sábado, 1 de junho de 2024

O LIVRO SUA MAJESTADE XCVIII - A VERGONHA

 Annie Ernaux (1940 - ) foi ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2022, pelo conjunto da sua obra.

Trago aqui, minha visão sobre o terceiro livro que leio da premiada autora.

"A vergonha" trata de uma parte da vida de Annie. Retrata suas lembranças de quando tinha 12 anos.

É uma história de certa forma triste, pois na França dos anos 1950, 1960, as classes sociais eram bem distintas e Annie não era de uma classe social privilegiada.

"Toda a nossa existência se tornou sinal de vergonha. O mictório que ficava no pátio, o quarto compartilhado - no qual eu dormia com meus pais, devido à falta de espaço, os tapas e palavrões da minha mãe..." Assim, é parte da narrativa de Annie sobre sua vida à época.

Eles tinham um pequeno mercado na cidade de Y na região da Normandia, porém pouco lucrativo, pois as vendas "fiado" para famílias pobres, trazia problemas de sustentabilidade para o negócio.

A passagem mais forte no livro, segundo minha interpretação, é quando a autora descreve que num domingo de junho, no começo da tarde o pai tentou matar a mãe dela. Conta Annie, que após uma discussão dos dois, a mãe gritou por socorro e quando Annie chegou, viu o pai convulsivo e ofegante com uma foice na mão aos gritos que a mataria.

Com a chegada de Annie o fato não se consumou e não tocaram mais no assunto nos dias e anos seguidos. A cena nunca mais se repetiu e o pai de Annie, morreu justamente num domingo de junho, quinze anos depois.

A Annie de hoje
"Era normal sentir vergonha", escreve Annie, sentimento esse que a acompanharia para o resto da vida. A vergonha é uma obra profundamente introspectiva e reveladora, onde a autora explora as complexas emoções associadas à vergonha e ao trauma pessoal.

Outra passagem interessante do livro é parte onde a autora descreve a escola particular que frequentou até certo tempo. A forte influência religiosa na escola (era administrada por padres e freiras), a rigidez dos tratamentos, a segregação das alunas (mais ricas-menos ricas) até mesmo no pátio da escola. Tinha pátios diferentes para quem pagava mais pelo ensino. 

Com uma prosa crua e direta, Annie disseca suas próprias experiências e sentimentos, oferecendo ao leitor uma visão nua e honesta de como eventos passados moldam nossa identidade e nossa compreensão do mundo.

Enfim, "A vergonha" é uma leitura que convida os leitores a refletirem sobre as suas próprias vivências de vergonha e os impactos duradouros dessas emoções. O livro é um testemunho poderoso da capacidade da literatura de iluminar aspectos íntimos e universais da experiência humana, e da coragem necessária para entender verdades pessoais.

Repito o que escrevi em outra postagem sobre os livros de Annie: é uma "jóia".

Boa leitura!

Professor Mario Mello

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