quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O Livro sua Majestade XXIV - O Morro dos Ventos Uivantes

O Morro dos Ventos Uivantes, romance de Emily Brontë, é um daqueles livros que não pode deixar de ser lido.
 Nascida na Inglaterra em 1818, Emily era a mais isolada das três irmãs filhas de um pastor anglicano.
Emily morreu muito jovem, com apenas 30 anos e por isso sua obra não é extensa.
Mas, só este livro serve para consagra-la.

Esta edição do livro tem uma característica especial. É uma edição bilíngue Português-Inglês.
As páginas são lado a lado o que facilita e leitura e ao mesmo tempo permite aquela boa espiadinha ou no inglês ou no português para a tradução simultânea.

Seu romance tem uma música especial: selvagem, melancólica e elevada.

O morro dos ventos uivantes é uma história real vivida no início do século XIX no interior da Inglaterra.

O protagonista Mr. Heathcliff, foi um menino adotado e criado numa fazenda. Quando adulto, tornou-se um homem frio, malvado e calculista, cometendo todo tipo de atrocidades com as pessoas à sua volta.

A história trata de um amor não correspondido de Catherine, filha dos donos da fazenda, por Heathcliff.
Local onde provavelmente ocorreu a história
É uma história de muito rancor levando o leitor a uma angústia até o final do livro.

As atrocidades cometidas por Mr. Heathcliff por não ter tido o amor de Catherine não são físicas, embora aconteçam algumas. São torturas psicológicas que deixam marcas profundas nos personagens da história.

A única pessoa que Mr. Heathcliff respeitava era Nelly. Nelly era uma governanta da fazenda onde ele foi adotado e o tratava bem, quando menino, ao contrário do pai adotivo.

Catherine casou-se com outro e isso enlouqueceu Heathcliff. 
Ele não suportava mais a convivência humana. Foi tornando-se a maldade em pessoa.

É uma história tão bem escrita por Emily Brontë que prende o leitor, mesmo angustiado, o tempo todo.

Na contra capa do livro, tem um trecho das palavras de Mr. Heathcliff e seu sofrimento pela perda de Catherine.

Confesso que foi uma das histórias mais impressionantes que já li. 
A capacidade da escritora mexer com o psicológico do leitor é algo raro, pelo menos para mim.

Recomendo muito a leitura desse clássico da literatura mundial pois parece ser uma história comum de um amor não correspondido, mas trata-se de uma complexidade psicológica impressionante.

Boa leitura!

Professor Mario Mello








terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O Livro sua Majestade XXIII - O Cavaleiro inexistente

O Cavaleiro inexistente é um dos livros da mais importante trilogia do autor cubano/italiano Italo Calvino.
Escrito em 1960 e publicado em Torino na Itália, o livro em seguida ganhou o mundo pela sua fantasia, humor e elegância.
Com a trilogia, "O Visconde partido ao meio"; "O Barão nas árvores ou O Barão rompante" e "O Cavaleiro inexistente" Italo Calvino se consagrou entre os quatro melhores autores italianos modernos.
Bem, a história se passa na França de Carlos Magno e seus paladinos cristãos em guerra contra os infiéis.

O herói da história se chama Agilulfo Emo Bertrandino das Guildivernas e Outras. Agilulfo é um guerreiro que usa uma armadura branca, única no exército.

Agilulfo era um soldado exemplar. A questão é que ele não existia. Várias vezes os soldados levantavam a viseira do elmo da armadura branca e dentro não tinha ninguém.

Agilulfo se tornara paladino de Carlos Magno, porém a uma certa altura da guerra e da história, sua versão de herói foi contestada e ele teve que partir para prová-la novamente ao Imperador. Era obrigado a fazer isso para reconquistar seu posto no exército.

Agilulfo traído por uma situação que ele desconhecia aparentemente não consegue provar sua anterior bravura e com isso não reconquistaria seu título. 
Bom....obvio não contarei o restante para o final.
O livro é de leitura leve e agradável como é característico de Italo Calvino.

Fica como lição desse ótimo livro, uma história de bravura, de ética e de verdade de um cavaleiro que se fez respeitar por todo exército.

Boa leitura!

Professor Mario Mello








segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O Livro sua Majestade XXII - O Visconde partido ao meio







O Visconde partido ao meio é um livro muito interessante. 
Uma história um pouco engraçada quase chegando a uma fábula, o livro conta a trajetória de um Visconde que indo participar de uma guerra cristã contra os turcos, foi acertado por um tiro de canhão.

Resultado de imagem para o visconde partido ao meioComo o Visconde Medardo di Terralba ficou muito ferido, os médicos conseguiram que ele ficasse apenas com metade do seu corpo. Meia boca, um olho, um braço, uma perna e assim por diante.
O que se ficou sabendo, depois, é que a outra metade foi recuperada por outros médicos. 
Resultado de imagem para o visconde partido ao meioMuito engraçado isso!

O autor Italo Calvino, cubano de nascimento e italiano de criação, consegue neste livro de linguagem simples, fazer com que o leitor tenha uma profunda reflexão sobre o bom e o mau, sobre o bem e o mal.

Uma das metades do Visconde erá má e a outra boa demais. Isso acabou gerando muita confusão nos domínios do Visconde. Pois enquanto o Medardo Mesquinho, como era chamado, era odiado pelas suas maldades, o Medardo Bom também começou a ser odiado pelas suas trapalhadas em querer ajudar.
Dois trechos do livro:
-"Das duas metades a boa é pior que a mesquinha começavam a comentar os habitantes da região."
-"Assim passavam os dias e os nossos sentimentos se tornavam incolores e obtusos, pois nos sentíamos como perdidos entre maldades e virtudes igualmente desumanas."

Uma das partes mais interessantes da história é que os "dois Viscondes" se apaixonaram pela mesma mulher. 
Pamela aceitou o pedido de casamento dos dois e a confusão de estabeleceu.
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Bem a história é de herói e vilão que coincidem pois o Visconde foi partido em duas metades.
Obviamente que a história não parece verdadeira ou provável, mas gera uma inquietação entre o Real e o Fantástico.

E agora para reflexão:
Já pensou em você ser dividido em metade boa e metade má?
Como realmente somos?
Qual metade predomina?

Por isso, e outras tantas, não deixe de ler!

Professor Mario Mello


sábado, 6 de agosto de 2016

O Livro sua Majestade XXI - O Castelo dos Cárpatos

Júlio Verne consagrado escritor francês nascido em 1828 foi considerado por críticos literários como o inventor do gênero de ficção científica. 
Júlio Verne
Obras como: "Vinte mil léguas submarinas" e "Viagem ao centro da terra" foram filmes inesquecíveis na minha infância pelo futurismo que os mesmos apresentavam à época.
Julio Verne autor de mais de 50 obras literárias sendo que 33 foram levadas ao cinema dando origem a mais de 90 filmes, até então, não tinha sido um dos autores lidos por mim. 

Acho que comentei em outro texto que o meu filho Arthur tem um grande talento para descobrir livros interessantes e extraordinários que não sejam "midiáticos". 
Pois foi assim que ele descobriu "O Castelo dos Cárpatos" que não é das obras mais conhecidas de Júlio Verne porém de uma história incrível e intrigante. Daquelas que devemos ler.

A história se passa nas Montanhas dos Cárpatos região mistica da Romênia onde o Castelo do Barão Rodolfo de Gortz ficara abandonado por muitos anos.
O castelo é visto ao longe, nas montanhas, pelos habitantes da vila de Werst que tem apenas 500 habitantes e que conta com os "notáveis" Pastor Frik, o guarda Nick Deck, o juiz Koltz, o doutor Patak e o professor Hermod. 

Em determinado momento surge a convicção, pelos notáveis, de que o castelo está habitado por espíritos e desta forma, mal assombrado.
A partir daí, toda vila entra em pânico, pois de binóculos conseguem ver eventualmente fumaça em uma das chaminés do castelo.
Para maior espanto ainda, o pastor Frik diz que a fumaça é obra do "chort", demônio para os habitantes da vila.
Nic Deck, o guarda e o doutor Patak resolvem, então, ir investigar o que está acontecendo no abandonado castelo.

As dificuldades para chegar ao burgo (como o livro se refere ao castelo) são imensas e dificultosas fazendo com que o doutor queira desistir da missão várias vezes durante a viagem. Mas Nic Deck é implacável; vamos até o fim.
Óbvio que o que irá acontecer daqui pra frente, não vou aqui relatar. 

No decorrer da história existe uma descrição interna do castelo, impressionante. A narração do autor remete o leitor para dentro do castelo abandonado com uma riqueza de detalhes que só grandes autores conseguem.

Posso apenas dizer que não "sosseguei" até não ir ao fim da história.
O Castelo do Cárpatos, não é das obras mais badaladas de Júlio Verne (talvez por isso gostei tanto)  mas de extraordinária capacidade de conduzir o leitor por uma história meio real, meio ficção.
Quem ler ficará com a dúvida que eu fiquei: relato verídico ou obra de ficção?

Não deixe de ler!

Professor Mario Mello



O Livro sua Majestade XX - On the Road

Seguindo com os livros publicados no ano de meu nascimento chego a uma grande obra: "On the Road".
Escrito pela americano Jack Kerouac (1922-1969) esta obra proporciona ao leitor prazer, conhecimento e belos textos.
On the Road exemplificou para o mundo aquilo que ficou conhecido como a "geração beat"  e fez com que Kerouac se transformasse em um dos mais espetaculares, controversos e famosos escritores do seu tempo.
Kerouac foi considerado o pai dos "beats" e por isso teve muito mais sucesso de público do que de crítica.
Jack sempre foi muito tímido, ainda que parecesse durão. 
Jack Kerouac
On the Road foi escrito ininterruptamente. Jack emendou vários rolos de papel manteiga para não perder tempo trocando papel na máquina de escrever. Escrevia de 5 a 7 horas por dia e embora eventualmente fizesse uso de drogas, declarou que só tomou café para escrever "On the Road". 
Cena do filme
De qualquer forma é uma das obras ressaltando a vida e a liberdade.
On the Road também foi levado ao cinema, através do diretor e produtor Francis Ford Coppola, onde fez muito sucesso.
A história se desenrola em viagens da costa leste à costa oeste dos Estados Unidos.
Os protagonistas Dean Moriarty e Sal Paradise se conhecem através de amigos comuns e nasce uma profunda admiração e amizade entre eles.
Nas viagens entre Nova Iorque e Los Angeles, Nova Iorque e São Francisco, entre outras, acontecem tantas livres aventuras que talvez seja isso que tenha inspirado a geração "beat".
O livro é tão bem escrito, tão bem narrado que não é difícil entender porque se tornou o maior clássico da geração "beat".
A liberdade perseguida pelos jovens não vinha fácil. Fome, frio, conflitos, falta de dinheiro, entre outros problemas, acompanhavam as viagens e as aventuras deles.
Mas, a amizade era tão profunda que os problemas por maior que fossem pareciam não atrapalhar.
Porém, uma viagem ao México muda o rumo da história.
Claro que não vou aqui contar como terminou.
Posso dizer que eu coloco "On the Road" entre os melhores livros que já li.
Independente da idade física (a intelectual é que interessa) é uma leitura daquelas que chamamos de obrigatória.
Ache um tempo e não deixe de ler.

Professor Mario Mello






quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O Livro sua Majestade XIX - Fim de partida

Samuel Beckett
Seguindo com os livros publicados no ano de meu nascimento, descobri "Fim de Partida" de Samuel Beckett.
Samuel Beckett é um dos mais renomados escritores de novelas considerado como um dos fundadores do teatro do absurdo.
Nascido em Dublin em 1906 Beckett usa uma simetria irônica entre fato e fábula.
Autor da famosa peça de teatro chamada "Esperando Godot" Beckett escapou por pouco da polícia alemã, a Gestapo, por ter se engajado na resistência francesa na segunda guerra mundial.
Assim, "Fim de Partida" foi escrito na atmosfera do pós guerra.
Os protagonistas Hamm e Clov, giram em falso reclusos num abrigo, sofrendo com a escassez de alimentos e remédios.
A leitura não é muito fácil pois, tratando-se de novela (teatro) a imaginação dos cenários fica por conta do leitor.
Os personagens estão submetidos a um constante desconforto o que de certa forma também desconforta o leitor.
Diálogos sobre a condição humana e a solidão são travados incessantemente pelos protagonistas.
Isso os leva a reduzirem-se a uma espécie de lixo, detrito da memória, ruína familiar, ou seja, são meros sobreviventes das atrocidades da guerra.
É um texto de uma relevância artística muito grande pois em vários países foram montadas peças de teatro com o "Fim de Partida".
O livro traz várias ilustrações com as peças de teatro montadas nos diversos países.
É um livro diferente dos tradicionais, mas para os amantes da leitura vale a experiência de ler uma novela consagrada mundialmente.
Samuel Beckett realmente foi um grande autor.

Professor Mario Mello

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Livro sua Majestade XVIII - O Barão nas árvores

Outro dia vendo publicações no facebook apareceu uma que me interessou e fui atrás.
A publicação sugeria um site que listava os livros editados nos diversos anos e por consequência no ano de seu nascimento. 
Esta era a chamada da publicação.
"Descubra os livros publicados no ano de seu nascimento".
Pois bem, descobri um dos livros publicados no ano que nasci e comprei-o.
Chama-se "O Barão nas árvores" do escritor Italo Calvino.

Italo Calvino nasceu em Cuba em 1923 mas dias após seu nascimento mudou-se com os pais para a Itália onde viveu toda sua vida, até falecer em 1985.

Obviamente que este livro não é um "best seller" e por isso me atraiu ainda mais.

Esta divertida história é de um jovem barão chamado Cosme Chuvasco de Rondó que num dia almoçando revoltou-se com a comida costumeira e resolveu que iria subir nas árvores e nunca mais descer.
Tamanha desobediência grave aos pais nunca tinha se visto à época.
O novo mundo de Cosme é cheio de aventuras, obstinação e exemplo de ser autossuficiente. 
Sem dúvida é uma das mais belas e emocionantes histórias que já li.

O sublime ato de rebeldia do jovem barão inaugura um novo mundo para o protagonista cheio de ideias e experiências com muita inteligência e humor.

Imagine-se vivendo em cima de árvores. 
Na história tem até uma passagem onde o glorioso Napoleão Bonaparte se encontra com Cosme e diz: "se eu não fosse Napoleão gostaria de ser Cosme Chuvasco de Rondó". 

Sensacional!!!!!


Cosme tornou-se no início da história motivo de chacota para a família, porém depois que ele começou a mostrar uma capacidade de liderança junto à comunidade, virou um personagem querido por todos e ouvido por todos.

Não contarei mais detalhes da história, pois não é este meu objetivo nesta escrita.
O objetivo é recomendar uma obra quase que desconhecida, mas de uma profundidade imensa.
Amor, respeito, inteligência, astúcia, preocupação, ciúme, observação são algumas das características do protagonista Cosme durante toda história.

É minha primeira leitura de Italo Calvino e de excelente impressão.
História realmente fascinante, emotiva e intrigante.

Vale a pena a leitura.

Professor Mario Mello







domingo, 3 de julho de 2016

O Livro sua Majestade XVII - Guerra de Gueixas





Este livro publicado originalmente em 1916 foi considerado uma obra muito ousada para a época.
Tanto assim, que ficou até 1960 circulando em edição censurada onde as passagens mais eróticas foram removidas.

O autor Nagai Kafu (1879-1959) desde sua adolescência interessou-se pela tradicional cultura japonesa. O universo boêmio das gueixas é um dos temas centrais de sua obra.

As gueixas fazem parte da cultura japonesa e do imaginário popular, porém o livro está longe de propor uma visão romântica delas.
Para se tornar uma gueixa as meninas precisam passar por um longo treinamento que se inicia por volta dos 13 anos.

Resultado de imagem para gueixasAs gueixas eram treinadas em artes, canto, dança e precisavam ser muito dóceis com seus benfeitores. 

No livro, a protagonista Komayo passa por inúmeras situações complicadas e sofridas durante sua vida de gueixa.

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Embora o autor traga um lado artístico das gueixas da época em que se passa a história, a promiscuidade veio a tona na gueixa que o autor Kafu descreve no livro. 
Ela é a criatura de coque, maquiagem e quimono fadada apenas a ser a companhia submissa para o deleite masculino.

Longe de ser a visão romântica das gueixas, Komayo mostra-se forte e luta com seus sentimentos até o fim da história.

Assim, Guerra de Gueixas trata-se de uma obra muito bem escrita e cativante até o final. 
A cultura oriental sempre causa um deslumbramento no imaginário ocidental.

O livro traduzido neste ano de 2016 aqui no Brasil, embora não seja um best seller, não pode deixar de ser lido pelo amantes da leitura e principalmente por aqueles que gostam da cultura oriental.

Assim, boa leitura e feliz viagem aos bairros boêmios de Tóquio do início do século XX.

Professor Mario Mello