domingo, 29 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LVII - OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

 

Romance de Erico Verissimo "Olhai os Lírios do Campo" é uma daquelas obras que deixam marcas em quem lê.

Segundo Erico Verissimo, este romance operou uma mudança considerável na sua vida. O sucesso foi tão grande que várias edições esgotaram-se muito rapidamente e a partir desta obra ele pode fazer da literatura, uma profissão. Disse Erico, certa vez:

"Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’."

Erico Verissimo - 1905-1975


Lembro bem que no meu ensino médio esta era das leituras recomendadas, porém nunca cumprida. Assim, agora resolvi rebuscar Olhai os Lírios do Campo. 

Que grata e agradável surpresa!

A expressão "olhai os lírios do campo" traz em seu significado uma mensagem de que a verdadeira felicidade está nas coisas simples. 

Obviamente que quando se fala de felicidade não estamos falando de uma ciência exata, mas sim de algo muito complexo e diverso. Muitas vezes olhar os lírios do campo, satisfaz algumas pessoas, porém inquieta outras.

 

O romance escrito em 1938 mostra toda a genialidade de Erico Verissimo descrevendo a inquietação dos dois protagonistas: os estudantes de medicina e depois médicos, Eugênio e Olívia. Amigos inseparáveis na época da faculdade, Olívia apaixonou-se secretamente por Eugênio e morando em outra cidade escrevia cartas à Eugênio que só foram conhecidas depois de sua morte.


Eugênio era um menino de família muito pobre. Pelo sofrimento de sua infância e juventude, tinha a ambição de ser rico. De certa forma consegue isso, casando com a filha de um milionário da cidade.


Pois bem, aí começam as inquietações e os conflitos. Enquanto isso Olivia (por desgosto) muda-se para outra cidade e afasta-se de Eugênio. 

Porém do último encontro dos dois Olívia fica grávida e, sem avisar Eugênio, nasce Anamaria.


Embora a narrativa do romance, em sua maior parte foca em Eugênio, mas é Olivia com seu temperamento meigo, porém vigoroso, que rouba a cena com seus desejos para o futuro da sociedade.


Esta parte do romance é para mim tão especial e forte que escrevi um recorte desta passagem em um artigo para o site administradores.com, com este link, para aqui não ficar repetitivo.

O que o romance de Erico Verissimo "Olhai os Lírios do Campo" nos diz até os dias de hoje.

Lírios no campo. Fonte: Google


O lado do médico Eugênio é bastante retratado com muitas histórias tristes dessa profissão/missão tão importante para a sociedade.


A uma certa altura da história Eugênio conhece a filha Anamaria e sua vida muda completamente.


Enfim, é uma história cheia de reflexões e dramas de uma sociedade doente. Escrito, como disse em 1938, o que Olivia desejava e previa, padece até hoje.


Só posso dizer, que fiquei encantado e embasbacado com a visão de futuro de Olivia (Erico-1938) com os dramas da sociedade que até hoje não foram minimamente resolvidos.


Confesso que tinha uma certa relutância com as "indicações/obrigações" das leituras do ensino médio, mas me rendo à genialidade de Erico Verissimo, à visão da protagonista Olivia e às inquietações do Dr. Eugênio.


Qualifico "Olhai os Lírios do Campo" como uma das principais obras que já li. 


Por fim, o romance traz nobres reflexões e lições não aprendidas pela sociedade ao longo dos anos. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano as nossas construções. 


E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo.



Professor Mario Mello







sábado, 14 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LVI - O MONGE NEGRO

A sétima novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "O Monge Negro". 
Anton Tchekhov
Fonte: Google
Escrita por Anton Tchekhov (1860-1904), um dos grandes escritores russos, destacou-se desde cedo pela sua irrefreável vocação literária, escrevendo contos, novelas e pecas de teatro. Cursou medicina, mas foi como escritor que se realizou. Trabalhou pouco tempo em um hospital de Moscou como clínico geral e disse certa vez: "não conheço melhor prática para um escritor que alguns anos de profissão médica". Teve uma morte precoce, atacado pela tuberculose. 
O Monge Negro me surpreendeu pela objetividade da escrita e pela capacidade de prender o leitor durante toda novela. 
O protagonista Kovrin perdeu os pais muito jovem e a família dos Pessotski o acolheu.

Vizinhos dos Pessotski, Iegor Semionovitch e sua filha Tânia moravam no interior onde tinham uma propriedade com um jardim impecável (o jardim era a grande paixão de Iegor) e produziam frutas para comercializar.

A novela se desenrola a partir de uma visita de Kovrin, depois de muitos anos, à Tânia após seu convite.

Considerado um gênio pelos amigos, Kovrin era mestre pela universidade e estava sofrendo de um esgotamento que lhe arruinava os nervos. Assim, o convite de Tânia veio em boa hora.

Mas e  o Monge Negro? Kovrin conhecia uma lenda que dizia que há uns mil anos, um monge, vestido de negro, aparecia em algum lugar dos desertos da Siria ou da Arábia e também era visto na África, Espanha e em outros lugares diversos.

Kovrin contou esta história para Tânia, pois o prazo de mil anos estava terminando, que de certa forma fez pouco caso da lenda. Neste dia, Kovrin saiu a caminhar pelos campos e surpreendentemente avista no horizonte uma nuvem negra, que revela a figura do lendário Monge Negro.

A miragem, fruto de sua imaginação, passa a frequentar seu cotidiano, aconselhando-o.

Bom, a partir daí a história toma um rumo incrível de loucura, de conflitos, de dilema que leva o intelectual Kovrin a se debater em ser feliz ou satisfazer o senso comum da família e da sociedade.

A história toma um caminho de alucinação do nosso protagonista levando a conflitos intensos e perigosos, por causa do Monge Negro.

Uma das passagens marcantes da novela é de um diálogo entre Kovrin e o Monge. Disse o Monge Negro: "E quem lhe disse que os homens de gênio, respeitados pelo mundo inteiro não tiveram visões? Diz a ciência de hoje que o gênio está muito próximo da loucura. Creia-me as pessoas saudáveis e normais, são vulgares: o rebanho."

Bem, posso lhes dizer que achei a novela INCRÍVEL e que traz uma reflexão profunda sobre genialidade e loucura.

Além do protagonista Kovrin, considerado gênio, Tchekhov também manifesta sua genialidade em conduzir o leitor freneticamente para o final da novela.

Diria, mais uma vez: novela imperdível.

Professor Mario Mello


domingo, 1 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LV - A ESPANHOLA INGLESA

 A sexta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "A Espanhola Inglesa". 

Novelas Imortais

Escrita pelo mesmo autor de "Dom Quixote De La Mancha", o espanhol Miguel de Cervantes(1547 -1616),"A Espanhola Inglesa" é uma novela cheia de passagens surpreendentes e em certo ponto muito triste.
Miguel de Cervantes 

Miguel de Cervantes teve uma vida muito conturbada. Participou de guerras como soldado alistado. Foi preso por muitos anos e esteve a beira da morte pelo menos em duas oportunidades.

As aventuras vividas por Cervantes constituíram uma fonte substancial de inspiração para várias de suas histórias, inclusive esta sensacional novela, "A Espanhola Inglesa". 
Uma novela cheia de aventuras, desventuras e peripécias, muito semelhante à vida do autor.
A novela começa com uma parte muito triste (como pai de menina, que sou, fiquei muito impactado com o começo da novela). Em uma batalha na cidade de Cádis, na Espanha, os ingleses foram vitoriosos e, entre outras coisas, o comandante da esquadra inglesa, Clotaldo, raptou uma linda menina de 7 anos e levou-a junto à Inglaterra.
Fiquei imaginando a tristeza dos pais da pequena e bela Isabela, raptada cruelmente pelo comandante Clotaldo.

Chegando na Inglaterra Isabela teve uma vida como se fosse filha do casal Clotaldo e Catalina. Eles lhe ensinaram todas as prendas que uma donzela deve saber, além de ler e escrever. Com isso aos poucos Isabela foi esquecendo seus pais, porém esses estavam em completa desgraça, na Espanha.
Ela foi criada junto com o filho legítimo do casal, chamado Ricaredo que não demorou para se apaixonar por Isabela. 

A beleza e a formosura de Isabela era tanta que logo chegou ao conhecimento da Rainha, que imediatamente quis conhece-la. 

Conhecendo Isabela, a Rainha exigiu que ela fosse morar no castelo como sua dama de companhia. No castelo Isabela era tratada por todos como uma princesa. Querida, meiga e afetuosa, suas qualidades logo foram se espalhando pelo reino e acabou chegando aos ouvidos dos pais, na Espanha.



Desconfiados de que pudesse ser sua filha, partiram para a Inglaterra para tentar encontrar a menina.
Quando a Rainha soube da história, imediatamente acolheu os pais de Isabela e a história toma um rumo inesperado.
Quando li isto, me deu um alívio pensando na felicidade dos pais de reencontrarem sua amada filha após muitos anos de sofrimento.

Bom, o desdobramento da história é surpreendente. Tem história de amor, de religião e de gratidão.

Esta poderia ser mais uma singela história de amor. Mas Cervantes, sempre genial arrasta o destino dos personagens por incríveis e fascinantes aventuras.

É uma novela IMPERDÍVEL.

E o final??? Ahhh o final é cheio de reviravoltas!!

Professor Mario Mello

sábado, 31 de outubro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LIV - UM CORAÇÃO SINGELO

 A quinta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Um Coração Singelo".

Novelas Imortais

Gustave Flaubert
Escrita pelo mesmo autor de "Madame Bovary", o francês Gustave Flaubert (1821-1880), traz nesta novela a singeleza de uma mulher chamada Felicidade que dedica sua vida, com vocação, para cuidar do próximo. 

Felicidade, muito jovem, perdeu os pais. Sozinha foi adotada por um fazendeiro que a dispensou acusada de um furto que não cometera.

Depois de servir a outro fazendeiro por um tempo, Felicidade foi para Paris e foi trabalhar, como criada, com a Sra. Aubain. 

Viúva e da alta burguesia francesa, a Sra. Aubain despertava inveja nas demais senhoras da burguesia parisiense, por ter ao seu lado uma fiel criada como Felicidade.

Felicidade só tinha bondade em sua alma e servia a Sra. Aubain com uma fidelidade invejável.

A Sra. Aubain não era de natureza expansiva e ficou ainda mais recolhida com o falecimento de sua única neta, a pequena Virgínia. Felicidade sofria tanto ou mais com a perda de Virgínia e com a tristeza da Sra. Aubain. 

Um dia, depois de muitos anos, a Sra. Aubain, sempre indiferente, deu um abraço carinhoso em Felicidade. Este abraço, só fez aumentar a bondade em seu coração. Era uma nova época entre patroa e criada.

Na casa também vivia um personagem muito especial: o papagaio Lulu. Felicidade se apegou tanto ao Lulu, que chegava a ser comovente.

Um dia a Sra. Aubain morreu e Felicidade se viu abandonada novamente. O filho da Sra. Aubain colocou a casa onde a mãe morava com a criada, à venda. Felicidade se viu depois de tantos anos e tanta dedicação e bondade com a Sra. Aubain, literalmente na rua.

Sem nenhum bem material, pois nunca acumulara nada, o sofrimento de Felicidade parece ter retornado à sua infância.

Óbvio que não vou contar o final, um pouco doloroso, mas muito especial.

Felicidade era muito religiosa e sua bondade era reconhecida por todos que a conheciam.

O autor Flaubert nos traz uma novela simples, mas ao mesmo tempo profunda em sentimentos.

Não deixe de ler, você irá se emocionar com "Felicidade".

Professor Mario Mello


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LIII - BARTLEBY, O ESCRITURÁRIO

 A quarta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "Bartleby, o escriturário". 

Novelas Imortais

Escrita pelo americano Herman Melville (1819-1891), a novela deixa o leitor sem nenhuma certeza para definir o protagonista Bartleby. Melville, autor de "Moby Dick", sua obra mais conhecida mundialmente, traz nesta novela uma incrível história que deixa o leitor apreensivo com o comportamento de Bartleby. 

Herman Melville

A novela é uma história que se passa em Nova York e trata de um escriturário, Bartleby, contratado por um advogado, consultor de justiça, cuja atividade era de escrever (a mão) os documentos relativos ao trabalho do escritório.

Toda a narração da história é feita pelo próprio consultor, que vai levando o leitor à irritação com as atitudes de Bartleby.

Digo para vocês, meus leitores, que a irritação é grande, porém divertida com o excêntrico Bartleby.

Como ela fora contratado para ser escrivão, toda e qualquer atividade diferente desta, ele se negava a fazer. O escritório tinha mais dois funcionários que foram ficando indignados com Bartleby. Qualquer atividade que era solicitada a Bartleby (até mesmo buscar um papel em outra mesa) era rechaçada por nosso protagonista com a seguinte frase: "preferiria não fazê-lo", e não fazia.

Bartleby foi se tornando insuportável, porém seu chefe ficava com pena e tolerava todas as negativas de fazer alguma coisa que não fosse copiar as sentenças do escritório.

Porém a situação chegou ao limite e o advogado decide demitir Bartleby. A partir daqui a novela tem acentuadas e absurdas passagens fantásticas.

O comportamento excêntrico e depressivo de Bartleby ultrapassa todas as questões de tolerância (inclusive de nós leitores) dos colegas de escritório e principalmente do advogado.

Bom, para não contar mais da novela e dar um pequeno spoiler do desfecho, o advogado decide mudar de endereço com seu escritório, pois não conseguia se livrar de Bartleby.

Enfim, tudo, mas tudo mesmo que era pedido a Bartleby, a resposta era a mesma: 

"preferia não fazê-lo"

Assim, como escrevi no início, é uma novela "irritante", mas imperdível.

Aliás, com grandioso final.

Professor Mario Mello

O LIVRO SUA MAJESTADE LII - O HOMEM DA AREIA

 A terceira novela da coleção "Novelas Imortais", trata-se de uma novela mórbida, aterrorizante e levada até as obscuras fronteiras da loucura assassina.

Novelas Imortais 

Esta é a novela chamada "O Homem da Areia" do escritor alemão E. T. A. Hoffmann. 

Hofmann (1766-1822) era tão fã de Mozart, que incorporou ao seu nome Amadeus. Assim, passou a chamar-se de Ernest Theodor Amadeus Hoffmann. 

Criado por um tio a partir dos três anos de idade, em virtude da separação dos pais, foi sempre infeliz, pois o tio não concordava com seu comportamento sonhador. Mas, com histórias de mistério e terror, tornou-se um dos mais conhecidos e aclamados novelistas alemães. 

A novela se desenvolve com o protagonista Natanael, que como muitos leitores tiveram na infância sua versão do "homem de areia", criada pelos pais, com o objetivo de assustar os filhos que não queriam dormir.

Porém, Natanael foi assustado que o homem jogava areia nos olhos das crianças, para depois arrancá-los e comê-los.

Sua mãe o assustava e Natanael via esse monstro na figura de Coppelius, um amigo de seu pai que frequentava sua casa de maneira suspeita. Um dia Natanael tomou coragem e espiou seu pai e Coppelius numa espécie de magia negra. Até que esses rituais culminaram com a morte de seu pai.

Anos mais tarde Natanael se vê amedrontado por um vendedor de lunetas chamado Coppola e todo terror volta a arrepiar Natanael.

Natanael foi estudar em outra cidade e conheceu um professor que tinha uma filha chamada Olímpia e, imediatamente se apaixonou por ela, a despeito de ter deixado Clara, sua noiva, em sua cidade.

Aí começa a loucura aterrorizante da novela e de final surpreendente.

Natanael enlouquecido por Olímpia, não percebeu que ela era...... (não dá para contar).

O vendedor de lunetas Coppola o persegue e ele só encontra amparo na doce e querida Clara. 

O professor, sua filha Olímpia, Coppola (será que é o homem da areia?) e Clara aterrorizam a mente e o coração de Natanael até o surpreendente desfecho final. Natanael com sua alma dilacerada se consome em infelicidade e desgraça.

Como diz no livro: o leitor que se prepare, pois é hora de admitir o fantástico.

É uma novela imperdível.

Professor Mario Mello

O LIVRO SUA MAJESTADE LI - MARGOT

 Escrevi num post anterior sobre as 10 novelas quem o escritor Fernando Sabino reuniu numa coleção chamada "Novelas Imortais". 

Novelas Imortais

Mas afinal, qual a diferença entre novela e romance? 

Com uma explicação simples, a novela se diferencia do romance, pela extensão do texto. 

Enquanto no romance o texto é maior, ocorre uma ambientação social e psicológica que configura o universo vivido pelos personagens.

Na novela, o texto é mais curto, onde predomina o evento, ou seja, a história que é contada com poucos personagens e mais direta.

Já escrevi sobre "A Fera na Selva" e neste post escrevo sobre a segunda novela da coleção, que se chama "Margot". 

O escritor, poeta e novelista francês, Alfred de Musset (1810-1857), considerado o mais clássico dos românticos e o mais romântico dos clássicos, traz em sua novela "Margot" um intenso e inquieto sentimento de uma paixão não correspondida.

Falando assim, parece um tema comum e corriqueiro, porém Margot surpreende pela singeleza e inteligência de uma garota de 16 anos "dada" por sua família, para ser dama de companhia de uma distinta viúva, a Senhora Doradour moradora de Paris. 

A família de Margot, os Piédeleu, moradores e caseiros de uma fazenda da Senhora Doradour, tinham uma dívida de gratidão com a Senhora e não puderam dizer não quando a viúva solicitou que Margot fosse morar em Paris para ser sua dama de companhia.

A família camponesa Piédeleu era formada por oito irmãos homens e Margot como única mulher filha. A tristeza do pai de Margot quando ela partiu para Paris, dá para sentir na nossa alma, tamanha a fidelidade de escrita de Musset. Talvez nesta passagem, fica clara as diferenças sociais, culturais e de classe, vigentes na França do século XIX. Vou além: estas diferenças, talvez em menor grau, existem até hoje.

Deixada a vida de camponesa para trás, inclusive seu amigo Pierrot, Margot chegou a Paris encantada e deslumbrada com a cidade e com a mansão que iria morar. A Senhora Doradour tratou Margot como uma princesa, porém a diferença de classe seguidamente se fazia presente.

A novela fica mais intensa quando Margot conhece o único filho, Gastão, da Senhora Doradour que era soldado, e sua guarnição era em outra cidade. Na primeira visita de Gastão à casa da mãe, Margot se apaixona, porém não há correspondência de Gastão.

Depois de um certo tempo, a Senhora Doradour resolve passar o outono em sua casa de campo, que fica há apenas 1 légua de distância da casa dos pais de Margot. Era a oportunidade de Margot rever sua família. 

Num belo dia, chegam como hóspedes da Senhora Doradour a Senhorita de Vercelles e sua mãe. A partir daí Margot vive um inferno, pois imagina que a Senhorita de Vercelles seria a noiva de Gastão. Margot é então excluída de quase todas as conversas entre a Senhora Doradour, Gastão e a Senhorita de Vercelles.

A querida, meiga e inocente Margot entra então, numa fase desesperadora e tenta o suicídio. 

A meiguice de Margot, durante toda a novela, nos prende e nos enche de alegria com seu comportamento sempre exemplar, mesmo diante de dificuldades. 

Não vou contar mais sobre a novela, pois seu enredo desde o início até a última frase é espetacular. Triste, romântica, reflexiva, esta novela é um tesouro, como Margot.

Não deixe de ler esta novela, que está entre as dez organizadas e apresentadas pelo escritor Fernando Sabino.

Margot é uma história singular e cativante.

Professor Mario Mello





quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE L - A QUEDA DA BALIVERNA

Escolhi um livro do italiano Dino Buzzati para celebrar os 50 (L em números romanos) post do meu blog, por tratar-se de um escritor que me surpreende a cada linha de suas obras. Dino Buzzati construiu uma obra rara cuja leitura fascina, emociona e ilumina o espírito. Especialmente O Deserto dos Tártaros e A Queda da Baliverna, são obras geniais e imperdíveis para quem ama a leitura.

A Queda da Baliverna, do escritor italiano Dino Buzzati (1906-1972), é uma coletânea de contos publicada em 1934.

Dino Buzzati tornou-se mundialmente conhecido pelo romance O deserto dos Tártaros (resenha já feita aqui no blog), cuja marca registrada do autor é uma atmosfera metafísica e filosófica.

Dino Buzzati. Fonte:Google
Neste livro, são 37 contos de muita genialidade, tratando de elementos como a culpa, o remorso, a responsabilidade social, o medo de cada um diante de um destino que não se explica. Enfim, são contos construídos numa linguagem direta e sem rodeios. 

Uma das características dos contos é o jogo do destino e das coincidências da vida real e do cotidiano dos personagens. Mesmo escrito no início do século XX, você se enxerga em vários personagens criados por Buzzati e sua genialidade em tratar os temas, é impressionante.

Poderia aqui, fazer uma resenha de cada um dos 37 contos. Mas, é claro que quando lemos contos, como deste livro, alguns nos chamam mais a atenção. Selecionei 3 deles para comentar.

O primeiro deles é o que dá nome ao livro: A Queda da Baliverna. 

A Baliverna era um enorme edifício um tanto lúgubre, que com consentimento das autoridades, estavam instalados coitados de desocupados e desabrigados que tiveram suas casas destruídas na guerra. Ou seja, eram um edifício em péssimas condições e muito habitado, um verdadeiro cortiço. Numa tarde, nosso protagonista estava se divertindo com alguns amigos, nos espaços livres da Baliverna, quando agarrou-se a uma grade feita de hastes enferrujadas e, puxando-a para equilibrar-se a mesma rompeu. Na sequência rompeu-se, uma viga de apoio, depois uma laje, escoras e...... o prédio todo ruiu. A partir daí tem-se o drama da situação, pois quem seria o culpado da destruição total? Só posso adiantar o seguinte: o conto é hilário e tão real que surpreende até mesmo os mais céticos. 

O segundo dos contos que separei aqui é: O cão que viu Deus.

Esse, sem dúvida, para mim é o melhor dos contos. Trata de maldade, bondade, trapaça, medo, religião e fé. Um rico padeiro de uma pequena cidade morreu e deixaria toda sua herança para o sobrinho Defendente Sapori com uma condição: que ele distribuísse todo dia 50 kg de pães para os pobres e mendigos da cidade. Sapori atende a exigência do tio, porém começa a trapacear na distribuição. Uma manhã na hora da distribuição, um cachorro aparentemente sem dono entra no meio dos pedintes, pega um pãozinho e vai embora lentamente, não como um ladrão, mas como se fosse um direito seu. Isso se repete por muitos e muitos dias. Um dia, o cão presenciou a trapaça de Sapori com os pães e a partir daí esse cão tornou-se um pesadelo para Sapori e para os outros habitantes da cidade, pois o cão, quando menos se esperava, era visto. Tornou-se um mistério, que só será desvendado no final da história.

O terceiro dos contos que mais gostei foi: Encontro com Einstein

Fonte: Google
Numa bela noite de outubro, Albert Einstein, depois de um dia de trabalho, passeava livremente e gozava da benevolência de Deus. Einstein percebeu que estava num lugar que nunca havia visto antes. Aproximou-se um homem negro, pediu que Einstein lhe pagasse uma bebida o que lhe foi negado, pediu fogo o que também ele não tinha e então o negro disse: não estou aqui por acaso. Sou o Anjo da Morte e chegou sua hora. A partir daí trava-se um brilhante diálogo, com Einstein querendo prorrogar sua morte. Aqui, Dino Buzzati revela toda sua genialidade para tratar de assuntos do destino, que não se explica.

Enfim, A Queda da Baliverna é um daqueles livros para ler antes de morrer (fazendo uma brincadeira com o conto do Einstein). 

A linguagem direta e simples de Buzzati, faz com que se tenha uma visão de compreensão muito maior com o drama que se vive diante do tempo e da morte.

Como disse, os 37 contos são ótimos e vale muito a pena ler.

Ponha este livro na sua lista de prioridades, pois não irá se arrepender.

Professor Mario Mello

terça-feira, 8 de setembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLIX - A FERA NA SELVA

Uma das principais novelas do escritor americano, naturalizado inglês, Henry James (1843-1916), "A Fera na Selva", é um dos livros mais difíceis de ler e entender, já lidos por mim.

Henry James
Mas como cheguei a este livro? Lendo "Zazie no metrô" do escritor francês Raymond Queneau, vi que este livro fazia parte de sua coleção pessoal. Daí, despertou-me a curiosidade de saber, o que um escritor consagrado como Queneau lê, e destaca em sua coleção pessoal. Assim, fui atrás de "A Fera na Selva", e não me arrependi.

Pouco lido no Brasil, o escritor Henry James tem poucos registros em sua biografia. Nunca se casou, não teve filhos, dedicou-se desde sempre à literatura, ou seja, pouca coisa aconteceu na sua vida (que se tenha registro), a não ser suas importantes obras literárias no final do século XIX. Também foi considerado uma das figuras mais participantes ao registrar o comportamento humano em dezenas de romances e novelas.

O escritor e professor Fernando Sabino (1923-2004) organizou e apresentou uma coleção de 10 novelas de autores mundiais em 1986. Coleção intitulada de "Novelas Imortais", traz autores consagrados como Henry James, E.T.A. Hoffmann, Herman Melville, entre outros. Neste post, trago comentários sobre a primeira das novelas: "A Fera na Selva". 

Fernando Sabino que traduziu esta novela para o leitor brasileiro, diz que a escolheu justamente pelo protagonista da obra, se ver as voltas com o problema de nada lhe acontecer na vida. Muito parecido com a vida real do autor da novela. 

A obra tem apenas dois personagens: John Marcher e May Bartran. O tema da novela é a relação ao longo dos anos entre um homem e uma mulher a quem nada acontece. Porém, Henry James consegue dizer o indizível ao longo da trama e nos remete a algumas reflexões importantes, sobre nada acontecer.

Reencontraram-se após alguns anos e May pergunta a John se ele se lembra o que ele tinha contado a ela. Embaraçado, John não se lembra e então começa a trama onde o egoísmo, companheirismo, cumplicidade entre outros sentimentos são descritos. 

Como disse no início, é um livro difícil, porém, recompensador.

A leitura exige rigorosa atenção, mas sempre bem recompensada. A narrativa psicológica conduz o leitor a ficar ansioso até a última palavra da última frase. 

E, fica a pergunta? O que vai acontecer na vida de John Marcher?

Pois é, dedique um pouco de seu tempo para esta leitura (apenas 100 páginas), e você será surpreendido com o desfecho.

Prepare-se psicologicamente !

Professor Mario Mello

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLVIII - CONVERSA NA SICÍLIA

 Romance do consagrado escritor italiano Elio Vittorini (1908-1966), considerado um dos mais importantes do século XX, escrito em 1937, antecipou as preocupações político-sociais italianas com o fascismo. 

Inclusive, Vittorini foi preso quando da publicação deste romance chamado conversa na Sicília.

Nascido em Siracusa, na Sicília, palco do romance, Vittorini através de seu protagonista Silvestro Ferrauto, traz o cotidiano de uma pequena cidade na ilha italiana. 

Anti-fascista militante, Vittorini foi um renovador do romance italiano e abre as portas do romance com acontecimentos históricos, na Itália do pós-guerra.

O livro é todo ilustrado, pois o autor foi acompanhado do amigo e fotógrafo Luigi Crocenzi, pela Sicília para a publicação desta edição totalmente ilustrada. São mais de 200 fotos do cotidiano de algumas cidades da Sicília. 

A história trata do protagonista Silvestro que após receber uma carta do pai, falando do aniversário de sua mãe, se dá conta que há 15 anos não visita sua cidade natal e a mãe. Morando no norte da Itália, Silvestro resolve impetuosamente que irá visitar sua mãe no interior da Sicilia. 

No livro não há propriamente personagens, mas tipos, figuras alegóricas como: o homem com-bigode e sem-bigode; o grande Lombardo, entre outros. 

A viagem feita toda de trem à Sicília traz a Silvestro inúmeras situações cômicas. Mas, sempre o traço anti-fascista aparece.

Quando chega à casa de sua mãe, nesta viagem sentimental, encontra a mãe já separada de seu pai, e percebe, então, uma figura congelada no tempo.

Nem parece que ele saiu de sua casa há 15 anos. 

Silvestro teve um irmão morto na guerra. E numa noite após um "porre" com alguns conhecidos da cidade ele parece reencontrar seu irmão e se estabelece um drama.

É um livro de diálogos cotidianos e de tratamentos frios entre Silvestro, sua mãe e alguns novos amigos de sua cidade natal.

Tem uma forte crítica ao modelo econômico italiano da época, pois os produtos rurais não tinham bons preços de comercialização, o que deixa empobrecida e sofrida a população rural.

No adeus de Silvestro à sua mãe, após passar alguns dias com ela, uma cena surpreendente, que consagra o final do livro.

Não posso, óbvio, contar para não estragar a leitura. Mas, digo-vos: a atenção fica presa até a última frase do livro.

Conversazione in Sicilia é um daqueles livros "garimpados" da literatura italiana que deve ser considerado em suas próximas leituras, pois é um romance muito interessante.

Não deixe de ler!!

Professor Mario Mello

domingo, 6 de setembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLVII - A HISTÓRIA DA EUROPA EM 24 CERVEJAS


Para quem gosta de história, sem aquele rigor acadêmico que muitas vezes deixam os fatos muito extensos e difícil de ler e entender, este livro sobre algumas passagens históricas da Europa, traz uma visão muito bem escrita sobre a participação da cerveja ao longo dos tempos.

O papel decisivo da cerveja no curso da história e como ela foi e continua sendo uma fator central para muitas culturas, o livro é uma expedição empolgante sobre os estágios da história europeia e o desenvolvimento gradual da indústria cervejeira.

Trata-se de um livro de não ficção escrito pelos autores finlandeses Mika Rissanen e Juha Tahvanainen, onde eles contam em 24 histórias a influência e a participação da cerveja ao longo dos tempos. 

O livro traz histórias muito interessantes desde a hipótese que a habilidade de transformar o grão em malte e torná-lo cerveja é o que levou ao grande uso da levedura, de forma que a cerveja fosse acompanhada à mesa por pão fermentado. Se for verdadeira esta hipótese, então a cerveja é mais velha do que o pão enquanto alimento básico humano.  

Nas 24 passagens têm incríveis histórias como a dos pilotos da RAF - Real Força Aérea do Reino Unido, que quando estavam em bases na França, na reta final da Segunda Guerra Mundial, os aviões bombardeiros (sem compartimentos da carga), tinham que ir à Inglaterra para manutenções. Mesmo sem ser autorizado pelo alto comando (mais ou menos) eram designados os pilotos mais hábeis para estas viagens, pois na volta eles traziam barris de cerveja amarrados embaixo das asas dos bombardeiros para a alegria da tropa. Era uma operação de risco, pois os barris ficavam muito próximos ao chão e qualquer "barbeiragem" dos pilotos poderia destruir a cerveja.

Outra incrível história é com o último presidente da Checoslováquia e depois o primeiro presidente da República Checa, Václav Havel. Antes de se tornar presidente, Havel, opositor ao regime comunista implantando pela União Soviética, na Checoslováquia, foi trabalhar numa cervejaria. Todos seus movimentos eram vigiados pelos comunistas, culminado assim, com sua prisão em 1979. Depois de eleito presidente da República Checa, Havel nunca abandonou seu hábitos cervejeiros. Em sua primeira visita ao EUA, ele dispensou sua segurança pessoal e foi tomar cerveja em um bar americano. Como não era conhecido, no bar conversando com as pessoas foi perguntado que trabalho ele tinha. Disse que era presidente da Checoslováquia, como não sabiam bem onde era a Checoslováquia, virou brincadeira a história e motivo para mais cervejas.

Tem ainda a comovente história do cerco a Sarajevo em 1992, capital da Bósnia, quando as tropas inimigas cortaram o fornecimento de água à cidade. A água vinda das montanhas por dutos, foi bloqueada pelo inimigos deixando Sarajevo sem água por aproximadamente 3 anos. Neste período a cidade foi abastecida pelo poço artesiano da Cervejaria Sarajevska que distribuía água através de caminhões pipa. História muito comovente sobre a guerra da Bósnia.

E assim é o livro. Histórias curiosas, algumas engraçadas, outras comoventes mas todas de leitura muito agradável e leve. 

Grandes histórias, com grandes personagens, como Martinho Lutero, Adolf Hitler, Pedro o Grande, J.R.R Tolkien (autor de Senhor dos Anéis), Louis Pasteur (com sua pasteurização), entre outros.

São retratadas histórias de cervejas centenárias, muito conhecidas por nós como a Pilsner Urquell, Guiness, Carlsberg, Heineken.

O último capítulo dos 24, faz uma sensacional abordagem da ligação cerveja e futebol. O poderio da Heineken e da InBev na Europa e nos principais campeonatos não só do continente europeu, mas também das copas mundiais.

Conta o episódio da mudança de legislação no Brasil (onde a cerveja é proibida nos estádios), pela força econômica das grandes cervejarias, quando da realização em 2014, da Copa do Mundo.

Enfim, é um excelente livro que vale muito a leitura.

Como dizem os autores: "Nos 24 capítulos, apresentamos a cerveja no contexto de culturas, ideais, mudanças sociais e econômicas em diversas eras. É uma excursão prazerosa através da história da cerveja".

Saúde!!

Professor Mario Mello


terça-feira, 18 de agosto de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLVI - O DESERTO DOS TÁRTAROS


Dino Buzzati (1906-1972) um dos maiores autores italianos do século XX, foi também jornalista do Corriere della Sera, em Milão, por mais de 40 anos.


   Publicado em 1940 pela primeira vez, "O deserto dos Tártaros", imediatamente foi reconhecido como algo novo e importante, porém demorou alguns anos para ser distribuído pelas grandes editoras.

O deserto dos Tártaros é um livro com uma uma história incrível de um jovem militar designado para servir numa fortaleza nas montanhas italianas, que já teria sido muito importante em outras épocas. 

Importante defesa militar para evitar um possível ataque dos Tártaros, a fortaleza aguarda o ataque dos Tártaros, que não aconteceu. Hoje, a fortaleza encontrava-se solitária e quase esquecida. 

 É neste cenário que nosso protagonista, o jovem, Giovanni Drogo, deixa sua cidade para se apresentar no Forte Bastiani.

Era aquele o dia esperado havia anos, pois foi promovido a oficial, e, era para ele o começo de sua verdadeira vida.

Chegando ao Forte, Drogo é recebido pelo comandante que insinua uma possível volta à cidade em poucos meses. O tempo vai passando e Drogo vai ficando no Forte. Passam-se anos e esta volta não acontece. 

Assim, Drogo vai se entregando à rigorosa disciplina militar do Forte e também à acachapante rotina diária. Além disso, o completo isolamento do mundo exterior ao Forte.

Não é sobre a vida militar que fala o livro e sim sobre a vida de todos nós. Fala da imobilidade de não fazermos nada e aceitar as coisas como são, podendo um dia sermos surpreendidos com o que a vida reserva mais pra frente.

Drogo foi um militar exemplar, cumpridor ao extremo das regras do Forte sempre a espera da invasão dos Tártaros, que nunca aconteceu. Já com 54 anos e com a Patente de Major, Drogo adoece no Forte e um profundo drama se instala em sua vida.

Aqui está, na minha visão a parte central do romance. Uma vida inteira dedicada a uma causa (proteger a Itália da invasão dos Tártaros), e um desfecho emocionante, mas ao mesmo tempo mostrando a crueldade das pessoas. Será que Drogo fez a aposta errada em sua vida?

Obviamente não vou aqui contar o final do livro, mas diria que é muito impactante emocionalmente.

Escrito há oitenta anos atrás, o livro parece endereçar-se a nós no século XXI. 

Sem dúvida, é um dos melhores livros que já li. 

Dino Buzzati consegue, genialmente, nos propor uma reflexão sobre as escolhas que fazemos durante a vida.

Não deixe de ler, é realmente um livro imperdível.

Professor Mario Mello

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLV - ZAZIE NO METRÔ

 Raymond Queneau (1903-1976) autor francês publicou "Zazie no metrô" em 1959 e ganhou fama mundial com esse incomum romance.

 

Somente na França foram vendidos mais de um milhão de exemplares, pois o romance caiu nos gosto dos franceses pela sua espontaneidade e pela vivência do dia-a-dia dos personagens.

A protagonista Zazie é deixada pela mãe, para ficar alguns dias com o tio Gabriel em Paris. Adolescente "desbocada", Zazie mostrou uma rebeldia característica da idade.

Como ela não era de Paris, seu sonho era conhecer o metrô, porém uma greve dos metroviários atrapalhou seus planos.

Queneau é dono de uma linguagem muito peculiar no livro que segundo alguns críticos, sob o ponto de vista da arquitetura literária, Zazie é um romance muito bem feito. 

No início da minha leitura, achei que tinha alguns erros de português no livro, o que imediatamente pensei: não pode ser. Tem alguma coisa. E tinha.

O autor usa termos agrupando palavras como"vagãobundar", "keketákomendoaki", "kekefoikevocêdiss" entre outras.

Romance de poucos personagens, tem uma leitura agradável e muito cotidiana com situações engraçadas e muito verdadeiras. Por exemplo, um dos personagens é um papagaio que a toda hora diz: "falar, falar, você só sabe fazer isso", pois a "tagarelice" era tanta que até o papagaio se incomodava. 

O tio Gabriel além de dançarino em uma boate gay, também fazia as vezes de guia turístico, e aí vem toda a trama que termina numa trapalhada sem fim para os personagens. A história toda, acontece em praticamente apenas um dia em Paris.

O livro além de ser bom, é bonito. As páginas são de papel Opaque de uma textura incomum. Além disso as páginas são grudadas duas a duas e no meio delas aparecem muito desenhos lindos, como da figura ao lado. Porém, para isso é preciso "desgrudar" as páginas com uma navalha ou estilete.

Muito show!!!!

Pois bem, é minha primeira leitura deste autor Raymond Queneau e digo que fiquei com uma ótima impressão pela genialidade de fazer diálogos entre os personagens, muito reais.

De diálogos, muitas vezes ásperos, possui uma linguagem direta e talvez aí, seja o grande mérito de Queneau, em Zazie.

Bem, e o final?

O final é mítico, pois se descreve em uma pergunta da mãe para Zazie e sua surpreendente resposta é em apenas uma palavra. Achei isso muito talentoso e inteligente.

Portanto, recomendo muito a leitura deste que é um dos principais romances franceses do século XX.

É muito bom!!


Professor Mario Mello










domingo, 14 de junho de 2020

A flor



                  A flor

Não importa que você seja diferente dos outros;
Não importa que os outros achem você diferente;
Não importa a cor que você seja;
Não importa como os outros enxergam você.


Importa que você se ache importante na “selva”;
Importa que você, mesmo diferente, cresça junto com os outros;
Importa que você respeite os outros;
Importa que você seja você.

Amarelo ou verde?
Muitos vão ver você como a “ovelha negra” da família;
Muitos vão ver você como aquela pessoa diferente, que quer aparecer;
Muitos vão ver você que não quer se adaptar a maioria;
Muitos vão criticar você.

Verde ou amarelo?
Muitos vão ver você com a coragem de ser diferente;
Muitos vão invejar você por conseguir ser diferente da maioria;
Muitos vão querer imitar você, por não seguir os padrões;
Muitos vão admirar você.

A flor amarela pensou, pensou, pensou….
Fez uma reverência pela vida,
Percebeu a relva, os insetos,
E disse: estou aqui.

                Mro Ketermann

sábado, 6 de junho de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE XLIV - O JEITO HARVARD DE SER FELIZ


"VOCÊ NÃO PRECISA TER SUCESSO PARA SER FELIZ, MAS PRECISA SER FELIZ PARA TER SUCESSO"

Com essa afirmação, Shawn Achor, conduz toda sua escrita no livro "O jeito Harvard de se feliz".

Professor na Universidade de Harvard e participando ativamente em experimentos, por mais de 10 anos, Shawn é um dos palestrantes mais requisitados no mundo, sobre o que ele chama de psicologia positiva.

O livro utiliza várias histórias e estudos de caso fundamentados no trabalho do autor com executivos  da Fortune 500, que é uma classificação das maiores corporações em todo mundo, medidas pela suas receitas. Ao percorrer 42 países palestrando, Shawn explica como podemos reprogramar nosso cérebro, para nos tornarmos mais positivos.
"PORQUE NINGUÉM CHEGA AO TOPO SEM ESTAR BEM"

Com afirmações, diria eu, um pouco polêmicas, o autor é contundente ao dizer que a vida toda fomos "não sutilmente ensinados" pelas escolas, pelas empresas, pelos pais, que se você se empenhar terá sucesso e só depois de ter sucesso é que poderá ser feliz.
Shawn Achor

Classificado por alguns, como um livro de autoajuda, o próprio autor se encarrega de descaracterizar este rótulo, uma vez que todos seus ensinamentos são cientificamente comprovados e testados.
O autor não se cansa de repetir este lado científico desta obra. 
Foi este "motivo" que me conquistou a ler este livro.

De leitura, as vezes um pouco repetitiva, a pretensão do livro é, segundo o autor, após coletar e analisar um enorme volume de pesquisas (isso é facilmente percebível nas referências utilizadas), isolar sete padrões específicos, funcionais e comprovados de sucesso, transformando-os em sete princípios. 
São eles:
-O benefício da felicidade;
-O ponto de apoio e a alavanca;
-O efeito Tetris;
-Encontre oportunidades na adversidade;
-O círculo do Zorro;
-A regra dos 20 segundos;
-Investimento social.

E, assim, praticando esses princípios, que são detalhadamente descritos no livro, teremos o efeito propagador e as mudanças positivas também se propagam rapidamente.

 O livro não discute apenas como ser mais feliz, mas trata de ensinar a colher os frutos de uma atitude mental mais positiva na busca da excelência seja na vida profissional como na vida pessoal.

Não sou muito fã dos livros de autoajuda, embora reconheça o valor de alguns. Especificamente neste livro (como disse antes um pouco polêmico nesta questão) fiquei convencido de que os inúmeros experimentos científicos realizados e relatados no livro dão a ele um caráter muito maior e mais assertivo.
Uma das passagens do livro que me convenceu foi:
"Você pode eliminar a depressão sem tornar a pessoa feliz. Pode curar a ansiedade sem ensinar a pessoa a ser otimista. Pode fazer uma pessoa voltar a trabalhar sem no entanto, melhorar seu desempenho profissional. 
Se você só luta para reduzir os aspectos negativos, você apenas atingirá a média e deixará passar irremediavelmente a oportunidade de superá-la.
Se nos limitarmos a estudar a média, permaneceremos meramente medianos".

Assim, caracterizado um um grande número de pesquisas na área da psicologia positiva, o livro se destaca ressaltando que quando somo positivos, o nosso cérebro se envolve mais, se expande e torna-se mais criativo e energizado.

Recomendo a leitura, pois o jeito Harvard de ser feliz, pode também ser o seu jeito de ser feliz.

Professor Mario Mello

Onde encontrar o livro: