sábado, 31 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXII - O SOM DO SILÊNCIO

 "Se a música fosse apenas uma combinação de sons, não ocuparia um espaço tão grande na vida dos homens. Porque a música é uma janela do espírito, uma força capaz de envolver e transformar quem a ouve, ela acompanha o ser humano na sua caminhada pelo mundo."


Essa é uma das poesias escritas por Luiz Carlos Lisboa (1929 - ), no livro "O som do silêncio".

Luiz Carlos Lisboa não é um poeta romântico ou dramático com o rigor da estrutura textual. É sim um poeta que escreve sobre reflexões sobre os caminhos que a vida mostra.

Neste livro a tônica é sobre o silêncio. Diz Lisboa em uma passagem:

"O monge descobre que, quando aprende a se calar, Deus o chamará filho. Antes disso, ele ouvirá sempre a si mesmo com voz emprestada, falando do que não sabe. Depois disso ele talvez possa ouvir o som do silêncio."

Luiz Carlos Lisboa

O autor sugere ao leitor reflexões sobre coisas do cotidiano, muitas vezes aparentemente sem importância, para as pessoas. Como neste trecho onde a singela beleza de uma noite chuvosa é ressaltada:

"A beleza de uma noite de chuva é um pouco como a beleza de uma tarde de sol, num dia de calor. Quando não há ideias feitas sobre o céu escuro, ou sobre a ardência do deserto, existe apenas a realidade pura, em toda sua grandeza. O encanto das coisas é sempre novo e imprevisto, não importa o que seja."

Assim, com uma abordagem leve das coisas, o autor nos faz viajar por belezas encobertas pela rotina do dia a dia.

Lisboa diz que é no silêncio que encontramos muitas respostas que procuramos, além de descobrir quem realmente somos.

Saber escutar o som do silêncio é uma virtude para descobrir a paz interior.

"A experiência de reduzir ao mínimo a própria fala pode demonstrar resultados surpreendentes. Ainda assim são poucos os que se aventuram ao silêncio, como são raros os que ousam caminhar na sua direção."

Enfim, é um ótimo livro que traz leveza e a centelha de escutar o som do silêncio.

Professor Mario Mello


quinta-feira, 22 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXXI - O APRENDIZ DA MADRUGADA

"Aos que pensam que a paisagem vista de uma janela é sempre a mesma, é bom lembrar que as estações do ano e a posição do sol no céu, fazem combinações de cor e forma que nem mesmo um computador seria capaz de contar e dividir.
Somente os olhos humanos, quando estão de fato abertos, podem descobrir que nunca é a mesma a paisagem que se vê de uma janela."

Essa é uma das poesias do livro "O Aprendiz da Madrugada" de Luiz Carlos Lisboa, nascido em 1929 e hoje com 91 anos.

A poesia é uma manifestação de beleza e estética transformada em palavras pelos poetas. A poesia fala da comunicação do homem com alguma coisa que não é apenas sua consciência. 

A razão e a mente humana viajam por um mundo fabricado por elas e onde o homem pode ser razoavelmente feliz, nos limites dos medo, da imaginação e da felicidade.

Apreciar poesias é um exercício de contemplação do belo. É poder, através da imaginação, criar cenários onde nos inserimos com a sensibilidade na busca de novos e felizes sentimentos.

Neste livro, Luiz Carlos Lisboa nos leva a sonhar, mesmo que seja fictício, com o belo, com o silêncio, com a sabedoria e com a contemplação da formosura das coisas.

O livro começa assim: 

"De manhã bem cedo, ainda no escuro do quarto ela me abraçou devagar e disse: "Que saudades, meu bem. Não vi você nos meus sonhos, esta noite". Por alguma razão, sei que não vou me esquecer disso. Talvez nem ela." 

O livro foi escrito em 1994 quando ainda não tínhamos Facebook ou Instagram e olha o que Lisboa escreveu: 

"Ela sorri na tela colorida, num seu momento de glória, imagem do que chama de sucesso. O que nela é real e de fato a ela pertence, está sepultado sob as ideias que tem de si mesma e do mundo, como seu rosto sob a maquiagem. Brilhante, dourada, a personagem que inventou para si é a casca, porque sua verdade encantadora está agora perdida para sempre."

Enfim, gostar de poesia faz bem para a alma e para a razão. A beleza e a verdade ocorrem, apesar da consciência. Essa viagem interior pode ser feita numa fração de segundo ou pode durar uma vida inteira .

Na paz da madrugada o aprendiz tem um momento propício para os mistérios que se revelam no silêncio.  A quietude, a serenidade e o sossego trazem a tranquilidade de uma leitura que conforta a alma.

"Não é preciso entender de flores para conviver com a sua beleza".

Não é preciso entender de poesia para conviver com a sua beleza.

Professor Mario Mello





domingo, 18 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXX - SALVANDO A MONA LISA

 As inúmeras histórias da Segunda Guerra Mundial cada vez trazem mais perplexidade em função da desumanidade pratica por Hitler e suas tropas. 

Fonte: Google
A obsessão de Hitler pelo expansionismo da Alemanha e seu antissemitismo gerou o maior conflito da humanidade com mais de 60 milhões de mortos. 

A expansão territorial defendida pelos alemães fazia parte de um elemento da ideologia nazista que defendia a formação de um “espaço vital” que abrigaria os arianos. A prosperidade dos alemães seria garantida por meio da exploração de povos enxergados como “inferiores”.

Entre tantos terríveis capítulos da Segunda Guerra está a impetuosidade de Hitler em saquear obras de arte  dos países dominados por ele.
Neste contexto entra nossa história de hoje que é o livro "Salvando a Mona Lisa". A escritora Gerri Chanel fez uma profunda pesquisa do período em que se iniciou a invasão nazista na França até o final da guerra.
"Salvando a Mona Lisa" conta a extraordinária batalha de renegados curadores e funcionários dos museus, para proteger o Louvre e seus tesouros dos ávidos nazistas.

No final de 1939 quando a guerra começou a eclodir na Europa, os curadores do Museu do Louvre guardaram o quadro mais famoso do mundo em um estojo especial forrado com veludo vermelho e o enviaram ao Vale do Loire, ao sul da França, para proteger da iminente guerra.

Assim, aconteceu com milhares de obras do Louvre que foram embaladas e transportadas por centenas de caminhões para vários castelos na França com o mesmo intuito de proteção à guerra. Isso gerou um trabalho fenomenal e gigantesco para dezenas de curadores e funcionários dos Museus Nacionais que arriscaram a própria vida e de sua família, para proteger a importante e numerosa arte dos museus franceses, tanto dos bombardeios quanto do saque dos alemães.

Quanto mais os nazistas de aproximavam de Paris os franceses se apressavam para despachar as obras-primas para vários castelos ao sul da França. Antes e durante a ocupação nazista as equipes dos museus lutou muito para manter inestimáveis tesouros longe das mãos de Hitler.

Nessa incrível batalha, muita vezes silenciosa, um francês chamado Jaques Jaujard (1895-1967) foi o grande mentor e protetor das obras do Louvre e especialmente da Mona Lisa que era o tesouro mais precioso. Jaujar é reconhecido como o grande herói na proteção das obras de arte uma vez que conseguiu várias negociações importantes de proteção, tanto com o governo francês (submisso aos nazistas), quanto com as autoridades alemães.

Jaujard pastoreou os tesouros do Louvre  à segurança com uma quantidade inimaginável de energia e uma milagrosa mistura de diplomacia e sagacidade.

Outra grande personagem e heroína, foi Rose Valland. Ela se infiltrou e espionou os nazistas durante 4 longos anos. Após o final da guerra viveu para localizar e devolver, à França, milhares de obras de arte roubadas pelos nazistas.
Guarda com a Mona Lisa

A Mona Lisa sempre foi a maior preocupação dos protetores da arte. Sua embalagem era identificada com uma espécie de código secreto para que não fosse reconhecida por qualquer pessoa durante essas constantes migrações das obras entre os vários esconderijos nos castelos.

Nazista Göring
O nazista mais obcecado por saquear obras de arte dos franceses era o General Hermann Göring. Na foto ele aparece com uniforme de gala e seu bastão cravejado de joias. Göring era implacável com os curadores franceses na busca por obras que aumentassem o seu acervo particular. Chegou, em certa oportunidade, levar à Alemanha mais de mil obras para ele e para Hitler. 

O livro traz tantas passagens deste período da guerra e destes episódios sobre as artes, onde muitas dessas passagens são revoltantes, demais. Os nazistas chegaram à crueldade de queimar centenas de obras, inclusive de Picasso, com a simples suspeição de que àqueles artistas eram simpatizantes do comunismo.

Bem, como o enredo faz parte da triste história da Segunda Guerra Mundial, o final do livro pode ser facilmente previsto: as obras voltaram ao Louvre com o final da guerra em 1945 e lá presenteiam seus visitantes até hoje com o encantamento de uma arte de centenas de anos.

Mona Lisa voltando ao Louvre

Na foto de 1945, a Mona Lisa sendo desembalada no retorno ao Louvre.

Fonte: Google
Graças a muitos heróis, protetores da arte, pode-se novamente contemplar a pintura mais famosa do mundo no memorável Museu do Louvre, onde dezenas de pessoas diariamente se apinham para aquela foto especial.


Então, para quem gosta destas histórias da Segunda Guerra Mundial, não deixe de ler este extraordinário livro com um encantador e poderoso relato de homens e mulheres que lutaram, alguns até a morte, para salvar o patrimônio da França.

Como disse a heroína Rose Valland do porquê arriscar a vida pelas obras de arte: 
"Salvar um pouco da beleza do mundo"

Professor Mario Mello

domingo, 4 de julho de 2021

O LIVRO SUA MAJESTADE LXIX - PROMETEU, OS HOMENS E OUTROS MITOS

Afrodite a deusa do amor
 
Que a mitologia grega desperta interesse, fascínio e encanto há centenas de anos, é na realidade dizer o óbvio. Me incluo nestas pessoas ávidas pelas incríveis histórias desses personagens míticos, desde sempre.

Zeus, o mais poderoso dos deuses
Fazendo uma breve recapitulação dos mitos: os Titãs nasceram da união entre Urano, que representava o céu e Gaia que representava a terra. Os Titãs eram seres híbridos, nenhum era humano e todos tinham o poder de se transformar em animais.

Os Titãs eram os ancestrais dos futuros deuses olímpicos (eram 12) como Zeus, Apolo, Afrodite, Poseidon, Dionísio, entre outros. 

Existiam também, os semideuses que eram filhos dos deuses com humanos mortais. 

Autor: Menelaos Stephanides

O mito Prometeu, era filho do Titã Jápeto e da ninfa Ásia. Prometeu é uma figura muito famosa na mitologia grega, por ter realizado uma grande proeza que foi roubar o fogo dos deuses para dar a humanidade. Desta forma, se tornou o maior inimigo de Zeus.

Prometeu teve vários conflitos com Zeus, ficando sempre ao lado dos humanos enquanto Zeus, gostava de castigar os humanos. Estes conflitos foram se intensificando até Prometeu roubar o fogo dos deuses e ceder aos humanos. Inconformado, o poderoso Zeus aplicou um severo castigo a Prometeu. 

O grande Zeus ordenou que ele fosse preso a um rochedo, com correntes forjadas no céu, por toda a eternidade. Prometeu ficou, então, preso ao rochedo com correntes de ferro tão fortes que ninguém conseguiria arrebentar. Não bastasse isso, uma águia diariamente vinha e comia o fígado de Prometeu. Conta o mito que a águia comia de dia e à noite o fígado se regenerava, proporcionado a volta da águia no dia seguinte. Isso ocorreu diariamente durante muitos séculos.

Enfim, não vou contar o final da história. Apenas dizer que Prometeu foi um dos maiores protetores da humanidade contra os castigos dos deuses.

O livro ainda traz outros episódios fantásticos da mitologia grega. 

Um deles é a história de Dédalo e seu filho Ícaro. Desde os tempo imemoriais o homem almejou voar pelo céu. Usando correias de couro, Dédalo prendeu um par de asas nos braços e nos ombros seus e também de Ícaro. Porém Ícaro se descuidou subiu demais e o calor do sol derreteu a cera que colava as penas nas asas, fazendo com que as asas se desintegrassem ocasionando a queda brusca de Ícaro.

Outra fascinante história é a de Níobe. Mãe de quatorze filhos, ousou sempre dizer que seus filhos eram os mais belos do mundo todo. Dizia ela: não são os mais belos da terra, mas do céu também. Isso provocou a ira desenfreada na deusa Leto que eram mãe de Apollo e Ártemis. A vingança da deusa Leto é considerada a mais dramática de toda a mitologia grega pela crueldade da deusa com Níobe.


Todos os filhos de Níobe foram cruelmente mortos a mando de Leto. Uma vingança desproporcional e sem sentido com uma humana. A carnificina foi inimaginável terrível demais para ser descrita.

O livro tem também a história de Pã o deus mais pobre, feio e desprezado, cuja própria mãe recusou-se a reconhece-lo. É o deus dos pastores, pois Pã tinha pés de caprinos. Porém, Pã foi extremante habilidoso com a flauta. Pã era um músico extraordinário, as doces melodias de sua flauta ressoavam pelas encostas das montanhas e os pastores ficam inebriados. 

Pã travou um duelo incrível com o deus Apolo para saber quem era o músico mais extraordinário. O final? Não vou contar. Leia este livro magnífico.

Enfim, o livro tem várias passagens da mitologia grega dignas de uma viagem incrível pela ficção. Ou será pela realidade dos tempos?

Pois é, reflexões à parte o livro é digno de uma leitura prazerosa, agradável e instigante.

Professor Mario Mello