domingo, 29 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LVII - OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

 

Romance de Erico Verissimo "Olhai os Lírios do Campo" é uma daquelas obras que deixam marcas em quem lê.

Segundo Erico Verissimo, este romance operou uma mudança considerável na sua vida. O sucesso foi tão grande que várias edições esgotaram-se muito rapidamente e a partir desta obra ele pode fazer da literatura, uma profissão. Disse Erico, certa vez:

"Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’."

Erico Verissimo - 1905-1975


Lembro bem que no meu ensino médio esta era das leituras recomendadas, porém nunca cumprida. Assim, agora resolvi rebuscar Olhai os Lírios do Campo. 

Que grata e agradável surpresa!

A expressão "olhai os lírios do campo" traz em seu significado uma mensagem de que a verdadeira felicidade está nas coisas simples. 

Obviamente que quando se fala de felicidade não estamos falando de uma ciência exata, mas sim de algo muito complexo e diverso. Muitas vezes olhar os lírios do campo, satisfaz algumas pessoas, porém inquieta outras.

 

O romance escrito em 1938 mostra toda a genialidade de Erico Verissimo descrevendo a inquietação dos dois protagonistas: os estudantes de medicina e depois médicos, Eugênio e Olívia. Amigos inseparáveis na época da faculdade, Olívia apaixonou-se secretamente por Eugênio e morando em outra cidade escrevia cartas à Eugênio que só foram conhecidas depois de sua morte.


Eugênio era um menino de família muito pobre. Pelo sofrimento de sua infância e juventude, tinha a ambição de ser rico. De certa forma consegue isso, casando com a filha de um milionário da cidade.


Pois bem, aí começam as inquietações e os conflitos. Enquanto isso Olivia (por desgosto) muda-se para outra cidade e afasta-se de Eugênio. 

Porém do último encontro dos dois Olívia fica grávida e, sem avisar Eugênio, nasce Anamaria.


Embora a narrativa do romance, em sua maior parte foca em Eugênio, mas é Olivia com seu temperamento meigo, porém vigoroso, que rouba a cena com seus desejos para o futuro da sociedade.


Esta parte do romance é para mim tão especial e forte que escrevi um recorte desta passagem em um artigo para o site administradores.com, com este link, para aqui não ficar repetitivo.

O que o romance de Erico Verissimo "Olhai os Lírios do Campo" nos diz até os dias de hoje.

Lírios no campo. Fonte: Google


O lado do médico Eugênio é bastante retratado com muitas histórias tristes dessa profissão/missão tão importante para a sociedade.


A uma certa altura da história Eugênio conhece a filha Anamaria e sua vida muda completamente.


Enfim, é uma história cheia de reflexões e dramas de uma sociedade doente. Escrito, como disse em 1938, o que Olivia desejava e previa, padece até hoje.


Só posso dizer, que fiquei encantado e embasbacado com a visão de futuro de Olivia (Erico-1938) com os dramas da sociedade que até hoje não foram minimamente resolvidos.


Confesso que tinha uma certa relutância com as "indicações/obrigações" das leituras do ensino médio, mas me rendo à genialidade de Erico Verissimo, à visão da protagonista Olivia e às inquietações do Dr. Eugênio.


Qualifico "Olhai os Lírios do Campo" como uma das principais obras que já li. 


Por fim, o romance traz nobres reflexões e lições não aprendidas pela sociedade ao longo dos anos. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano as nossas construções. 


E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo.



Professor Mario Mello







sábado, 14 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LVI - O MONGE NEGRO

A sétima novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "O Monge Negro". 
Anton Tchekhov
Fonte: Google
Escrita por Anton Tchekhov (1860-1904), um dos grandes escritores russos, destacou-se desde cedo pela sua irrefreável vocação literária, escrevendo contos, novelas e pecas de teatro. Cursou medicina, mas foi como escritor que se realizou. Trabalhou pouco tempo em um hospital de Moscou como clínico geral e disse certa vez: "não conheço melhor prática para um escritor que alguns anos de profissão médica". Teve uma morte precoce, atacado pela tuberculose. 
O Monge Negro me surpreendeu pela objetividade da escrita e pela capacidade de prender o leitor durante toda novela. 
O protagonista Kovrin perdeu os pais muito jovem e a família dos Pessotski o acolheu.

Vizinhos dos Pessotski, Iegor Semionovitch e sua filha Tânia moravam no interior onde tinham uma propriedade com um jardim impecável (o jardim era a grande paixão de Iegor) e produziam frutas para comercializar.

A novela se desenrola a partir de uma visita de Kovrin, depois de muitos anos, à Tânia após seu convite.

Considerado um gênio pelos amigos, Kovrin era mestre pela universidade e estava sofrendo de um esgotamento que lhe arruinava os nervos. Assim, o convite de Tânia veio em boa hora.

Mas e  o Monge Negro? Kovrin conhecia uma lenda que dizia que há uns mil anos, um monge, vestido de negro, aparecia em algum lugar dos desertos da Siria ou da Arábia e também era visto na África, Espanha e em outros lugares diversos.

Kovrin contou esta história para Tânia, pois o prazo de mil anos estava terminando, que de certa forma fez pouco caso da lenda. Neste dia, Kovrin saiu a caminhar pelos campos e surpreendentemente avista no horizonte uma nuvem negra, que revela a figura do lendário Monge Negro.

A miragem, fruto de sua imaginação, passa a frequentar seu cotidiano, aconselhando-o.

Bom, a partir daí a história toma um rumo incrível de loucura, de conflitos, de dilema que leva o intelectual Kovrin a se debater em ser feliz ou satisfazer o senso comum da família e da sociedade.

A história toma um caminho de alucinação do nosso protagonista levando a conflitos intensos e perigosos, por causa do Monge Negro.

Uma das passagens marcantes da novela é de um diálogo entre Kovrin e o Monge. Disse o Monge Negro: "E quem lhe disse que os homens de gênio, respeitados pelo mundo inteiro não tiveram visões? Diz a ciência de hoje que o gênio está muito próximo da loucura. Creia-me as pessoas saudáveis e normais, são vulgares: o rebanho."

Bem, posso lhes dizer que achei a novela INCRÍVEL e que traz uma reflexão profunda sobre genialidade e loucura.

Além do protagonista Kovrin, considerado gênio, Tchekhov também manifesta sua genialidade em conduzir o leitor freneticamente para o final da novela.

Diria, mais uma vez: novela imperdível.

Professor Mario Mello


domingo, 1 de novembro de 2020

O LIVRO SUA MAJESTADE LV - A ESPANHOLA INGLESA

 A sexta novela que li, das dez "Novelas Imortais", organizadas pelo escritor Fernando Sabino, chama-se "A Espanhola Inglesa". 

Novelas Imortais

Escrita pelo mesmo autor de "Dom Quixote De La Mancha", o espanhol Miguel de Cervantes(1547 -1616),"A Espanhola Inglesa" é uma novela cheia de passagens surpreendentes e em certo ponto muito triste.
Miguel de Cervantes 

Miguel de Cervantes teve uma vida muito conturbada. Participou de guerras como soldado alistado. Foi preso por muitos anos e esteve a beira da morte pelo menos em duas oportunidades.

As aventuras vividas por Cervantes constituíram uma fonte substancial de inspiração para várias de suas histórias, inclusive esta sensacional novela, "A Espanhola Inglesa". 
Uma novela cheia de aventuras, desventuras e peripécias, muito semelhante à vida do autor.
A novela começa com uma parte muito triste (como pai de menina, que sou, fiquei muito impactado com o começo da novela). Em uma batalha na cidade de Cádis, na Espanha, os ingleses foram vitoriosos e, entre outras coisas, o comandante da esquadra inglesa, Clotaldo, raptou uma linda menina de 7 anos e levou-a junto à Inglaterra.
Fiquei imaginando a tristeza dos pais da pequena e bela Isabela, raptada cruelmente pelo comandante Clotaldo.

Chegando na Inglaterra Isabela teve uma vida como se fosse filha do casal Clotaldo e Catalina. Eles lhe ensinaram todas as prendas que uma donzela deve saber, além de ler e escrever. Com isso aos poucos Isabela foi esquecendo seus pais, porém esses estavam em completa desgraça, na Espanha.
Ela foi criada junto com o filho legítimo do casal, chamado Ricaredo que não demorou para se apaixonar por Isabela. 

A beleza e a formosura de Isabela era tanta que logo chegou ao conhecimento da Rainha, que imediatamente quis conhece-la. 

Conhecendo Isabela, a Rainha exigiu que ela fosse morar no castelo como sua dama de companhia. No castelo Isabela era tratada por todos como uma princesa. Querida, meiga e afetuosa, suas qualidades logo foram se espalhando pelo reino e acabou chegando aos ouvidos dos pais, na Espanha.



Desconfiados de que pudesse ser sua filha, partiram para a Inglaterra para tentar encontrar a menina.
Quando a Rainha soube da história, imediatamente acolheu os pais de Isabela e a história toma um rumo inesperado.
Quando li isto, me deu um alívio pensando na felicidade dos pais de reencontrarem sua amada filha após muitos anos de sofrimento.

Bom, o desdobramento da história é surpreendente. Tem história de amor, de religião e de gratidão.

Esta poderia ser mais uma singela história de amor. Mas Cervantes, sempre genial arrasta o destino dos personagens por incríveis e fascinantes aventuras.

É uma novela IMPERDÍVEL.

E o final??? Ahhh o final é cheio de reviravoltas!!

Professor Mario Mello