sábado, 31 de outubro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LIV - UM CORAÇÃO SINGELO

 A quinta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Um Coração Singelo".

Novelas Imortais

Gustave Flaubert
Escrita pelo mesmo autor de "Madame Bovary", o francês Gustave Flaubert (1821-1880), traz nesta novela a singeleza de uma mulher chamada Felicidade que dedica sua vida, com vocação, para cuidar do próximo. 

Felicidade, muito jovem, perdeu os pais. Sozinha foi adotada por um fazendeiro que a dispensou acusada de um furto que não cometera.

Depois de servir a outro fazendeiro por um tempo, Felicidade foi para Paris e foi trabalhar, como criada, com a Sra. Aubain. 

Viúva e da alta burguesia francesa, a Sra. Aubain despertava inveja nas demais senhoras da burguesia parisiense, por ter ao seu lado uma fiel criada como Felicidade.

Felicidade só tinha bondade em sua alma e servia a Sra. Aubain com uma fidelidade invejável.

A Sra. Aubain não era de natureza expansiva e ficou ainda mais recolhida com o falecimento de sua única neta, a pequena Virgínia. Felicidade sofria tanto ou mais com a perda de Virgínia e com a tristeza da Sra. Aubain. 

Um dia, depois de muitos anos, a Sra. Aubain, sempre indiferente, deu um abraço carinhoso em Felicidade. Este abraço, só fez aumentar a bondade em seu coração. Era uma nova época entre patroa e criada.

Na casa também vivia um personagem muito especial: o papagaio Lulu. Felicidade se apegou tanto ao Lulu, que chegava a ser comovente.

Um dia a Sra. Aubain morreu e Felicidade se viu abandonada novamente. O filho da Sra. Aubain colocou a casa onde a mãe morava com a criada, à venda. Felicidade se viu depois de tantos anos e tanta dedicação e bondade com a Sra. Aubain, literalmente na rua.

Sem nenhum bem material, pois nunca acumulara nada, o sofrimento de Felicidade parece ter retornado à sua infância.

Óbvio que não vou contar o final, um pouco doloroso, mas muito especial.

Felicidade era muito religiosa e sua bondade era reconhecida por todos que a conheciam.

O autor Flaubert nos traz uma novela simples, mas ao mesmo tempo profunda em sentimentos.

Não deixe de ler, você irá se emocionar com "Felicidade".

Professor Mario Mello


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LIII - BARTLEBY, O ESCRITURÁRIO

 A quarta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Bartleby, o escriturário". 

Novelas Imortais

Escrita pelo americano Herman Melville (1819-1891), a novela deixa o leitor sem nenhuma certeza para definir o protagonista Bartleby. Melville, autor de "Moby Dick", sua obra mais conhecida mundialmente, traz nesta novela uma incrível história que deixa o leitor apreensivo com o comportamento de Bartleby. 

Herman Melville

A novela é uma história que se passa em Nova York e trata de um escriturário, Bartleby, contratado por um advogado, consultor de justiça, cuja atividade era de escrever (a mão) os documentos relativos ao trabalho do escritório.

Toda a narração da história é feita pelo próprio consultor, que vai levando o leitor à irritação com as atitudes de Bartleby.

Digo para vocês, meus leitores, que a irritação é grande, porém divertida com o excêntrico Bartleby.

Como ela fora contratado para ser escrivão, toda e qualquer atividade diferente desta, ele se negava a fazer. O escritório tinha mais dois funcionários que foram ficando indignados com Bartleby. Qualquer atividade que era solicitada a Bartleby (até mesmo buscar um papel em outra mesa) era rechaçada por nosso protagonista com a seguinte frase: "preferiria não fazê-lo", e não fazia.

Bartleby foi se tornando insuportável, porém seu chefe ficava com pena e tolerava todas as negativas de fazer alguma coisa que não fosse copiar as sentenças do escritório.

Porém a situação chegou ao limite e o advogado decide demitir Bartleby. A partir daqui a novela tem acentuadas e absurdas passagens fantásticas.

O comportamento excêntrico e depressivo de Bartleby ultrapassa todas as questões de tolerância (inclusive de nós leitores) dos colegas de escritório e principalmente do advogado.

Bom, para não contar mais da novela e dar um pequeno spoiler do desfecho, o advogado decide mudar de endereço com seu escritório, pois não conseguia se livrar de Bartleby.

Enfim, tudo, mas tudo mesmo que era pedido a Bartleby, a resposta era a mesma: 

"preferia não fazê-lo"

Assim, como escrevi no início, é uma novela "irritante", mas imperdível.

Aliás, com grandioso final.

Professor Mario Mello

O LIVRO SUA MAJESTADE LII - O HOMEM DA AREIA

 A terceira novela da coleção "Novelas Imortais", trata-se de uma novela mórbida, aterrorizante e levada até as obscuras fronteiras da loucura assassina.

Novelas Imortais 

Esta é a novela chamada "O Homem da Areia" do escritor alemão E. T. A. Hoffmann. 

Hofmann (1766-1822) era tão fã de Mozart, que incorporou ao seu nome Amadeus. Assim, passou a chamar-se de Ernest Theodor Amadeus Hoffmann. 

Criado por um tio a partir dos três anos de idade, em virtude da separação dos pais, foi sempre infeliz, pois o tio não concordava com seu comportamento sonhador. Mas, com histórias de mistério e terror, tornou-se um dos mais conhecidos e aclamados novelistas alemães. 

A novela se desenvolve com o protagonista Natanael, que como muitos leitores tiveram na infância sua versão do "homem de areia", criada pelos pais, com o objetivo de assustar os filhos que não queriam dormir.

Porém, Natanael foi assustado que o homem jogava areia nos olhos das crianças, para depois arrancá-los e comê-los.

Sua mãe o assustava e Natanael via esse monstro na figura de Coppelius, um amigo de seu pai que frequentava sua casa de maneira suspeita. Um dia Natanael tomou coragem e espiou seu pai e Coppelius numa espécie de magia negra. Até que esses rituais culminaram com a morte de seu pai.

Anos mais tarde Natanael se vê amedrontado por um vendedor de lunetas chamado Coppola e todo terror volta a arrepiar Natanael.

Natanael foi estudar em outra cidade e conheceu um professor que tinha uma filha chamada Olímpia e, imediatamente se apaixonou por ela, a despeito de ter deixado Clara, sua noiva, em sua cidade.

Aí começa a loucura aterrorizante da novela e de final surpreendente.

Natanael enlouquecido por Olímpia, não percebeu que ela era...... (não dá para contar).

O vendedor de lunetas Coppola o persegue e ele só encontra amparo na doce e querida Clara. 

O professor, sua filha Olímpia, Coppola (será que é o homem da areia?) e Clara aterrorizam a mente e o coração de Natanael até o surpreendente desfecho final. Natanael com sua alma dilacerada se consome em infelicidade e desgraça.

Como diz no livro: o leitor que se prepare, pois é hora de admitir o fantástico.

É uma novela imperdível.

Professor Mario Mello

O LIVRO SUA MAJESTADE LI - MARGOT

 Escrevi num post anterior sobre as 10 novelas quem o escritor Fernando Sabino reuniu numa coleção chamada "Novelas Imortais". 

Novelas Imortais

Mas afinal, qual a diferença entre novela e romance? 

Com uma explicação simples, a novela se diferencia do romance, pela extensão do texto. 

Enquanto no romance o texto é maior, ocorre uma ambientação social e psicológica que configura o universo vivido pelos personagens.

Na novela, o texto é mais curto, onde predomina o evento, ou seja, a história que é contada com poucos personagens e mais direta.

Já escrevi sobre "A Fera na Selva" e neste post escrevo sobre a segunda novela da coleção, que se chama "Margot". 

O escritor, poeta e novelista francês, Alfred de Musset (1810-1857), considerado o mais clássico dos românticos e o mais romântico dos clássicos, traz em sua novela "Margot" um intenso e inquieto sentimento de uma paixão não correspondida.

Falando assim, parece um tema comum e corriqueiro, porém Margot surpreende pela singeleza e inteligência de uma garota de 16 anos "dada" por sua família, para ser dama de companhia de uma distinta viúva, a Senhora Doradour moradora de Paris. 

A família de Margot, os Piédeleu, moradores e caseiros de uma fazenda da Senhora Doradour, tinham uma dívida de gratidão com a Senhora e não puderam dizer não quando a viúva solicitou que Margot fosse morar em Paris para ser sua dama de companhia.

A família camponesa Piédeleu era formada por oito irmãos homens e Margot como única mulher filha. A tristeza do pai de Margot quando ela partiu para Paris, dá para sentir na nossa alma, tamanha a fidelidade de escrita de Musset. Talvez nesta passagem, fica clara as diferenças sociais, culturais e de classe, vigentes na França do século XIX. Vou além: estas diferenças, talvez em menor grau, existem até hoje.

Deixada a vida de camponesa para trás, inclusive seu amigo Pierrot, Margot chegou a Paris encantada e deslumbrada com a cidade e com a mansão que iria morar. A Senhora Doradour tratou Margot como uma princesa, porém a diferença de classe seguidamente se fazia presente.

A novela fica mais intensa quando Margot conhece o único filho, Gastão, da Senhora Doradour que era soldado, e sua guarnição era em outra cidade. Na primeira visita de Gastão à casa da mãe, Margot se apaixona, porém não há correspondência de Gastão.

Depois de um certo tempo, a Senhora Doradour resolve passar o outono em sua casa de campo, que fica há apenas 1 légua de distância da casa dos pais de Margot. Era a oportunidade de Margot rever sua família. 

Num belo dia, chegam como hóspedes da Senhora Doradour a Senhorita de Vercelles e sua mãe. A partir daí Margot vive um inferno, pois imagina que a Senhorita de Vercelles seria a noiva de Gastão. Margot é então excluída de quase todas as conversas entre a Senhora Doradour, Gastão e a Senhorita de Vercelles.

A querida, meiga e inocente Margot entra então, numa fase desesperadora e tenta o suicídio. 

A meiguice de Margot, durante toda a novela, nos prende e nos enche de alegria com seu comportamento sempre exemplar, mesmo diante de dificuldades. 

Não vou contar mais sobre a novela, pois seu enredo desde o início até a última frase é espetacular. Triste, romântica, reflexiva, esta novela é um tesouro, como Margot.

Não deixe de ler esta novela, que está entre as dez organizadas e apresentadas pelo escritor Fernando Sabino.

Margot é uma história singular e cativante.

Professor Mario Mello