: "são os outros que nos fazem viver". 

A história começa na cidade de Dresden, localizada no leste da Alemanha, devastada pela segunda guerra mundial.

Dresden destruída pelo bombardeios
Dresden foi uma das cidades alemãs que mais recebeu bombardeios dos aliados na segunda guerra. Foram lançadas mais de 3.900 toneladas de bombas na cidade, destruindo-a, quase que totalmente. 

Neste cenário, Bonifaz Vogel, esconde na sua loja de pássaros o jovem judeu Isaac Dresner. Escondido num alçapão, Dresner se tornou uma voz misteriosa para Bonifaz, aconselhando-o sempre nos negócios de pássaros.

O livro além de ser um emocionante romance, ainda chama atenção por passagens muito reflexivas no nosso cotidiano. Uma delas, é quando Bonifaz Vogel, muitas vezes abria as portas das gaiolas, sem que os pássaros fugissem. 


Os pássaros ficavam encolhidos a um canto, tentando evitar olhar para aquela porta aberta, desviando os olhos da liberdade, que é uma das portas mais assustadoras. Só se sentiam livres dentro das gaiolas, ou seja, as gaiolas estavam dentro deles.

A partir daí, vão entrando em cena vários persongens, incluindo Mathias Popa, autor de "A boneca de Kokoschka". Já dá para perceber que temos um livro dentro de outro livro. Essa é uma característica marcante do autor Afonso Cruz, que possui uma maestria para colocar personagens dentro de personagens, como fez brilhantemente em outra obra sua chamada "Os livros que devoraram meu pai".

Um dos protagonistas, Mathias Popa, foi um grande músico e autor de outros livros. A outra protagonista Anasztázia Varga era uma milionária francesa que herdou do pai uma grande fortuna. O pai Zsigmond Varga tinha mais de 50 filhos, porém apenas 8 eram considerados legítimos e Anasztázia era a mais jovem. Os demais filhos de Zsigmond se perderam ao longo do tempo e da história, e apenas Anasztázia teve sua vida colocada no livro de Mathias Popa.

Anasztázia sempre fora muito caridosa e numa de suas viagens para a África, conheceu no navio o jovem Mathias Popa com quem teve um fulminante e inesquecível (até o final da história) romance. Anasztázia ficou grávida de Mathias, porém o mesmo desapareceu e nunca mais encontrou com ela.

A desilusão foi muito grande até seus últimos dias de vida. Já sem forças e acamada por anos, Anasztázia é cuidada pela neta Adele. Aqui, começa outra história dentro da história.

Nesse padecimento de Anasztázia diz o autor: "a horizontalidade (se referindo a sofrer deitada em uma cama) é um dos maiores sintomas da morte". Que pura verdade!!!

Adele vendo o sofrimento da avó parte em busca do paradeiro de seu avô. Ela não sabia nome, idade, cidade...nada sobre o avô. Com ajuda de um detetive encontra o judeu, Isaac Dresner, que vivia na loja de pássaros de Vogel e que conheceu Mathias Popa. O enredo é incrível e cheio de buscas do passado para ajudar Adele a desvendar o mistério.


Quando Adele consegue um exemplar do livro "A boneca de Kokoschka" tudo começa a ficar muito claro.

Assombrosas coincidências onde a realidade se confunde com a ficção, fazem de Adele outra protagonista da história, dentro da história de Mathias Popa. 

Essa é uma das grandes virtudes do autor Afonso Cruz. Ele não se limita a contar fatos. Nos traz uma espécie de leituras paralelas, ou seja, lemos um livro, dentro de outro livro, dentro de outro livro, até nos perguntarmos, mas afinal qual livro estava lendo? É uma sensação extraordinária num mundo feito de acasos e fatos reais. 

Assim se desenvolve esta fabulosa história cheia de nuances muito reais.

O último capítulo chamado "O fim" é de uma talentosa criatividade. Não vou obviamente contar aqui, mas a última frase do livro é de arrepiar. Não tem como não se emocionar com esta frase.

Não deixe de ler este livro. É admirável!!!!

Professor Mario Mello


sábado, 11 de setembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXVI - EL TÚNEL

 Disponível no Brasil apenas na versão em espanhol (muito bom para treinar o segundo idioma), o livro "El túnel" do renomado escritor argentino Ernesto Sábato é uma das grandes novelas da literatura sul-americana.

Escrevi, aqui mesmo no Blog, no mês de abril/21 sobre Ernesto Sábato. Fiz um relato sobre sua vida, descrita na obra "Antes del fin". Este livro conta toda trajetória de Sábato, desde a infância, sua militância comunista, sua atuação como professor universitário, até largar tudo e se tornar um escritor.

Escrito em 1948, "El túnel" repercutiu também na Europa onde escritores famosos como Graham Greene e Albert Camus manifestaram sua admiração pelo livro. Graham Greene disse: "Tenho grande admiração por "El túnel" por sua magnífica análise psicológica. Não posso dizer que o li com prazer, mas sim com absoluta absorção."

O livro é tão esplêndido que sorve o leitor até a última linha da história (o último parágrafo reli várias vezes).

Os protagonistas, o pintor e artista Juan Pablo Castel e Maria Iribarne vivem a trama de uma tragédia anunciada. Tudo começa numa exposição das obras de Juan Pablo, quando ele percebe uma dama que fica muito tempo sozinha observando uma de suas obras. Isso o impressionou demais com a contemplação diferente daquela mulher em sua obra.

"La ventanita"
A obra é uma mulher aparecendo em uma janela para o mar, "La ventanita" (a janelinha).

A partir daí, começa uma busca desenfreada de Juan Pablo para encontrar Maria. Depois de muita busca, Juan Pablo a encontra e começa, então, o desenrolar de um episódio entre o real e a ficção envolvendo a história dos protagonistas imersos na dramática trama.

Os encontros começam a acontecer, porém Juan Pablo, enlouquecido pela paixão, submete Maria a inúmeras e incansáveis perguntas em todo encontro. A tortura psicológica se manifesta de forma brutal e desequilibrada. A cada encontro um diálogo tóxico que deixa Maria cada vez mais arredia. De personalidades completamente opostas, Juan Pablo desequilibrado psicologicamente, enquanto Maria se mantinha sempre calma e comedida, mesmo com todas agressões verbais sofridas.

Um dia Juan Pablo descobre que Maria era casada com um cego e que tinha uma propriedade fora de Buenos Aires, onde a história de desenvolve. Para fugir dos ataques desatinados de Juan Pablo, muitas vezes Maria se refugiava na estância. Aloucado Juan Pablo inferia que Maria tinha um amante na estância e por isso lá ela passava dias. Isso foi enlouquecendo cada vez mais Juan Pablo e calando Maria.

Uma das passagens do livro neste episódio: "Pelo ella no volvia. A medida que fueron pasando los dias, cresci en mí una espécie de locura."

"Mis sentimientos, durante todo ese período, oscilaron entre el amor más puro y el odio más desenfrenado, ante las contradiciones y las inesplicables actitudes de Maria; de pronto me acometía la duda de que todo era fingido."

Entre os diálogos de Juan Pablo com Maria, a maioria das vezes era assim: "Si alguna vez sospecho que me has engañado - le decia com rabia - te mataré como a un perro."

A pressão psicológica, estúpida e demente que Juan Pablo impunha a Maria durante toda a história, é como disse Graham Greene sobre o livro: não dá prazer em "presenciar" as atrocidades de Juan Pablo, porém nos absorve de tal forma que é impossível parar a leitura.

Assim, a novela se desenrola até o fim com a psicologia introspectiva e egoísta de Juan Pablo. A desesperança se agravava a cada atitude insana de Juan Pablo.

Durante toda obra Juan Pablo luta com duas forças antípodas: a razão e a intuição. Sua força racionalista culmina em uma sequência absurda de hipóteses que o conduzem para a necessidade de matar Maria, para referendar sua posição de domínio.

Em "El túnel", Sábato nos manifesta através da consciência de Juan Pablo que não há esperanças, que é impossível alcançar o amor absoluto. É um livro intrigante e muito real.

Vou dar um pequeno spoiler do final. Disse Juan Pablo: 

"Soló existió un ser que entendía mi pintura"


Professor Mario Mello

terça-feira, 7 de setembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXV - OS LIVROS QUE DEVORARAM MEU PAI

Surpreendente!

Inesperado!

Extraordinário!

Extranatural!

Resolvi começar o texto com adjetivos que fui buscar no dicionário para descrever o que achei deste livro.

"Os livros que devoraram meu pai" me chamou tanto a atenção pela genialidade que precisei ir ao dicionário para buscar palavras para descrever parte dos meus sentimentos antes (pelo nome), durante e após a leitura.

Afonso Cruz
Multipremiado autor de romances, Afonso Cruz (1971- ) português de Figueira da Foz, mostrou toda sua magistralidade como escritor.

O protagonista Elias Bonfim perdeu o pai ainda antes de nascer. O pai, Vivaldo Bonfim, era um leitor voraz. Levava livros e mais livros escondidos ao trabalho para ler durante o dia todo. Até que um dia ele desapareceu. De tão entretido, de tão concentrado na leitura, adentrou um livro e desapareceu.

Quando Elias completou 12 anos a avó dele o chamou para uma conversa e lhe deu a chave do sótão, como herança, onde ficava a enorme biblioteca do pai. E aí, meus caros, começa a "viagem".


Elias na ânsia de encontrar seu pai, começa uma maratona de leituras, na busca de uma pista para encontrar o pai. Elias começa sua aventura pelos grandes clássicos, percorrendo obras repletas de assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos feitos de letras.

Elias começou a "entrar" nos livros.

A primeira pista de Elias é o livro "A ilha do Dr. Moreau", que foi o último livro que seu pai leu, antes de desaparecer, pois o pai costumava deixar anotações nos livros.

Obras como a "Odisséia", "O médico e o monstro", "A divina comédia", "Crime e Castigo", "A revolução dos bichos", entre outras são percorridas por Elias onde ele trava diálogos com os personagens na incessante busca pelo paradeiro de seu pai.

Elias é apaixonado por Beatriz, colega de colégio, porém não era correspondido, pois Beatriz gostava de um amigo seu, Bombo. Aqui também acontece a convergência com a obra de Dante, "A divina comédia"que também tinha a Beatriz como a mulher a ser amada.

Em certa ocasião a mãe de Elias deixou-o de castigo porque ele sempre se atrasava para o jantar, por conta das intermináveis leituras. Neste episódio, Elias diz à mãe que irá fazer como o "Barão nas árvores" livro de Italo Calvino, cujo personagem foi morar em árvores após um desentendimento com o pai. E assim vai a história com Elias adentrando nos livros, conversando com os personagens na busca de pistas de seu pai.

São muitos diálogos e passagens por vários livros que não cabem neste pequeno texto. Um dos pontos chaves da história é quando Elias encontra Raskolnikov. Emblemático personagem assassino do romance "Crime e Castigo" de Dostóievski. Raskolnikov conheceu seu pai Vivaldo Bonfim e dele só tinha boas lembranças. O frio assassino se comove com a história de Elias, chora e diz:


"As pessoas tornam-se livros. Esses livros são verdadeiramente vivos. E isso foi minha salvação. Seguindo conselho de seu pai, decorei o livro "Crime e Castigo" de Dostóievski, não com o intuito de contá-lo tal qual foi escrito, mas, acima de tudo entendê-lo. Isso significaria entender-me".

Inteligentíssimo, isso. Muito criativo.

Mas, enfim, será que o jovem Elias encontrará seu pai?

Que pistas "A Divina Comédia", "O médico e o monstro", "Crime e Castigo" darão a Elias para resgatar seu pai?

Só posso dizer o seguinte (que já disse de outros livros): "Os livros que devoraram meu pai" é um dos melhores, mais inteligentes, criativos e formidáveis de todos os livros que já li.

Professor Mario Mello

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXIV - OS SETE ENFORCADOS

A décima novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Os sete enforcados". 


Escrita por Leonid Andreiev (1871-1919), um dos mais importantes autores de contos da 
literatura russa, também foi um dos mais emblemáticos escritores pessimistas. Sua obra literária é povoada de infelizes personagens que inspiram compaixão. 

Leonid Andreiev

Os sete enforcados é uma trama sobre homens e mulheres presos, à espera do fim iminente - da morte!

Andreiev discute na novela o sentido da vida a partir da prisão, e, muito mais que isso, a dúvida sobre a legitimidade da pena de morte.

A novela conta a rápida trajetória de sete condenados ao enforcamento, que vão para uma prisão de segurança máxima para aguardar a temida hora da execução. 

Desses sete condenados, cinco são jovens ativistas que planejaram a morte de um ministro. Foram delatados por alguém e assim impedidos de praticar o atentado sendo presos, julgados e condenados. Dos outros dois condenados um era um ladrão e outro um assassino confesso.

Colocados na prisão, em celas individuais, aguardavam angustiados e torturados psicologicamente (por eles mesmos) à espera da morte. Em uma passagem da novela, uma dos condenados reflete:

"Nunca pensara na morte, e não fazia dela uma imagem clara - mas agora percebia-a nitidamente; via-a, sentia que ela penetrara na cela e tateava à procura dele. Para salvar-se, pôs-se a correr pela cela exígua, enlouquecido."

Com doses perfeitas de realismo o autor mostra as incertezas e inseguranças do homem diante do anunciado fim. Dia e noite o único som ouvido nas celas era de um relógio que badalava seu sino de 15 em 15 minutos com toques longos e melancólicos. Isso provocava um tormento sem fim nos condenados.
Enfim, uma noite chegou a hora de partir da prisão para o enforcamento. Novas angústias e tormentos se apossaram dos condenados. O personagem principal era a morte.

Quero finalizar dizendo que ao ler a última das dez novelas que Fernando Sabino, com maestria selecionou na literatura mundial, fico com a sensação de que esta foi a melhor. Mas já tinha falado isso antes sobre outras das novelas. Não sei......
Só sei que é uma leitura imperdível para conhecer as fraquezas humanas e o suplício no aguardo da morte.
Surpreendente, excepcional, admirável!!!!

Professor Mario Mello

sábado, 21 de agosto de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXIII - CAMÕES 200 SONETOS

 Luís Vaz de Camões (1524-1580) nasceu em Lisboa e viveu uma vida plena de aventuras à serviço do reino português.

Considerado um dos grandes poetas de todos os tempos, Camões simbolizou uma época dos descobrimentos.

Por conta dessas aventuras Camões perdeu seu olho direito em uma batalha contra os mouros no Marrocos. Diz a história que Camões fazia muito sucesso com as mulheres e era frequentador da corte e das festas do Rei D. João III.

Luís Vaz de Camões
Sua grande obra foi "Os Lusíadas" poema-símbolo da língua portuguesa que relata a grande saga dos descobrimentos.

Quem não lembra de ter estudado Os Lusíadas nos tempos de ensino médio? 

O livro que comento aqui chama-se "Camões - 200 sonetos". É uma coletânea feita pela editora L&PM com os antagonismos do amor Camoniano.
A riqueza temática desses poemas traz reflexões complexas ao lado de simples narrativas.
Um exemplo:
"Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que mostrais,
Nem todos para um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades."

ou ainda:

"Na vida, desamor somente vi;
Na morte, a grande dor que me ficou.
Parece que para isso só nasci!"

Enfim, são 200 sonetos todos eles escritos com duas quadras e dois tercetos. Segundo o Professor Ricardo Russo, que faz o prefácio do livro, a escrita de Camões neste formato, não se trata da métrica pela métrica, mas sim da construção do verso a serviço da poesia - característica dos grandes.

E assim, nestes sonetos Camões explica um pouco das complexidades do homem do século XVI, bem como seu singular mundo.

Por fim, ler Camões não é uma tarefa fácil, porém nos remete a um pensamento de uma época que o mundo "aumentou" de tamanho. Indiscutivelmente o talento poético de Camões não pode ficar apenas nas lembranças do ensino médio. Vale a pena reler, para quem já leu, ou conhecer e se encantar, para quem ainda não leu, com o talento de Camões.

"Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas maiores alegrias maior tristeza."

Esse é Camões!!

Professor Mario Mello


sábado, 31 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXII - O SOM DO SILÊNCIO

 "Se a música fosse apenas uma combinação de sons, não ocuparia um espaço tão grande na vida dos homens. Porque a música é uma janela do espírito, uma força capaz de envolver e transformar quem a ouve, ela acompanha o ser humano na sua caminhada pelo mundo."


Essa é uma das poesias escritas por Luiz Carlos Lisboa (1929 - ), no livro "O som do silêncio".

Luiz Carlos Lisboa não é um poeta romântico ou dramático com o rigor da estrutura textual. É sim um poeta que escreve sobre reflexões sobre os caminhos que a vida mostra.

Neste livro a tônica é sobre o silêncio. Diz Lisboa em uma passagem:

"O monge descobre que, quando aprende a se calar, Deus o chamará filho. Antes disso, ele ouvirá sempre a si mesmo com voz emprestada, falando do que não sabe. Depois disso ele talvez possa ouvir o som do silêncio."

Luiz Carlos Lisboa

O autor sugere ao leitor reflexões sobre coisas do cotidiano, muitas vezes aparentemente sem importância, para as pessoas. Como neste trecho onde a singela beleza de uma noite chuvosa é ressaltada:

"A beleza de uma noite de chuva é um pouco como a beleza de uma tarde de sol, num dia de calor. Quando não há ideias feitas sobre o céu escuro, ou sobre a ardência do deserto, existe apenas a realidade pura, em toda sua grandeza. O encanto das coisas é sempre novo e imprevisto, não importa o que seja."

Assim, com uma abordagem leve das coisas, o autor nos faz viajar por belezas encobertas pela rotina do dia a dia.

Lisboa diz que é no silêncio que encontramos muitas respostas que procuramos, além de descobrir quem realmente somos.

Saber escutar o som do silêncio é uma virtude para descobrir a paz interior.

"A experiência de reduzir ao mínimo a própria fala pode demonstrar resultados surpreendentes. Ainda assim são poucos os que se aventuram ao silêncio, como são raros os que ousam caminhar na sua direção."

Enfim, é um ótimo livro que traz leveza e a centelha de escutar o som do silêncio.

Professor Mario Mello


quinta-feira, 22 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXI - O APRENDIZ DA MADRUGADA

"Aos que pensam que a paisagem vista de uma janela é sempre a mesma, é bom lembrar que as estações do ano e a posição do sol no céu, fazem combinações de cor e forma que nem mesmo um computador seria capaz de contar e dividir.
Somente os olhos humanos, quando estão de fato abertos, podem descobrir que nunca é a mesma a paisagem que se vê de uma janela."

Essa é uma das poesias do livro "O Aprendiz da Madrugada" de Luiz Carlos Lisboa, nascido em 1929 e hoje com 91 anos.

A poesia é uma manifestação de beleza e estética transformada em palavras pelos poetas. A poesia fala da comunicação do homem com alguma coisa que não é apenas sua consciência. 

A razão e a mente humana viajam por um mundo fabricado por elas e onde o homem pode ser razoavelmente feliz, nos limites dos medo, da imaginação e da felicidade.

Apreciar poesias é um exercício de contemplação do belo. É poder, através da imaginação, criar cenários onde nos inserimos com a sensibilidade na busca de novos e felizes sentimentos.

Neste livro, Luiz Carlos Lisboa nos leva a sonhar, mesmo que seja fictício, com o belo, com o silêncio, com a sabedoria e com a contemplação da formosura das coisas.

O livro começa assim: 

"De manhã bem cedo, ainda no escuro do quarto ela me abraçou devagar e disse: "Que saudades, meu bem. Não vi você nos meus sonhos, esta noite". Por alguma razão, sei que não vou me esquecer disso. Talvez nem ela." 

O livro foi escrito em 1994 quando ainda não tínhamos Facebook ou Instagram e olha o que Lisboa escreveu: 

"Ela sorri na tela colorida, num seu momento de glória, imagem do que chama de sucesso. O que nela é real e de fato a ela pertence, está sepultado sob as ideias que tem de si mesma e do mundo, como seu rosto sob a maquiagem. Brilhante, dourada, a personagem que inventou para si é a casca, porque sua verdade encantadora está agora perdida para sempre."

Enfim, gostar de poesia faz bem para a alma e para a razão. A beleza e a verdade ocorrem, apesar da consciência. Essa viagem interior pode ser feita numa fração de segundo ou pode durar uma vida inteira .

Na paz da madrugada o aprendiz tem um momento propício para os mistérios que se revelam no silêncio.  A quietude, a serenidade e o sossego trazem a tranquilidade de uma leitura que conforta a alma.

"Não é preciso entender de flores para conviver com a sua beleza".

Não é preciso entender de poesia para conviver com a sua beleza.

Professor Mario Mello





domingo, 18 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXX - SALVANDO A MONA LISA

 As inúmeras histórias da Segunda Guerra Mundial cada vez trazem mais perplexidade em função da desumanidade pratica por Hitler e suas tropas. 

Fonte: Google
A obsessão de Hitler pelo expansionismo da Alemanha e seu antissemitismo gerou o maior conflito da humanidade com mais de 60 milhões de mortos. 

A expansão territorial defendida pelos alemães fazia parte de um elemento da ideologia nazista que defendia a formação de um “espaço vital” que abrigaria os arianos. A prosperidade dos alemães seria garantida por meio da exploração de povos enxergados como “inferiores”.

Entre tantos terríveis capítulos da Segunda Guerra está a impetuosidade de Hitler em saquear obras de arte  dos países dominados por ele.
Neste contexto entra nossa história de hoje que é o livro "Salvando a Mona Lisa". A escritora Gerri Chanel fez uma profunda pesquisa do período em que se iniciou a invasão nazista na França até o final da guerra.
"Salvando a Mona Lisa" conta a extraordinária batalha de renegados curadores e funcionários dos museus, para proteger o Louvre e seus tesouros dos ávidos nazistas.

No final de 1939 quando a guerra começou a eclodir na Europa, os curadores do Museu do Louvre guardaram o quadro mais famoso do mundo em um estojo especial forrado com veludo vermelho e o enviaram ao Vale do Loire, ao sul da França, para proteger da iminente guerra.

Assim, aconteceu com milhares de obras do Louvre que foram embaladas e transportadas por centenas de caminhões para vários castelos na França com o mesmo intuito de proteção à guerra. Isso gerou um trabalho fenomenal e gigantesco para dezenas de curadores e funcionários dos Museus Nacionais que arriscaram a própria vida e de sua família, para proteger a importante e numerosa arte dos museus franceses, tanto dos bombardeios quanto do saque dos alemães.

Quanto mais os nazistas de aproximavam de Paris os franceses se apressavam para despachar as obras-primas para vários castelos ao sul da França. Antes e durante a ocupação nazista as equipes dos museus lutou muito para manter inestimáveis tesouros longe das mãos de Hitler.

Nessa incrível batalha, muita vezes silenciosa, um francês chamado Jaques Jaujard (1895-1967) foi o grande mentor e protetor das obras do Louvre e especialmente da Mona Lisa que era o tesouro mais precioso. Jaujar é reconhecido como o grande herói na proteção das obras de arte uma vez que conseguiu várias negociações importantes de proteção, tanto com o governo francês (submisso aos nazistas), quanto com as autoridades alemães.

Jaujard pastoreou os tesouros do Louvre  à segurança com uma quantidade inimaginável de energia e uma milagrosa mistura de diplomacia e sagacidade.

Outra grande personagem e heroína, foi Rose Valland. Ela se infiltrou e espionou os nazistas durante 4 longos anos. Após o final da guerra viveu para localizar e devolver, à França, milhares de obras de arte roubadas pelos nazistas.
Guarda com a Mona Lisa

A Mona Lisa sempre foi a maior preocupação dos protetores da arte. Sua embalagem era identificada com uma espécie de código secreto para que não fosse reconhecida por qualquer pessoa durante essas constantes migrações das obras entre os vários esconderijos nos castelos.

Nazista Göring
O nazista mais obcecado por saquear obras de arte dos franceses era o General Hermann Göring. Na foto ele aparece com uniforme de gala e seu bastão cravejado de joias. Göring era implacável com os curadores franceses na busca por obras que aumentassem o seu acervo particular. Chegou, em certa oportunidade, levar à Alemanha mais de mil obras para ele e para Hitler. 

O livro traz tantas passagens deste período da guerra e destes episódios sobre as artes, onde muitas dessas passagens são revoltantes, demais. Os nazistas chegaram à crueldade de queimar centenas de obras, inclusive de Picasso, com a simples suspeição de que àqueles artistas eram simpatizantes do comunismo.

Bem, como o enredo faz parte da triste história da Segunda Guerra Mundial, o final do livro pode ser facilmente previsto: as obras voltaram ao Louvre com o final da guerra em 1945 e lá presenteiam seus visitantes até hoje com o encantamento de uma arte de centenas de anos.

Mona Lisa voltando ao Louvre

Na foto de 1945, a Mona Lisa sendo desembalada no retorno ao Louvre.

Fonte: Google
Graças a muitos heróis, protetores da arte, pode-se novamente contemplar a pintura mais famosa do mundo no memorável Museu do Louvre, onde dezenas de pessoas diariamente se apinham para aquela foto especial.


Então, para quem gosta destas histórias da Segunda Guerra Mundial, não deixe de ler este extraordinário livro com um encantador e poderoso relato de homens e mulheres que lutaram, alguns até a morte, para salvar o patrimônio da França.

Como disse a heroína Rose Valland do porquê arriscar a vida pelas obras de arte: 
"Salvar um pouco da beleza do mundo"

Professor Mario Mello

domingo, 4 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXIX - PROMETEU, OS HOMENS E OUTROS MITOS

Afrodite a deusa do amor
 
Que a mitologia grega desperta interesse, fascínio e encanto há centenas de anos, é na realidade dizer o óbvio. Me incluo nestas pessoas ávidas pelas incríveis histórias desses personagens míticos, desde sempre.

Zeus, o mais poderoso dos deuses
Fazendo uma breve recapitulação dos mitos: os Titãs nasceram da união entre Urano, que representava o céu e Gaia que representava a terra. Os Titãs eram seres híbridos, nenhum era humano e todos tinham o poder de se transformar em animais.

Os Titãs eram os ancestrais dos futuros deuses olímpicos (eram 12) como Zeus, Apolo, Afrodite, Poseidon, Dionísio, entre outros. 

Existiam também, os semideuses que eram filhos dos deuses com humanos mortais. 

Autor: Menelaos Stephanides

O mito Prometeu, era filho do Titã Jápeto e da ninfa Ásia. Prometeu é uma figura muito famosa na mitologia grega, por ter realizado uma grande proeza que foi roubar o fogo dos deuses para dar a humanidade. Desta forma, se tornou o maior inimigo de Zeus.

Prometeu teve vários conflitos com Zeus, ficando sempre ao lado dos humanos enquanto Zeus, gostava de castigar os humanos. Estes conflitos foram se intensificando até Prometeu roubar o fogo dos deuses e ceder aos humanos. Inconformado, o poderoso Zeus aplicou um severo castigo a Prometeu. 

O grande Zeus ordenou que ele fosse preso a um rochedo, com correntes forjadas no céu, por toda a eternidade. Prometeu ficou, então, preso ao rochedo com correntes de ferro tão fortes que ninguém conseguiria arrebentar. Não bastasse isso, uma águia diariamente vinha e comia o fígado de Prometeu. Conta o mito que a águia comia de dia e à noite o fígado se regenerava, proporcionado a volta da águia no dia seguinte. Isso ocorreu diariamente durante muitos séculos.

Enfim, não vou contar o final da história. Apenas dizer que Prometeu foi um dos maiores protetores da humanidade contra os castigos dos deuses.

O livro ainda traz outros episódios fantásticos da mitologia grega. 

Um deles é a história de Dédalo e seu filho Ícaro. Desde os tempo imemoriais o homem almejou voar pelo céu. Usando correias de couro, Dédalo prendeu um par de asas nos braços e nos ombros seus e também de Ícaro. Porém Ícaro se descuidou subiu demais e o calor do sol derreteu a cera que colava as penas nas asas, fazendo com que as asas se desintegrassem ocasionando a queda brusca de Ícaro.

Outra fascinante história é a de Níobe. Mãe de quatorze filhos, ousou sempre dizer que seus filhos eram os mais belos do mundo todo. Dizia ela: não são os mais belos da terra, mas do céu também. Isso provocou a ira desenfreada na deusa Leto que eram mãe de Apollo e Ártemis. A vingança da deusa Leto é considerada a mais dramática de toda a mitologia grega pela crueldade da deusa com Níobe.


Todos os filhos de Níobe foram cruelmente mortos a mando de Leto. Uma vingança desproporcional e sem sentido com uma humana. A carnificina foi inimaginável terrível demais para ser descrita.

O livro tem também a história de Pã o deus mais pobre, feio e desprezado, cuja própria mãe recusou-se a reconhece-lo. É o deus dos pastores, pois Pã tinha pés de caprinos. Porém, Pã foi extremante habilidoso com a flauta. Pã era um músico extraordinário, as doces melodias de sua flauta ressoavam pelas encostas das montanhas e os pastores ficam inebriados. 

Pã travou um duelo incrível com o deus Apolo para saber quem era o músico mais extraordinário. O final? Não vou contar. Leia este livro magnífico.

Enfim, o livro tem várias passagens da mitologia grega dignas de uma viagem incrível pela ficção. Ou será pela realidade dos tempos?

Pois é, reflexões à parte o livro é digno de uma leitura prazerosa, agradável e instigante.

Professor Mario Mello