domingo, 14 de março de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXIII - SÍLVIA

 


A nona novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Sílvia". 

Escrita por Gérard de Nerval (1808-1855), um dos mais importantes autores da literatura francesa, também foi um dos mais emblemáticos representantes do romantismo francês.

Gérard de Nerval
Nerval ficou mais conhecido pela obra poética, porém produziu algumas das mais famosas novelas da literatura francesa. Assim, "Sílvia" é considerada sua obra-prima.

Neste clássico da literatura do século XIX, presente e passado se alternam na figura de um narrador apaixonado que parece não entender muito bem o objeto do seu desejo.

Nosso protagonista é um jovem apaixonado por três mulheres: Silvia, Adriana e Aurélia.

A idealização romântica dos sentimentos, a eterna busca pela completude e a dúvida acerca do verdadeiro amor, são os ingredientes básicos desta incrível novela e desta jornada sentimental que mistura fantasia e realidade.

A novela traz encontros e desencontros do protagonista pela realização da paixão verdadeira. Sílvia foi o primeiro amor; Adriana uma noviça de origem nobre por quem o jovem se apaixonou e Aurélia uma atriz de teatro por quem se encantou desde a primeira vez que a viu.


Nessa procura desesperada pelo amor de uma das três mulheres o jovem se perde completamente. 

Diz nosso protagonista: "Tais são as quimeras que nos encantam e nos alucinam na aurora da vida. Tentei fixá-las sem método nem ordem, porém muitos corações me compreenderão."

Depois de conhecer Adriana e Aurélia, o jovem volta à sua cidade natal em busca do amor de infância, Sílvia. Depois de algumas desilusões fica a pergunta: onde está o amor?

De trapalhada em trapalhada, o jovem leva Silvia a um castelo onde ouvira Adriana cantar e pede para Silvia cantar. 

Sempre desafiando o passado, nosso jovem tenta de todas as maneiras derrotar sua maior inimiga: a solidão. Será que consegue?

O final da história é muito instigante!

É, sem dúvida, uma bela novela!

Não deixe de ler!

Professor Mario Mello


sábado, 13 de março de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXII - O CLUBE DOS SUICIDAS

Coleção das Novelas
 

A oitava novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "O Clube dos Suicidas". 

Robert Stevenson
Escrita por Robert Louis Stevenson (1850-1894), também autor do consagrado romance "O médico e o monstro". Stevenson nasceu nas Escócia, mas foi na Inglaterra que se tornou um influente novelista e poeta.

Stevenson teve uma vida bem agitada ao longo de seus 44 anos (morreu muito jovem). Seus últimos anos de vida foi numa ilha do Pacífico sul, chamada Samoa. 

Entre as violentas crises de tuberculose que o perseguiu durante as sucessivas viagens, Stevenson elaborou uma variada e numerosa produção literária. Sua consagração inicial veio com o romance "A ilha do tesouro".

E entre suas várias e consagradas novelas está "O Clube dos Suicidas". Um clube de candidatos ao suicídio que não têm coragem de realizar por si próprio o seu intento. 


Esta é a essência da extravagante e misteriosa história apresentada por Stevenson. Uma novela com ares de um romance policial que pode ser precursor de criações como as de Sherlock Holmes.

O Clube dos Suicidas tinha um preço de 40 libras para entrar e o requisito básico era vontade de morrer. Essas estranhas condições faziam parte de um grupo de cavalheiros que não tinham coragem de se matar.

Mas, a novela se desenrola quando o Príncipe Florizel e seu fiel confidente Coronel Geraldine, em busca de aventura, e, sem saberem as regras do clube, entram como sócios. 

Quem deve morrer
Em cada sessão do clube eram sorteadas cartas de um baralho, entre os participantes, para saber quem seria morto e quem mataria. Quem recebesse o ás de espadas era quem deveria morrer e quem receberia o ás de paus é quem deveria matar.

Quem deve matar
O clube possuía um presidente que ao longo do tempo o Príncipe foi conhecendo e vendo o assassino cruel que ele era.

O que era para ser mais uma aventura da dupla, torna-se um caso complicado de resolver. O Príncipe Florizel começa, então, uma minuciosa investigação para descobrir quem está por trás dos assassinatos.

Como diz Fernando Sabino, o organizador dessa coleção de novelas: "se a arte de contar histórias é a arte de divertir, ensinar, espantar, arrebatar e manter aceso o interesse do ouvinte, conforme acontecia com as que lhe contava a governanta na sua infância, então Stevenson aprendeu bem a lição.

É uma novela que prende o leitor até o final, pois a trama só se resolve nas últimas linhas do livro.

A bondade e a generosidade do Príncipe Florizel, contrasta com a crueldade dos sócios do clube. 

A história tem mega festas, ocultação de cadáver, duelos, trapaça entre outros ingredientes de uma boa trama. É simplesmente formidável.

Das oito novelas, da coleção, que já li, esta, está entre o "top three".

Vale muito a leitura!

Bom entretenimento!

Professor Mario Mello



quarta-feira, 10 de março de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXI - O ETERNO MARIDO

Dostoiévski

 Cada obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881) é um assombro. 

Como diria o próprio Dostoiévski: "quero poder falar de tudo, com pelo menos uma pessoa, até comigo mesmo."

Considerado um dos maiores "psicólogos" que já existiram, suas obras são densas e cheias de profundas abordagens psicológicas em seus personagens.

Não é diferente em "O eterno marido". Passando por temas como moralidade, amor erótico, tortura mental e neurose, a obra revela toda genialidade de Dostoiévski.

Esta obra, por tratar-se de uma edição especial e limitada, da editora Nova Fronteira, traz em seu início, um capítulo chamado "Os caminhos de Dostoiévski" onde é contada a história do autor, com passagens muito interessantes.

Considerada uma de suas criações mais poderosas e perfeitas, traz uma compreensão profunda do trágico e do cômico. Mesmo sendo considerada uma das obras mais leves de Dostoiévski, com uma veia humorística mordaz, ela não deixa de revelar uma tortura mental nos dois protagonistas da história.

Um dos protagonistas Veltchaninov há anos aguardava o desfecho de um processo judicial onde ele teria uma significativa quantia em dinheiro para receber. 

De aspecto muito vigoroso, alto, robusto, aos 39 anos, vivia muito bem e folgadamente. 

O outro protagonista, o cidadão de chapéu cintado de crepe, Pavel Pavlovitch, que não morava na mesma cidade de Veltchaninov, porém em certo tempo apareceu na cidade e começa o tumulto na vida de Veltchaninov. 

Eram conhecidos de quando Veltchaninov morou por um tempo na cidade de Pavel e lá apaixonou-se pela sua mulher tornando-se amante dela. Pois bem, era óbvio que Pavel sabia deste romance, porém em momento algum tocava no assunto com Veltchaninov. O romance secreto tem um fim inesperado quando a mulher de Pavel, diz ao amante que era melhor ele mudar de cidade, pois ela estava grávida.

Veltchaninov assustado com a circunstância abandonou a amante e a cidade onde morava, deixando para trás a relação e a amizade que tinha com o casal. Não soube que a mulher de Pavel falecera logo em seguida a sua partida da cidade.

A história se desenrola com este encontro surreal de um viúvo traído com o amante de sua esposa morta.

O encontro entre os dois "maridos" ocorreu nove anos depois, quando Veltchaninov ficou nervoso, desconcertado e envergonhado de si mesmo e pressentia que alguma coisa fora do comum estava por acontecer.

A relação entre os dois começou a ser diária, conflituosa e de grande tortura mental (característica de Dostoiévski) para Veltchaninov. Piorou muito quando Pavel diz que trouxe a filha Lisa de 9 anos junto consigo, para passar uma temporada na cidade.

Veltchaninov foi a loucura com a descoberta de Lisa. A tortura psicológica entre os dois passou a ser intensa e destrutiva. Pavel bebia muito e maltratava Lisa. Veltchaninov não sabia o que fazer para resolver a situação.

Bem, e assim a história avança com requintes de crueldade, muitas vezes, mas com a neurose e a tortura psicológica dos dois protagonistas.

Passado um tempo e muitas confusões depois, Pavel se afasta de Veltchaninov e se casa novamente. Porém, o destino parece se repetir: em uma estação de trem Pavel e sua mulher encontram Veltchaninov que estava viajando para a mesma cidade dos dois.

Pavel puxou Veltachaninov por um braço e falou: "Então? Você vai mesmo à nossa casa?"

Que história, meus amigos. Sabe quando você quer fazer um "top five", "top ten" dos livros que você elegeria? 

Pois quando trata-se de Dostoiévski não é possível. Ele é "hors concours".

Clássico imperdível!

Professor Mario Mello

segunda-feira, 8 de março de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LX - UM ARTISTA DA FOME / A CONSTRUÇÃO

 Franz Kafka (1883-1924) escritor nascido em Praga (hoje Republica Tcheca) se notabilizou pelas suas obras "O Processo" e "A Metamorfose". Quase desconhecido em vida, alternou períodos em trabalhos burocráticos e passagens pelo sanatório. 

Sua obra, marcada pela questão da subserviência involuntária, a brutalidade do poder e a impotência cidadã, acabou influenciando escritores como: Albert Camus, George Orwell e Gabriel Garcia Marques, entre outros.

Franz Kafka é um escritor que é impossível não ler. Considerado, em sua época, uma pessoa estranha, tanto que foi parar várias vezes no sanatório, Kafka traz em suas obras o bizarro, o incompreensível e o inconsciente.

Neste livro encontramos quatro contos e uma novela escritas por Kafka, no fim da sua vida. 

São todos carregados de humor e mistério: Um artista da fome; Primeira dor; Uma mulher pequena e Josefina, a cantora são contos considerados há mais de 50 anos como obras primas de Kafka.

O conto "Um artista da fome" é simplesmente genial. Conta a história de pessoas que ficavam muitos dias sem comida e se apresentavam em circos. Sua arte era o jejum. Os proprietários dos circos ganhavam dinheiro, cobrando ingresso das pessoas, para ver o artista da fome preso em uma jaula sem comer há vários dias. O final do conto é surpreendente!!!

O conto "Josefina" é hilário. Josefina era uma cantora que só produzia um som de assobio. Isso, divertia as pessoas ao mesmo tempo que as espantava.

Já a novela "A construção" é uma novela densa e sombria, porém, não menos excepcional.
Nesta novela Kafka revela toda sua perturbação com uma imaginária construção. Ele vive se esquivando de inimigos invisíveis. Traça estratégias para combater uma possível invasão desses inimigos.
Estratégias com a comida e os muitos cômodos onde ele poderia se esconder, trazem toda a profundidade com que a perturbação tomava conta do autor.

Em um certo momento ele escuta ruídos pela construção, porém não consegue identificar a origem. Dizia ele: "que gente incansavelmente ativa é essa, como é aborrecida sua aplicação ao trabalho! Escutando atentamente nas paredes do corredor, através da escavações experimentais, terei de determinar o local da perturbação e só aí poderei eliminar o ruído."

Vejam como o suposto ruído o perturbava. Enfim, ele tinha vários inimigos na construção.

Para alguns críticos, "A Construção", é a grande ficção autobiográfica de Kafka na sua fase terminal. Ele sofria com uma perseguição por dentro pela tuberculose e por fora pelo fascismo alemão. Por isso o personagem se enterra num buraco e vive no submundo de uma luta de extermínio. 


Assim, esses contos e novela são clássicos da literatura que não podem deixar de serem lidos por todos nós apaixonados pelas letras!

Boa leitura e divertimento!

Professor Mario Mello



sábado, 6 de março de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LIX - LADY MACBETH DO DISTRITO DE MTZENSK

 Romance do escritor russo Nikolai Leskov, traz uma trágica história de uma jovem e entediada esposa de um velho e rico comerciante, de um pequeno povoado no interior da Russia. 


Nikolai Leskov (1831-1895) foi contemporâneo de Dostoiévski e de Tolstói, porém ele não se entregou a defesa de uma doutrina e sempre tentou ser independente.

Uma das características marcantes deste romance é que os personagens dialogam entre si numa sucessão de acontecimentos, sem praticamente nenhuma ocorrência externa.

A narrativa é intensa, direta e rica.

Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk é uma história de sedução, traição e morte mostrando a fraqueza humana diante de uma paixão cega.

A protagonista Catierina Lvovna, esposa de um rico comerciante russo, sente-se entediada diante do descaso e das constantes viagens do marido. 

Dentre seus serviçais está um belo rapagão chamado Serguiêi. Este Serguiêi é um mulherengo, advertia a cozinheira Akcínia, para sua patroa Catierina.

Pronto, está configurado o triângulo amoroso. 
Falando assim, pode ser mais uma história trivial de um triângulo amoroso, de uma bela e jovem mulher, um marido velho, estéril e rico, junto com um rapaz jovem e ambicioso. Porém, Leskov, como grande escritor que foi, transforma através da sua escrita, o banal em sublime.

A jovem Catierina se comporta como uma leoa para proteger e promover seu amante Serguiêi.

Na história, os dois não medem esforços para praticarem suas maldades com a família de Zinóvi Boríssitch, marido de Catierina.

Com uma linguagem direta e dramática, Leskov declarou certa vez, que durante sua escrita havia sentido um horror insuportável, que o deixava de cabelos arrepiados e o fazia sentir um gelo na alma, ao mais leve ruído ao redor.
Isto se percebe na narrativa, uma vez que, os acontecimentos da história se sucedem sem "rodeios" e com a genialidade de Leskov, para também não parecer menos importantes.

Enfim, é uma história com uma heroína fria e calculista tão bem escrita que chegou a inspirar uma ópera e o filme chamado Lady Macbeth siberiana.

É uma narrativa, de certa forma curta, pois possui cerca de 90 páginas, mas de uma viagem incrível pelas mazelas da crueldade e da maldade.

Óbvio que não vou falar do fim da história. Porém com a fluidez do texto, fica a vontade de que a história ainda não estivesse em seu final.

É uma ótima sugestão de leitura!!

Professor Mario Mello