terça-feira, 18 de agosto de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLVI - O DESERTO DOS TÁRTAROS


Dino Buzzati (1906-1972) um dos maiores autores italianos do século XX, foi também jornalista do Corriere della Sera, em Milão, por mais de 40 anos.


   Publicado em 1940 pela primeira vez, "O deserto dos Tártaros", imediatamente foi reconhecido como algo novo e importante, porém demorou alguns anos para ser distribuído pelas grandes editoras.

O deserto dos Tártaros é um livro com uma uma história incrível de um jovem militar designado para servir numa fortaleza nas montanhas italianas, que já teria sido muito importante em outras épocas. 

Importante defesa militar para evitar um possível ataque dos Tártaros, a fortaleza aguarda o ataque dos Tártaros, que não aconteceu. Hoje, a fortaleza encontrava-se solitária e quase esquecida. 

 É neste cenário que nosso protagonista, o jovem, Giovanni Drogo, deixa sua cidade para se apresentar no Forte Bastiani.

Era aquele o dia esperado havia anos, pois foi promovido a oficial, e, era para ele o começo de sua verdadeira vida.

Chegando ao Forte, Drogo é recebido pelo comandante que insinua uma possível volta à cidade em poucos meses. O tempo vai passando e Drogo vai ficando no Forte. Passam-se anos e esta volta não acontece. 

Assim, Drogo vai se entregando à rigorosa disciplina militar do Forte e também à acachapante rotina diária. Além disso, o completo isolamento do mundo exterior ao Forte.

Não é sobre a vida militar que fala o livro e sim sobre a vida de todos nós. Fala da imobilidade de não fazermos nada e aceitar as coisas como são, podendo um dia sermos surpreendidos com o que a vida reserva mais pra frente.

Drogo foi um militar exemplar, cumpridor ao extremo das regras do Forte sempre a espera da invasão dos Tártaros, que nunca aconteceu. Já com 54 anos e com a Patente de Major, Drogo adoece no Forte e um profundo drama se instala em sua vida.

Aqui está, na minha visão a parte central do romance. Uma vida inteira dedicada a uma causa (proteger a Itália da invasão dos Tártaros), e um desfecho emocionante, mas ao mesmo tempo mostrando a crueldade das pessoas. Será que Drogo fez a aposta errada em sua vida?

Obviamente não vou aqui contar o final do livro, mas diria que é muito impactante emocionalmente.

Escrito há oitenta anos atrás, o livro parece endereçar-se a nós no século XXI. 

Sem dúvida, é um dos melhores livros que já li. 

Dino Buzzati consegue, genialmente, nos propor uma reflexão sobre as escolhas que fazemos durante a vida.

Não deixe de ler, é realmente um livro imperdível.

Professor Mario Mello

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLV - ZAZIE NO METRÔ

 Raymond Queneau (1903-1976) autor francês publicou "Zazie no metrô" em 1959 e ganhou fama mundial com esse incomum romance.

 

Somente na França foram vendidos mais de um milhão de exemplares, pois o romance caiu nos gosto dos franceses pela sua espontaneidade e pela vivência do dia-a-dia dos personagens.

A protagonista Zazie é deixada pela mãe, para ficar alguns dias com o tio Gabriel em Paris. Adolescente "desbocada", Zazie mostrou uma rebeldia característica da idade.

Como ela não era de Paris, seu sonho era conhecer o metrô, porém uma greve dos metroviários atrapalhou seus planos.

Queneau é dono de uma linguagem muito peculiar no livro que segundo alguns críticos, sob o ponto de vista da arquitetura literária, Zazie é um romance muito bem feito. 

No início da minha leitura, achei que tinha alguns erros de português no livro, o que imediatamente pensei: não pode ser. Tem alguma coisa. E tinha.

O autor usa termos agrupando palavras como"vagãobundar", "keketákomendoaki", "kekefoikevocêdiss" entre outras.

Romance de poucos personagens, tem uma leitura agradável e muito cotidiana com situações engraçadas e muito verdadeiras. Por exemplo, um dos personagens é um papagaio que a toda hora diz: "falar, falar, você só sabe fazer isso", pois a "tagarelice" era tanta que até o papagaio se incomodava. 

O tio Gabriel além de dançarino em uma boate gay, também fazia as vezes de guia turístico, e aí vem toda a trama que termina numa trapalhada sem fim para os personagens. A história toda, acontece em praticamente apenas um dia em Paris.

O livro além de ser bom, é bonito. As páginas são de papel Opaque de uma textura incomum. Além disso as páginas são grudadas duas a duas e no meio delas aparecem muito desenhos lindos, como da figura ao lado. Porém, para isso é preciso "desgrudar" as páginas com uma navalha ou estilete.

Muito show!!!!

Pois bem, é minha primeira leitura deste autor Raymond Queneau e digo que fiquei com uma ótima impressão pela genialidade de fazer diálogos entre os personagens, muito reais.

De diálogos, muitas vezes ásperos, possui uma linguagem direta e talvez aí, seja o grande mérito de Queneau, em Zazie.

Bem, e o final?

O final é mítico, pois se descreve em uma pergunta da mãe para Zazie e sua surpreendente resposta é em apenas uma palavra. Achei isso muito talentoso e inteligente.

Portanto, recomendo muito a leitura deste que é um dos principais romances franceses do século XX.

É muito bom!!


Professor Mario Mello