Annie Ernaux (1940 - ) foi ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2022, pelo conjunto da sua obra.
Trago aqui, minha visão sobre o terceiro livro que leio da premiada autora."A vergonha" trata de uma parte da vida de Annie. Retrata suas lembranças de quando tinha 12 anos.
É uma história de certa forma triste, pois na França dos anos 1950, 1960, as classes sociais eram bem distintas e Annie não era de uma classe social privilegiada.
"Toda a nossa existência se tornou sinal de vergonha. O mictório que ficava no pátio, o quarto compartilhado - no qual eu dormia com meus pais, devido à falta de espaço, os tapas e palavrões da minha mãe..." Assim, é parte da narrativa de Annie sobre sua vida à época.
Eles tinham um pequeno mercado na cidade de Y na região da Normandia, porém pouco lucrativo, pois as vendas "fiado" para famílias pobres, trazia problemas de sustentabilidade para o negócio.
A passagem mais forte no livro, segundo minha interpretação, é quando a autora descreve que num domingo de junho, no começo da tarde o pai tentou matar a mãe dela. Conta Annie, que após uma discussão dos dois, a mãe gritou por socorro e quando Annie chegou, viu o pai convulsivo e ofegante com uma foice na mão aos gritos que a mataria.
Com a chegada de Annie o fato não se consumou e não tocaram mais no assunto nos dias e anos seguidos. A cena nunca mais se repetiu e o pai de Annie, morreu justamente num domingo de junho, quinze anos depois.
A Annie de hoje |
Outra passagem interessante do livro é parte onde a autora descreve a escola particular que frequentou até certo tempo. A forte influência religiosa na escola (era administrada por padres e freiras), a rigidez dos tratamentos, a segregação das alunas (mais ricas-menos ricas) até mesmo no pátio da escola. Tinha pátios diferentes para quem pagava mais pelo ensino.